Merkel promete que vaga de atentados não afectará a sua política de asilo

A chanceler comentou pela primeira vez a sensação de insegurança na Alemanha. "Os terroristas querem obrigar-nos a perder de vista aquilo que consideramos importante", diz.

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A chanceler não visitou nenhum dos locais dos atentados deste mês. John MACDOUGALL/AFP

A pressão sobre Angela Merkel para que comentasse a onda de ataques terroristas em solo alemão, desde o passado dia 18 de Julho, forçou a chanceler a cancelar as férias e a antecipar a sua conferência de imprensa anual para esta quinta-feira, onde, ao final da manhã, falando pela primeira vez ao país depois de dez pessoas morrerem e dezenas ficarem feridas – em parte às mãos de um requerente de asilo e dois refugiados –, voltou a defender a sua polémica política de asilo.

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A pressão sobre Angela Merkel para que comentasse a onda de ataques terroristas em solo alemão, desde o passado dia 18 de Julho, forçou a chanceler a cancelar as férias e a antecipar a sua conferência de imprensa anual para esta quinta-feira, onde, ao final da manhã, falando pela primeira vez ao país depois de dez pessoas morrerem e dezenas ficarem feridas – em parte às mãos de um requerente de asilo e dois refugiados –, voltou a defender a sua polémica política de asilo.

“Os terroristas querem obrigar-nos a perder de vista aquilo que consideramos importante, romper a nossa coesão e sentido de comunidade, assim como inibir o nosso modo de vida, a nossa abertura e a nossa vontade em receber pessoas que precisam de ajuda”, afirmou Merkel, respondendo à montanha de críticas, muitas vindas da sua própria coligação, segundo as quais a política de asilo alemã é responsável pela onda de atentados deste mês.

Merkel não anunciou reformas às suas políticas de asilo ou novas medidas de segurança. Referiu-se apenas a “um sistema de alerta inicial que permita às autoridades detectar problemas nos próprios requerimentos de asilo”, mas não deu mais detalhes. Em vez disso, a chanceler admitiu que, “para além de ataques terroristas organizados, existirão novas ameaças de agressores desconhecidos pelas autoridades”. 

“Eles vêem ódio e o medo entre culturas e vêem ódio e medo entre religiões. Estamos decididamente contra isso”, disse Merkel no Bundestag, na mesma conferência de imprensa em que há apenas um ano, quando mais de um milhão de requerentes de asilo entrava na Alemanha, a chanceler estreou o chavão com que defendeu a sua política de “portas abertas” face ao crescimento dos movimentos anti-imigração e da extrema-direita: “Nós conseguimos!”.

“Ainda estou convencida de que o conseguimos fazer. É o nosso dever histórico e um desafio histórico em tempos de globalização”, disse Merkel na conferência de imprensa desta quinta-feira, comentando também as purgas na Turquia contra os supostos autores da tentativa de golpe de Estado. “Num estado constitucional – e isto é o que me preocupa e o que acompanho atentamente –”, disse, “o princípio de proporcionalidade deve ser respeitado por todos.”

Merkel foi uma figura política distante na resposta aos recentes atentados terroristas na Alemanha, que até agora parecia escapar incólume à vaga de atentados que atingiu os seus vizinhos França e Bélgica. Os atentados começaram no dia 18, quando um refugiado afegão de 17 anos atacou várias pessoas num comboio que fazia a ligação entre Treuchlingen a Wurzburg, alegadamente gritando Allahu akbar (Deus é grande). O grupo Estado Islâmico reivindicou o atentado

Dias mais tarde, na sexta-feira, um atirador alemão de ascendência iraniana matou nove pessoas num tiroteio em Munique. A polícia não encontrou até agora indícios de que este ataque tenha ligações a movimentos radicais islâmicos, como acontece com a morte de uma mulher grávida em Reutlingen, assassinada com um machete por um refugiado sírio. Mas, no domingo, um sírio a quem fora recusado asilo fez-se explodir em nome do grupo Estado Islâmico em Ansbach, ferindo 15 pessoas, algumas com gravidade.

Tudo isto contribuiu para uma palpitante sensação de insegurança no país, a que Merkel só se referiu numa curta declaração antes desta quinta-feira. A chanceler, aliás, não visitou um só local atingido pelos atentados, deixando o terreno livre para os críticos das suas políticas de asilo. “Todas as nossas previsões ficaram comprovadas: o terrorismo islamista chegou à Alemanha”, disse, na terça-feira, Horst Seehofer, líder do partido irmão de Merkel na Baviera, o CSU, e o principal opositor da sua política para os refugiados. 

Merkel desvalorizou a sua ausência nas localidades dos atentados quando questionada pelos jornalistas. “Essa é uma questão que evidentemente me coloco a mim mesma sempre que algo acontece”, disse. “O ministro do Interior esteve em Munique no dia do tiroteio. Foi tomada uma decisão em todas as ocasiões e talvez os membros do público tenham uma perspectiva diferente sobre a maneira como decidi fazer as coisas.”