Papa: “Todas as religiões querem a paz, são os outros que querem a guerra”
Na Polónia, Francisco pediu "sabedoria e compaixão" para receber refugiados.
“O mundo está em guerra porque perdeu a paz”, afirmou o Papa Francisco esta terça-feira, um dia depois do homicídio de um padre francês às mãos de terroristas inspirados pelo autoproclamado Estado Islâmico.
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“O mundo está em guerra porque perdeu a paz”, afirmou o Papa Francisco esta terça-feira, um dia depois do homicídio de um padre francês às mãos de terroristas inspirados pelo autoproclamado Estado Islâmico.
Francisco lamentou a morte de um “santo padre” no momento em que “oferecia uma oração por toda a Igreja”. Na manhã de terça-feira, dois homens armados entraram numa igreja nos arredores de Rouen, no norte, e degolaram Jacques Hamel, um padre de 86 anos que estava a celebrar uma pequena cerimónia. Os dois homens foram abatidos e o ataque foi reivindicado pelo Estado Islâmico — que tem entre os seus alvos os locais de culto.
“Quando falo de guerra, falo de uma guerra de interesses, de dinheiro, de recursos, mas não de religiões. Todas as religiões querem a paz, são os outros que querem a guerra”, disse Francisco, a bordo do avião antes de aterrar em Cracóvia. O Papa inicia esta quarta-feira uma visita de cinco dias à Polónia, onde se estão a celebrar as Jornadas Mundiais da Juventude.
Para além da vaga de atentados de inspiração islamista, a visita de Francisco tem também como pano de fundo a crise humanitária de refugiados na Europa. O Papa tem criticado a postura de vários governos europeus que se recusam a receber refugiados — como é o caso da Polónia. Em Abril, Francisco anunciou que ia acolher no Vaticano três famílias sírias, numa tentativa de chamar a atenção para aquilo que chamou de "pior catástrofe humanitária depois da II Guerra Mundial".
Em Cracóvia, Francisco lembrou o "complexo fenómeno migratório" e apelou ao "espírito de prontidão para receber aqueles que fogem das guerras e da fome". A crise dos refugiados "exige grande sabedoria e compaixão, para que se possa ultrapassar o medo e alcançar o bem maior", acrescentou o chefe da Igreja Católica, que falou no castelo real de Wawel.
Esta semana, o porta-voz dos bispos polacos criticou o discurso político por alimentar os medos da população em relação aos refugiados, que procuram a Europa. “Infelizmente estes medos são alimentados por partidos políticos e por declarações inapropriadas feitas pelos políticos. Há um medo dos muçulmanos criado artificialmente, compreensível realmente em algumas ocasiões”, afirmou Pawel Rytel-Andrianik, em declarações ao jornal italiano La Stampa.
O Vaticano terá, porém, retirado as declarações mais críticas do bispo do seu próprio site, segundo a BBC, com o objectivo de não hostilizar o Governo polaco — um dos mais desafiantes em relação ao sistema europeu de distribuição de refugiados.
A imprensa polaca alertava nas vésperas da visita do Papa para as potenciais críticas que Francisco poderia trazer. "Haverá para nós provavelmente verdades que incomodam", escrevia o jornal católico Gosc Niedzielny. A Polónia tem uma população fortemente crente — alguns estudos indicam que 95% da população se considera católica — , contudo cerca de 13% dizem não se reverem na postura do Papa Francisco, de acordo com a Reuters.
São sobretudo os sectores ultra-católicos que se mostram contra as declarações do Papa em relação às políticas migratórias. A rádio Maryja e a cadeia de televisão Trwam, fundados pelo padre Tadeusz Rydzyk, são as principais difusoras desta visão. "A Igreja de Rydzyk encarna uma corrente há já muito tempo presente na Igreja polaca. Nos anos 1930 esta corrente caracterizava-se pelo nacionalismo, a xenofobia e o anti-semitismo", diz à Reuters o sociólogo Adam Szostkiewicz. "Tal como hoje, esta corrente é agressiva e excludente, há apenas adversários e inimigos", acrescenta.