Ciclovia em Matosinhos ocupa passeio quase todo e para os peões sobrou o lancil
Câmara admite que houve um erro no projecto, que previa a circulação partilhada de peões e ciclistas no passeio nascente da Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, e garante a sua correcção.
Na última terça-feira a Câmara de Matosinhos iniciou as obras de delimitação de mais uma área reservado a ciclistas, na Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, no sentido de dar continuidade ao projecto de ciclovias da Quadra Marítima. No dia seguinte, as marcações que dividem o passeio, junto à doca, numa via partilhada por peões e ciclistas, foram alvo de contestação popular por reduzirem o espaço reservado a peões a uma estreita faixa, o que reduzia a mobilidade.
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Na última terça-feira a Câmara de Matosinhos iniciou as obras de delimitação de mais uma área reservado a ciclistas, na Avenida Engenheiro Duarte Pacheco, no sentido de dar continuidade ao projecto de ciclovias da Quadra Marítima. No dia seguinte, as marcações que dividem o passeio, junto à doca, numa via partilhada por peões e ciclistas, foram alvo de contestação popular por reduzirem o espaço reservado a peões a uma estreita faixa, o que reduzia a mobilidade.
De acordo com o que foi possível apurar pelo PÚBLICO no local, o passeio que se estende pelos cerca de 1,5 quilómetros da avenida, com o nome do antigo ministro das Obras Públicas, foi dividido em duas partes por uma linha contínua. Nalgumas zonas da via, a largura da área reservada a peões, que fica na parte externa do passeio, não ultrapassa os 50 centímetros. A zona restrita a ciclistas, do lado interior, chega a ter uma largura quatro vezes maior do que a área reservada a peões.
Ao longo do passeio existem alguns pontos que são usados como zona de espera de transportes públicos, como é o caso da paragem de autocarros frente às traseiras do mercado municipal. Por não existir qualquer zona de resguardo, quem espera pelo autocarro tem que o fazer ocupando a área reservada a ciclistas. Ana Gonçalves, que todos os dias apanha o autocarro naquela paragem, diz estar surpreendida com a opção pela divisão “desigual” das duas vias. Afirma ser a favor da criação de condições para a circulação de bicicletas, desde que “não se ponha em causa a segurança e o conforto dos peões”, como acredita ser o caso desta solução.
Ivan Nascimento, ciclista que circula naquela avenida com frequência, mas pela estrada, experimentava pela primeira vez a nova ciclovia. Apesar de apoiar a delimitação de áreas reservadas a ciclistas, considera que, naquele local, faria mais sentido que a ciclovia fosse partilhada com os automóveis e não com os peões.
A circular a pé pela via reservada a ciclistas estava Jorge Silva, que diz não o poder fazer de outra forma: “Não há espaço para andar na zona para peões”. Refere ainda que a situação agrava-se no caso de alguém que circule numa cadeira de rodas ou com um carrinho de bebé, por “não caberem no espaço que foi criado”. Jorge Silva acredita que a via partilhada foi criada com boas intenções, mas que, tendo em conta o resultado, “só pode ter sido obra que teve origem num erro”, refere.
Contactado pelo PÚBLICO, o vereador dos Transportes e da Mobilidade da Câmara de Matosinhos, José Pedro Rodrigues, admite que o projecto delineado para a Avenida Engenheiro Duarte Pacheco não foi o melhor e assume o erro: “É daqueles projectos que no papel parece fazer sentido, mas na prática não resultam”, admite. Adianta ainda que, “assim que foi detectado o erro” e face “à polémica criada”, ainda na quarta-feira, “o lapso começou a ser corrigido”. De acordo com o vereador, a nova solução prevê que a linha contínua seja retirada do passeio, permanecendo apenas sinalização indicativa relativa à “coexistência ocasional entre ciclistas e peões”, sendo que a circulação de bicicletas será “preferencialmente” feita na faixa de rodagem. Para isso, o pavimento da via, onde também circulam automóveis, será marcado com sinalização de reforço, à imagem da que já existe na ponte móvel, que liga Matosinhos a Leça.
Na sequência do lapso assumido pelo vereador da Mobilidade, o presidente do PSD Matosinhos, Carlos Sousa Fernandes, reagiu e fez chegar à imprensa um comunicado, esta sexta-feira, no qual questiona quem será o responsável pelo pagamento do erro técnico, “se o autor do projecto, o vereador da Mobilidade ou os matosinhenses”. Acusa ainda José Pedro Rodrigues de incompetência e de ser o responsável por “ter onerado os contribuintes matosinhenses a pagarem duplamente o erro e a sua rectificação”. O vereador, contactado pelo PÚBLICO, escusou-se a responder à questão, adiantando apenas que todos os esclarecimentos já foram veiculados pelos canais oficiais da Câmara de Matosinhos. Acrescentou ainda que, o presidente do PSD Matosinhos, “se estiver preocupado, pode consultar os documentos da empreitada, quando a obra acabar, agora em Agosto”.
O projecto da ciclovia da Avenida Engenheiro Duarte Pacheco está a ser realizado no âmbito do alargamento da rede ciclável da Quadra Marítima de Matosinhos. De acordo com a autarquia, o investimento de cerca de 300 mil euros tem como finalidade incentivar a utilização da bicicleta e de outros meios suaves de transporte como alternativa ou complemento ao transporte público de grandes massas.