Câmara de Beja sem capacidade para intervir nas rupturas da rede pública de água
As perdas de água no sistema a abastecimento rondam os 30%. Opções do passado na instalação dos ramais criaram problemas que dificilmente serão superados na próxima década.
O período estival está a revelar-se crítico no que diz respeito à capacidade de resposta da Empresa Municipal de Águas e Saneamento (EMAS) da Câmara de Beja em acudir ao aumento crescente de rupturas na rede pública de abastecimento de água. As perdas de água “rondam os 30%”, admite o vereador Manuel de Oliveira, responsável pelo pelouro do Ambiente e Serviços Urbanos.
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O período estival está a revelar-se crítico no que diz respeito à capacidade de resposta da Empresa Municipal de Águas e Saneamento (EMAS) da Câmara de Beja em acudir ao aumento crescente de rupturas na rede pública de abastecimento de água. As perdas de água “rondam os 30%”, admite o vereador Manuel de Oliveira, responsável pelo pelouro do Ambiente e Serviços Urbanos.
Há artérias na cidade de Beja onde as perdas de água são quase diárias e por vezes a ruptura acontece a poucos metros ou até centímetros de situações anteriores. Noutros casos, assiste-se a escorrências de água durante semanas sem que os serviços municipais intervenham.
O PÚBLICO questionou Manuel de Oliveira sobre as causas que poderão estar associadas a esta situação anómala. O autarca reconheceu que o número de ocorrências obriga a priorizar intervenções dada a “incapacidade operacional” dos serviços da EMAS para intervir em todas as rupturas na rede pública de água que se registam diariamente.
Há ruas que já registaram dezenas de rupturas ao longo dos últimos três meses e estas continuam. “Arranjam uma e a conduta rompe outra vez mais adiante nas horas seguintes”, assinala uma moradora na rua dos Açores. Em boa parte dos casos, o débito de água é elevado e persiste durante dias e até semanas. A frequência com que ocorre este tipo de eventos não permite uma intervenção imediata, até porque os recursos humanos e os equipamentos municipais se revelam escassos para intervir dado o número crescente de casos.
Manuel de Oliveira assume o mal-estar que esta situação lhe provoca, garantindo que os serviços da autarquia estão a trabalhar na sua máxima força. A causa das coisas está na maior parte dos casos associada a “uma herança do passado” frisando que, nalguns casos, foram tomadas decisões na instalação de ramais da rede pública de abastecimento de água que vieram a revelar-se “desadequadas”, assume o autarca.
Recentemente a autarquia investiu quase 40 mil euros na remodelação do ramal que abastece de água as moradias da rua Fernando Namora, uma urbanização que foi iniciada há cerca de 15 anos, e nas proximidades desta artéria prosseguem os trabalhos de remodelação das redes de água e de águas pluviais em cinco artérias, que implicam um investimento de 186 mil euros.
Por outro lado, subsistem canalizações no centro histórico da cidade com dezenas de anos e que não apresentam a frequência de rupturas que se observam nas zonas novas da cidade.
Rui Marreiros, vereador do PS e que foi administrador delegado da EMAS no anterior mandato autárquico (PS), lamenta que o actual executivo (CDU) “tenha abandonado o programa de intervenção na rede pública” que recebera dos seus antecessores, frisando que a dimensão dos problemas que se foram acumulando ao longo dos anos é tal, que “provavelmente não poderão ser solucionados, nos próximos dois mandatos”.
As famílias residentes nas zonas mais afectadas pela frequência de rupturas queixam-se das consequências nos esquentadores e nas máquinas de lavar roupa e loiça. Francisca Carrasco disse ao PÚBLICO que já mudou de esquentador duas vezes no prazo de meia dúzia de anos, queixando-se ainda da baixa pressão da água e dos cortes frequentes, que a obrigam a manter as torneiras abertas para purgar a água barrenta. “E depois quem paga sou eu”, protesta.
Acrescem ainda as situações em que a população é prendada com água a cheirar a terra e a mofo. O melhor exemplo de que as coisas não estão bem está na decisão da empresa Águas Públicas do Alentejo (APdA) que vai ter de realizar um investimento de quase 5 milhões de euros na remodelação da Estação de Tratamento de Água que está instalada junto à albufeira do Roxo de onde é captada a água que a população de Beja e Aljustrel consomem.
Apesar das garantias dadas pela APdA quanto aos parâmetros que suportam uma “boa qualidade” da água da rede pública, boa parte dos moradores bebe água engarrafada dadas as situações anómalas que continuam a afectar a água da rede pública de Beja.