Polícia vê "ligação evidente" entre atirador de Munique e Breivik

Ali Sonboly, 18 anos, vivia com os pais. Disparou contra jovens. A maioria das vítimas tem menos de 22 anos. Três são do Kosovo. Não há indícios de ligações do único atirador a movimentos islâmicos radicais.

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"Porquê?" É esta a pergunta que a Alemanha faz. A polícia procura pistas que dêem uma resposta REUTERS/Michael Dalder

Com grandes holofotes, a polícia de Munique ilumina uma zona do parque olímpico de Munique, onde há um cadáver no chão, coberto com um plástico. A cena é descrita assim mesmo pela edição online da revista alemã Spiegel, na manhã seguinte ao atentado de sexta-feira, cujas razões continuam por apurar.

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Com grandes holofotes, a polícia de Munique ilumina uma zona do parque olímpico de Munique, onde há um cadáver no chão, coberto com um plástico. A cena é descrita assim mesmo pela edição online da revista alemã Spiegel, na manhã seguinte ao atentado de sexta-feira, cujas razões continuam por apurar.

O corpo que ali está é de Ali Sonboly, 18 anos, com nacionalidade alemã e iraniana, e que morava com os pais num apartamento situado em Maxvorstadt, na zona norte e a poucos quilómetros de distância do centro histórico da capital bávara. Na sexta-feira, cerca das 18h30 locais (17h30 em Portugal), Ali dirigiu-se ao centro comercial Olympia e começou a disparar contra pessoas que se encontravam no local. Entre as nove vítimas mortais, sete eram adolescentes. Três eram cidadãos do Kosovo, três tinham nacionalidade turca e uma grega, segundo indicaram as autoridades dos respectivos países. 

Os pais, em estado de choque, não conseguiram ainda ajudar os investigadores. Mas depois de buscas na casa da família, o chefe da polícia de Munique, Hubertus Andrä, declarou que há “uma ligação evidente” com o norueguês de extrema-direita Anders Behring Breivik, autor do massacre de 77 pessoas em 2011. “Encontrámos elementos que mostram que ele se preocupava com questões ligadas ao ódio”, nomeadamente livros e artigos de jornais, adianta Andrä, citado pela AFP. Segundo o mesmo responsável, não foi descoberta qualquer relação com o jihadismo ou o Estado Islâmico. 

O Ministério Público informou que Ali Sonboly estava a receber tratamento psiquiátrico devido a uma depressão. Alguns jornais referem que teria criado uma conta falsa no Facebook com o nome feminino de Selina Akim, e aliciado vários jovens a irem ao centro comercial com a promessa de lhes comprar presentes.

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Um vídeo mostra um homem armado na cobertura de um parque de estacionamento, onde trocou palavras com alguém que estaria numa varanda próxima. Depois de lhe dizerem que era estrangeiro, responde: "Sou alemão, nasci cá". E terá informado que durante anos foi vítima de bullying.

Pouco passava das duas da manhã deste sábado (menos uma hora em Portugal) quando a polícia de Munique informou publicamente as suas suspeitas de que Ali seria o responsável por a Alemanha sofrer pela segunda vez em cinco dias com notícias de ataques contra pessoas em espaço público. No início da semana, segunda-feira, 18, um outro jovem atacou com um machado passageiros de um comboio, também na Baviera. Estabelecer qualquer relação entre estes dois actos é porém pura especulação.

Ali Sonboly andava na escola, perto de casa. Um vizinho da família declarou ao Bild, que “não o conhecia verdadeiramente”. “Um amigo meu era seu colega de turma e descreve-o com um rapaz calmo e calado. Reconheceu-o nos vídeos do ataque”, diz a mesma fonte, cuja identidade não é revelada por aquele jornal tablóide, o mais vendido na Alemanha. O alegado atacante não tinha cadastro criminal. Terá agido sozinho. E no final terá disparado contra si próprio.

Na primeira página da edição online do Süddeutsche Zeitung, sediado precisamente em Munique, os títulos traduzem a perplexidade com o sucedido. E deixam perceber que a cidade, o país, ainda não sabe explicar por que morreram dez pessoas, incluindo o presumível autor do atentado. “É tudo tão impensável”, declara Gabi Zöllner, natural de Colónia, mas residente há 16 anos em Munique, a este jornal. Poucos minutos depois do tiroteio mortal, Gabi saiu de casa para passear os cães. E só depois percebeu o que tinha acontecido. “Nem consigo imaginar o que se passou. Se tivesse saído dez minutos antes, teria estado no meio da confusão”, refere.

O balanço, neste momento, é desolador. Segundo a principal estação televisiva e radiofónica bávara, há dez mortos confirmados, incluindo o autor dos disparos. A maioria são jovens. “Duas raparigas e seis rapazes ou homens entre os 14 e 21 anos. Além deles, entre as vítimas mortais conta-se também “uma mulher de 45 anos”, diz a estação Bayerische Rundfunk, sediada em Munique e responsável pelo serviço público na Baviera. Além disso, há ainda 27 feridos, dos quais três em estado grave, segundo as autoridades locais.

A chanceler alemã, por seu lado, irá falar à imprensa  às 14h30 locais (13h30 em Portugal), em Berlim. O Süddeutsche Zeitung acrescenta que os responsáveis do ministério do Interior e dos serviços de segurança interna vão reunir-se duas horas antes para avaliar a situação.

Neste sábado de manhã, a polícia bávara afirmou que quatro dos 27 feridos, que incluem crianças, apresentam ferimentos de bala. Confirmou que acredita que o atirador terá agido sozinho e rejeitou qualquer ligação deste episódio ao tema dos refugiados.