Milhões de Festa: não há festa como esta
O Milhões de Festa volta a tomar conta de Barcelos entre 21 e 24 de Julho, com um cartaz inspirado e inspirador onde se destacam os Goat, The Bug, The Heads e Dan Deacon. Feitas as contas, são quatro dias de taina e música livre de espartilhos estilísticos e geográficos. E três dias de piscina e Instagram
Os anos passam e continua a não haver nenhum festival tão singular e recompensador como o Milhões de Festa, que este ano se realiza entre 21 e 24 de Julho. Programado pela editora e promotora Lovers & Lollypops em Barcelos desde 2010 (com edições anteriores no Porto e em Braga), distingue-se de boa parte da concorrência pela conjugação de uma programação internacional esquizóide mas criteriosa, uma relação quase simbiótica com a cidade, um ritmo e um ambiente relaxado e benigno, e preços acessíveis ao comum dos portugueses. Outros eventos poder-se-ão gabar de preencher um ou dois destes critérios, mas mais nenhum faz o poker.
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Os anos passam e continua a não haver nenhum festival tão singular e recompensador como o Milhões de Festa, que este ano se realiza entre 21 e 24 de Julho. Programado pela editora e promotora Lovers & Lollypops em Barcelos desde 2010 (com edições anteriores no Porto e em Braga), distingue-se de boa parte da concorrência pela conjugação de uma programação internacional esquizóide mas criteriosa, uma relação quase simbiótica com a cidade, um ritmo e um ambiente relaxado e benigno, e preços acessíveis ao comum dos portugueses. Outros eventos poder-se-ão gabar de preencher um ou dois destes critérios, mas mais nenhum faz o poker.
Joaquim Durães, ou Fua, fundador e responsável máximo pelo festival, descreve-o como uma “celebração honesta de música verdadeiramente excitante”. Esta exaltação começa na piscina, o espaço de concertos mais concorrido durante a tarde, tem o seu auge à noite, nos palcos Milhões e Lovers, e estende-se à cidade, extravasando as portas do Milhões de Festa, graças às novas Arruadas Merrill, cujo objectivo é substituir o Palco Taina, que em anos anteriores tinha entrada livre mas vai ser integrado pela primeira vez no recinto, enquanto “motor de aproximação à população local”.
A mudança de local do Palco Taina é uma das principais novidades. Em edições anteriores, encontrava-se a cerca de um quilómetro do centro nevrálgico do festival e era de entrada livre. Este ano, porém, está dentro do recinto. O objectivo, segundo a organização, é “optimizar a circulação entre o Taina e piscina”. Faz sentido. A distância que separava o Palco Taina da piscina era suficiente para afastar alguns interessados, que perdiam alguns concertos que queriam ver por preguiça (só está inocente disto quem nunca foi ao Milhões), e agora que os dois espaços ficam mais perto não têm desculpa para não irem tainar.
Tudo no Milhões de Festa gira à volta da música. Os concertos começam na noite de quinta-feira, 21 de Julho, no Palco Taina, onde se destaca o metalcore ensanguentado dos Eat The Turnbuckle, banda americana obcecada por "wrestling". Os outros pontos fortes do primeiro dia são o crust punk metalizado dos suecos Aggrenation, o psicadelismo pesado dos 10 000 Russos e o transe electrificado de Jibóia.
Goat: uma família na aldeia para gravar novo disco
Mas é na sexta que o festival arranca a todo o gás. Vai ouvir-se de tudo, desde o hip-hop negro do cada vez mais notável colectivo americano Goth Money Records ao jazz sem cordas infectado por ritmos africanos dos Sons of Kemet, quarteto liderado pelo saxofonista Shabaka Hutchings, de volta a Barcelos depois de ter dado um par de concertos memoráveis com outras formações em 2014. Outro regressado é The Bug, músico e produtor de electrónica britânico que encerrou o palco principal no ano passado. A sua ragga ácida será acompanhada pela voz corrosiva de Miss Red.
Quem também toca na sexta são os Goat, banda sueca de rock caleidoscópico e aberto ao mundo. “Estiveram para tocar no Milhões há uns anos, talvez 2012. Combinámos que viriam com a família e poderiam gravar um novo disco em Barcelos num alojamento rural”, conta o promotor. “Infelizmente não aconteceu na altura, mas acontece em 2016; os Goat vêm a Barcelos, com a família, para uma aldeia, com intenção de gravar um novo disco.”
O grupo de psych-rock britânico The Heads, que toca no sábado, era outro namoro antigo que a Lovers & Lollypops conseguiu finalmente facturar. “É gratificante quando passas dez anos a tentar marcar uma banda [e finalmente consegues]”, confessa Fua. “A maior parte do 'booking' é chato e normal, via e-mail e com agentes. Mas quando passas para o nível pessoal, quando ligas para a casa de pessoas que não conheces, quando falas com a família, a esposa, o marido e os filhos, quando tornas o que fazes algo pessoal desde o início, sabes que estás a fazer algo especial.” Além de The Heads, é imperativo não perder os concertos do americano Sun Araw, os egípcios Islam Chipsy & EEK e os brasileiros Bixiga 70 no sábado.
O cartaz de domingo é igualmente variado. Vão ouvir-se as rimas horrorcore (ou horror rap) virulentas de Ho99o9 e as colagens psicadélicas de El Guincho. A electrónica com défice de atenção e hiperactividade de Dan Deacon e o thrash-punk dos Oozing Wound. A batida luso-africana erguida sobre o kuduro e o tarraxo de Nídia Minaj, em representação da Príncipe Discos, e o noise-sludge-rock dos reunidos Part Chimp, que vêm a Barcelos a convite da promotora Baba Yaga's Hut. Tudo isto existe, tudo isto é Milhões de Festa.