O golpe falhado e o golpe vencedor
O contragolpe turco avança a uma velocidade tal que só podia estar já preparado. Erdogan desejava isto.
Há um ano, a 8 de Junho, o Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, viu o seu partido, o AKP, obter apenas 41% dos votos e ficar em minoria no parlamento, ao mesmo tempo que o HDP pró-curdo conseguia 13%. Isso levou-o a arriscar eleições intercalares, a 1 de Novembro de 2015, garantindo enfim uma maioria parlamentar, com 50% dos votos. Mas esse “dia de vitória” (como lhe chamou então o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu) não era suficiente. Os poderes presidenciais que Erdogan detinha não podiam ser ampliados, como ele ambicionava. Nos meses seguintes, os atentados terroristas que atingiram a Turquia (e que o mundo, com veemência, condenou) não lhe permitiram, ainda assim, reforçar os seus poderes. O golpe falhado de dia 15 veio alterar tudo isto, de forma avassaladora. Erdogan aproveitou para “varrer” com violência as estruturas do Estado: exército, tribunais, polícia, administração pública. A lista de detenções é tão elevada que é praticamente impossível não ter sido previamente feita, à espera de “oportunidade”. E não foi a oposição turca quem o disse, foi o comissário europeu Joahnnes Hahn, ao falar aos jornalistas em Bruxelas: “As listas já estavam disponíveis antes do evento, o que indica que isto foi preparado [com antecedência] para ser usado num determinado momento”. Uma hipótese que alguns analistas colocam é o golpe militar ter sido feito para evitar tais purgas, secretamente programadas. Só que, ao falhar, foi o golpe de Erdogan que venceu. Agora, ele clama pela rápida reposição da pena de morte (abolida em 2004) a pretexto de que é o povo quem a pede; depois, há-de conseguir finalmente reforçar os poderes presidenciais, finda a gigantesca purga que pôs em marcha de forma imparável. A Turquia que Erdogan molda hoje aos seus desígnios não é aquela que a União Europeia imaginava como aliada, muito menos como futuro membro. Mas é a que Erdogan há muito ambiciona, no seu projecto absolutista.
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Há um ano, a 8 de Junho, o Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, viu o seu partido, o AKP, obter apenas 41% dos votos e ficar em minoria no parlamento, ao mesmo tempo que o HDP pró-curdo conseguia 13%. Isso levou-o a arriscar eleições intercalares, a 1 de Novembro de 2015, garantindo enfim uma maioria parlamentar, com 50% dos votos. Mas esse “dia de vitória” (como lhe chamou então o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu) não era suficiente. Os poderes presidenciais que Erdogan detinha não podiam ser ampliados, como ele ambicionava. Nos meses seguintes, os atentados terroristas que atingiram a Turquia (e que o mundo, com veemência, condenou) não lhe permitiram, ainda assim, reforçar os seus poderes. O golpe falhado de dia 15 veio alterar tudo isto, de forma avassaladora. Erdogan aproveitou para “varrer” com violência as estruturas do Estado: exército, tribunais, polícia, administração pública. A lista de detenções é tão elevada que é praticamente impossível não ter sido previamente feita, à espera de “oportunidade”. E não foi a oposição turca quem o disse, foi o comissário europeu Joahnnes Hahn, ao falar aos jornalistas em Bruxelas: “As listas já estavam disponíveis antes do evento, o que indica que isto foi preparado [com antecedência] para ser usado num determinado momento”. Uma hipótese que alguns analistas colocam é o golpe militar ter sido feito para evitar tais purgas, secretamente programadas. Só que, ao falhar, foi o golpe de Erdogan que venceu. Agora, ele clama pela rápida reposição da pena de morte (abolida em 2004) a pretexto de que é o povo quem a pede; depois, há-de conseguir finalmente reforçar os poderes presidenciais, finda a gigantesca purga que pôs em marcha de forma imparável. A Turquia que Erdogan molda hoje aos seus desígnios não é aquela que a União Europeia imaginava como aliada, muito menos como futuro membro. Mas é a que Erdogan há muito ambiciona, no seu projecto absolutista.