A Comissão Europeia tem de agir perante a nomeação de Durão Barroso para o Goldman Sachs
6A Comissão Europeia deve agir. O silêncio, neste caso, não é de ouro, é sim cúmplice.
A designação de José Manuel Barroso como funcionário pago do Goldman Sachs é uma escolha extremamente provocatória. Realça, de uma forma notoriamente cínica, as relações incestuosas do poder político com os bancos e com os enormes interesses financeiros.
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A designação de José Manuel Barroso como funcionário pago do Goldman Sachs é uma escolha extremamente provocatória. Realça, de uma forma notoriamente cínica, as relações incestuosas do poder político com os bancos e com os enormes interesses financeiros.
Barroso ocupou durante dois anos o cargo de primeiro-ministro de Portugal e por dez anos foi presidente da Comissão Europeia, implementando políticas neoliberais que afectaram negativamente todo o establishment europeu. Ele foi apanhado a dormir pela crise que em 2008 varreu a Europa, e conduzindo por fim à adopção de políticas de austeridade. Barroso insistiu até ao fim na homeotapia do neoliberalismo, mesmo quando os Estados Unidos, sob a batuta da Administração Obama, conseguiram recuperar optando por um keynesianismo moderado.
O recrutamento de José Manuel Barroso pela Goldman Sachs não é surpreendente, mas é enfurecedor. Porque defronta uma grande incompatibilidade política e moral que deveria vincular por anos todos os líderes políticos que deixam de estar em funções: é inconcebível para eles passarem a fazer parte das listas de pessoal em empresas que alegadamente tiveram de controlar e escrutinar em nome do interesse público.
A este respeito, o papel das instituições europeias é, entre outros, o de dinamizar a cooperação entre a esfera privada e a esfera pública, e garantir o compromisso moral das pessoas. Apesar disso, para além do caso Barroso, temos assistido ao recrutamento de vários antigos executivos de topo de instituições europeias por bancos de investimento, especialmente aqueles que estiveram envolvidos na crise financeira de 2008 ou, recuando ainda mais tempo, em escândalos de subornos e casos de corrupção com partidos politicos noutros locais, como a Grécia, Itália e Espanha.
A União Europeia enfrenta questões relacionadas com a prestação de contas que se intensificaram ainda mais depois do falhanço massivo da zona euro na resposta à crise financeira, dos cada vez maiores escândalos de corrupção como o Lux Leaks ou os Panama Papers, que tornaram os cidadãos europeus ainda mais críticos em relação ao futuro da União. O Eurocepticismo está a fazer aumentar o apelo dos partidos de extrema direita, enchendo as pessoas de desilusão e raiva.
A Comissão Europeia deve agir. O silêncio, neste caso, não é de ouro, é sim cúmplice. Ameaça claramente a credibilidade das instituições e mesmo da própria democracia, tornando ainda mais pesados os esforços consistentes para mudar a Europa e colocar as suas políticas de volta ao caminho da justiça social.
Vice-presidente do Parlamento Europeu e deputado eleito pelo Syriza