Preparemo-nos que há Milhões de Festa mesmo a chegar
O festival de Barcelos tem início esta quinta-feira. Mantém-se, como nos habituou, uma celebração de música diversa, música das margens, música que acontece agora. Goat, Sun Araw, Dan Deacon ou The Bug são alguns dos destaques.
Ei-lo que chega. O Milhões de Festa em Barcelos, isto é. Cenário de festa, como o nome indica, festa global (e venha o mundo até nós), festa muito cá da terra (e caminhemos pela cidade e entreguemo-nos à taina, ou seja, à fartura da comida minhota e ao fresco do vinho verde). Ei-lo que chega. Começa esta quinta-feira e prolonga-se até domingo. Tem muito para nos dar: o voodoo intenso e misterioso dos suecos Goat, os ritmos alucinantes dos egípcios Islam Chipsy & EEK, a viagem pelo dancehall do britânico The Bug, o psicadelismo rockado dos britânicos The Heads e o psicadelismo cósmico de Sun Araw.
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Ei-lo que chega. O Milhões de Festa em Barcelos, isto é. Cenário de festa, como o nome indica, festa global (e venha o mundo até nós), festa muito cá da terra (e caminhemos pela cidade e entreguemo-nos à taina, ou seja, à fartura da comida minhota e ao fresco do vinho verde). Ei-lo que chega. Começa esta quinta-feira e prolonga-se até domingo. Tem muito para nos dar: o voodoo intenso e misterioso dos suecos Goat, os ritmos alucinantes dos egípcios Islam Chipsy & EEK, a viagem pelo dancehall do britânico The Bug, o psicadelismo rockado dos britânicos The Heads e o psicadelismo cósmico de Sun Araw.
Nasceu numa garagem no Porto em 2006, passou no ano seguinte para Braga. Em 2010, chegou a Barcelos, a cidade minhota da qual é hoje indissociável. Idealizada pela editora e promotora Lovers & Lollypops, reflectiu desde o início a identidade daquela enquanto agente e instigadora do cenário independente, com olhar amplo para todas as suas vertentes. A música das margens do rock’n’roll, o apreço pelo stoner, pelo punk e pelo metal eram matrizes fundadoras que, hoje, se expandiram em todas as direcções – electrónica, hip hop, cumbia sul-americana, pós-tudo e neo-o-que-seja: no Milhões de Festa pretende-se dar conta de um cenário musical em que as diferenças se esbatem perante o prazer melómano sem fronteiras à vista. O público sente-o e vive-o, as bandas igualmente.
Em entrevista com os Goat, que será publicada no próximo Ípsilon, a banda sueca que é um dos grandes destaques do primeiro dia do festival em laboração plena, esta sexta-feira, explicava que a sua vinda a Barcelos estava também relacionada com os elogios feitos por amigos. “Os Graveyard [banda hard-rock que passou pelo Milhões de Festa em 2011] disseram-nos que não só o local é muito agradável como se trata de um festival onde o público se preocupa realmente com a música. Um festival nunca é só isso, mas isso é importante”, assinalou o músico.
Os Goat são um dos cabeças de cartaz de um festival que não os destaca claramente – aqui não há hierarquias. Partem do space rock para criar uma experiência voodoo sem espaço geográfico definido: abraçam o mundo. Essa curiosidade e generosidade é, de resto, qualidade partilhada com o festival. Um olhar rápido para a programação de sexta-feira mostra-o claramente. Durante a tarde, as Piscinas Municipais de Barcelos, cenário emblemático do Milhões, acolhem um DJ italiano apaixonado pela música electrónica de dança sul-africana (Nan Kolé), um equatoriano que transporta a música do seu país para o século XXI (Nicola Cruz) ou uma leiriense, Surma, que é one woman band que parte da abstracção noise para criar peças atmosféricas, ou dançantes, ou ambas.
À noite, no Parque Fluvial de Barcelos, dois palcos, o Milhões e o Lovers, acolhem, para além dos Goat, o supracitado The Bug, autor daquele que terá sido o melhor concerto da edição 2015 do festival e que surge agora acompanhado por Miss Red (dia 23 repetem actuação no Musicbox, em Lisboa); a crew hip hop americana Goth Money Records, um segredo a descobrir com urgência (dia 28 têm também concerto marcado na ZDB, em Lisboa); o jazz multiforme dos ingleses Sons of Kemet, ou, porque o Milhões é um festival que gosta de promover encontros irrepetíveis, a colaboração entre os americanos Marshstepper, punks do noise, HHY, ou seja, Jonathan Saldanha, dos HHY & The Macumbas, e Varg, ou seja, o sueco Jonas Rönnberg, criador de techno denso e negro como o black metal de que tanto gosta.
O festival tem início esta quinta-feira, naquele que será o habitual dia de ambientação. Entrada gratuita (o passe para os três dias seguintes custa 60 euros, as entradas diárias 20 euros) e actividade concentrada no Palco Taina, que este ano se mudou para o interior do Parque Fluvial de Barcelos. Ali ouviremos, a partir das 19h, o minimalismo psicadélico dos 10000 Russos, os movimentos hipnóticos de Jibóia ou a festa punk sem restrições dos Aggrenation.
Sábado e domingo, mantém-se o equilíbrio desta diversidade, o jogo entre cultos consagrados e nomes a descobrir. Veremos os The Heads, instituição subterrânea do rock psicadélico britânico (sábado), e o ataque sem contemplações dos mascarados Evil Blizzard, qual banda-sonora, versão filme de terror, de um biopic de Ozzy Osborne (domingo). Nos dois últimos dias de festival, convivem Dan Deacon e El Guincho com Nidia Minaj e os Part Chimp. Ouviremos o electro chaabi de Islam Chipsy & EEK (dia 28 estará também na ZDB) e a vertigem tropicalista dos Bixiga 70; acolheremos Sun Araw, que apresentará aqui o resultado da sua residência no gnration, em Braga, e encontraremos nomes que vão fazendo o actual cenário português, como os Quelle Dead Gazelle, os Ghost Hunt, Filho da Mãe & Ricardo Martins, os Marvel Lima, que se preparam para editar o álbum de estreia, ou os Riding Pânico, a banda residente do festival, presente em todas as suas edições.
Nas tardes de sexta, sábado e domingo, a música sairá também pela cidade com as Arruadas Merrell. Guiado pelo Sol Sistema, dispositivo alimentado por energia solar e protagonizado por O Gringo Sou Eu e DJ VA, o público será conduzido desde a zona das bilheteiras, à entrada do Parque Fluvial, até locais secretos de Barcelos onde actuarão Filho da Mãe, OTROTORTO e Ich Bin N!ntendo. Para a festa ser festa, entre as actividades da tarde no Palco Taina e na piscina e o início dos concertos nocturnos, às 21h, montar-se-á um arraial no parque fluvial, cortesia de Paulo Cunha Martins e a música popular portuguesa do seu Rádio Popular.
A abertura oficial do festival será emblemática da celebração da cidade e do encontro entre músicas e gente que gosta (muito) de música que dá identidade ao Milhões de Festa. Como tem sido hábito, o primeiro concerto de todos é um épico trabalho colectivo. Quinta-feira às 18h, no Jardim das Barrocas, erguer-se-á o som do Ensemble Insano. É formado por dezenas de músicos de Barcelos, membros de bandas como Black Bombaim, Glockenwise, Killimanjaro, Peixe:Avião ou Dear Telephone. Aparecem todos logo no início. Só para nos mostrar ao que vamos.