Valquírias perdidas e Cravos desidratados…
Não pode existir complacência com pessoas como Erdogan, com ditaduras, com opressão, com Reis- Sol, com L'État c'est moi, com poderes com fisionomia absolutistas, com déspotas
A distância física afasta-nos dos flagelos que acontecem longe. Não entram pelas nossas narinas o cheiro a sangue, os nossos olhos não sentem o terror e, o nosso coração está protegido por uma linha que se chama fronteira (até então). A velocidade e realismo da informação absorve-nos, temos obrigações como cidadãos e em primeira instância como pessoas, porém, está tudo longe, não acontece na nossa rua, ou, debaixo da nossa janela.
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A distância física afasta-nos dos flagelos que acontecem longe. Não entram pelas nossas narinas o cheiro a sangue, os nossos olhos não sentem o terror e, o nosso coração está protegido por uma linha que se chama fronteira (até então). A velocidade e realismo da informação absorve-nos, temos obrigações como cidadãos e em primeira instância como pessoas, porém, está tudo longe, não acontece na nossa rua, ou, debaixo da nossa janela.
Todos vimos que um grande universo de turcos e observadores internacionais criticaram assertivamente a tentativa de golpe de estado militar. Os insurgentes, indisciplinados não obtiveram apoio expressivo da população turca que caminhava pelas ruas. Ficou tudo pela frustração da tentativa, uma tentativa que se cumpriu enquanto tal não se efetivando no cumprimento do estágio seguinte….Todos sabemos também que, se passarmos para um plano numérico de sufrágio, Erdogan ganhou democraticamente as presidenciais, logo o seu poder está legitimado pelo povo. Aterrou num país em efervescência, num clamor embrulhado em medo, acusou os golpistas, ergueu publicamente planos de depuração de elementos do exército, recusou-se a entregar o país e, reafirmou que esta minoria recebe ordens de Fethullah Gülen. Como se não bastasse, apelou ao seu povo que saísse à rua, em vez de imperar o recolher obrigatório. Uma clara medida de democracia de um líder preocupado que quer preservar a integridade do seu povo…
Todo este fétido cenário remete-nos involuntariamente para 1944, a chegada triunfal de Hitler após o fracasso da Operação Valquíria. Hitler retaliou assassinando milhares de pessoas… Quando olhamos para trás, neste preciso momento, cómodos, instalados e refastelados em 2016, sabemos que estas datas são história, que já passou. Olho para esse golpe assolada por um sentimento eivado pela bravura de Homens que pugnavam por um mundo justo, por um mundo onde nos livros escolares a II Guerra Mundial tivesse um período menor, menos mortes, menos sofrimento, menos vergonha. Cá em casa, na nossa casa, “A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista. Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma transformação revolucionária e o início de uma viragem histórica da sociedade portuguesa.” Preâmbulo da Constituição da Republica Portuguesa aprovada a 2 de Abril de 1976.
Dois exemplos que têm como base a opressão, com desfechos diferentes. A retaliação no pós golpe apenas fez nascer de forma prematura o que há muito se gerava naquele país. Várias vezes me recordo das palavras da Condoleezza Rice e da teoria da história cíclica e, neste caso, de forma trágica porque o caminho que se está a trilhar não se rege por princípio nobres. Erdogan já ordenou que 6000 pessoas fossem presas, incluindo juízes do tribunal constitucional, juízes, procuradores, demitiu 9000 polícias e 1500 funcionários no Ministério das Finanças. É defensor da pena de morte tal como a sua aplicação com efeitos retroativos para os conspiradores, suspende a Convenção Europeia dos Direitos Humanos, são publicadas fotografias humilhantes onde todos vimos o antigo comandante da força aérea com escoriações …Agora faz ainda mais sentido a ponderação de John Kerry acerca da permanência da Turquia na NATO tendo em conta das regras da democracia.
Não pode existir complacência com pessoas como Erdogan, com ditaduras, com opressão, com Reis- Sol, com L'État c'est moi, com poderes com fisionomia absolutistas, com déspotas. Desconhecendo o amanhã, não é necessário fazer futurologia para percebermos que, se abriu não uma porta mas um portão que “legitima” toda uma “limpeza” já há muito prometida pelo mesmo. Depois de todo este cenário, os últimos atentados que nos massacram as memórias, a parvoíce de Trump, o “perdão” a inocentes em Angola pelo seu presidente e, toda falta de paz e amor no mundo faz-me crer que as Valquírias andam perdidas, os Cravos desidratados, os Pombos com asas partidas, os Ramos de Oliveira a secar e, o desânimo a propagar…