FMI alerta para riscos na banca em Portugal e Itália

Há “problemas não resolvidos” que podem intensificar dificuldades dos bancos e ser um risco para a economia global, considera o FMI.

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A instituição dirigida por Lagarde alerta para as “turbulências persistentes nos mercados financeiros” Drew Angerer/AFP

O FMI reviu em baixa as previsões de crescimento da economia global por causa da saída do Reino Unido da União Europeia (UE) e avisa que os riscos já identificados no sistema bancário europeu “podem ser acentuados ainda mais pelo ‘Brexit’”, em particular as dificuldades nos bancos portugueses e italianos. 

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O FMI reviu em baixa as previsões de crescimento da economia global por causa da saída do Reino Unido da União Europeia (UE) e avisa que os riscos já identificados no sistema bancário europeu “podem ser acentuados ainda mais pelo ‘Brexit’”, em particular as dificuldades nos bancos portugueses e italianos. 

“O choque do 'Brexit' surge no meio de problemas não resolvidos no sistema bancário europeu, em particular nos bancos italianos e portugueses, como identificado no Relatório de Estabilidade Financeira Global”, vinca a instituição liderada por Christine Lagarde, na actualização das Perspectivas Económicas Mundiaisdivulgadas nesta terça-feira.

O FMI considera que “os atrasos” na resolução dos problemas no sistema financeiro durante a crise podem ser exacerbados perante a incerteza na conjuntura europeia e coloca mesmo este problema entre os principais riscos à economia global. “As turbulências persistentes nos mercados financeiros e o aumento global de aversão ao risco podem ter graves repercussões macroeconómicas, nomeadamente a intensificação das dificuldades dos bancos, particularmente nas economias vulneráveis, acentua.

O alerta é feito em relação a dois países que procuram uma solução para resolver o problema das imparidades e do crédito malparado: Itália, com a concessão de garantias públicas sobre os activos problemáticos que os bancos tentam vender em pacotes; Portugal, onde ao mesmo tempo em que se prepara para recapitalizar a Caixa Geral de Depósitos (CGD) se discute a possibilidade, já admitida pelo primeiro-ministro, de criar um veículo de resolução do crédito malparado. O Ministério das Finanças promete que haverá uma solução para a CGD no “curto prazo”, mas não se comprometeu com uma data.

A referência surge a poucos dias de serem conhecidos, a 29 de Julho, os resultados dos testes de stress aos bancos europeus. Desta vez não há instituição financeiras portuguesas sujeitas aos exercícios da Autoridade Bancária Europeia (EBA), mas entre os 53 bancos europeus testados há cinco grupos italianos, entre eles o Banco Monte dei Paschi di Siena, o banco mais antigo do mundo, em relação ao qual se antecipam novas necessidades de reforço do capital.

O relatório refere Portugal e Itália, mas nada diz explicitamente sobre o caso alemão, em relação ao qual o FMI se referiu recentemente ao alertar que o Deutsche Bank é a nível global “o maior contribuinte líquido para riscos sistémicos”, seguido do HSBC e do Credit Suisse. As falhas nos planos de capital e gestão de risco fizeram com que a subsidiária do Deutsche Bank nos Estados Unidos, assim como a do Santander, chumbasse este ano nos testes de stress da Reserva Federal americana (Fed).

As “divisões políticas”

Do “Brexit” à banca, são vários os riscos que o FMI diz poderem prejudicar a recuperação mundial – as “divisões políticas” nas economias desenvolvidas por comprometerem a resposta aos problemas estruturais, nomeadamente à crise dos refugados, a “ameaça” de uma viragem proteccionista nas políticas económicas dos países, as tensões geopolíticas e o terrorismo.

O FMI conta que o Brexit” tenha impacto na evolução da economia mundial, tendo revisto em baixa as suas previsões para este ano e o próximo (um crescimento de 3,1% este ano, seguido de 3,4% em 2017, menos 0,1 em cada um dos anos face às projecções de Abril).

Para a zona euro, o FMI está a prever que a economia cresça este ano 1,6%, mais do que projectava em Abril, por causa do desempenho da primeira metade do ano (nos primeiros três meses, vinca do FMI, o crescimento foi melhor do que o esperado, com uma aceleração do investimento e uma recuperação da procura interna).

Mas com a incerteza associada à saída do Reino Unido da União Europeia, a sua segunda maior economia, as perspectivas em relação a 2017 deterioraram-se. Justifica o FMI: “À luz do impacto potencial do aumento da incerteza na confiança dos consumidores e das empresas (e as eventuais tensões bancárias), as previsões de crescimento para 2017 foram revistas em baixa”, passando para 1,4%.

Reino Unido abranda

A trajectória do Reino Unido já era de abrandamento este ano – e a desaceleração agrava-se – mas a perspectiva de recuperação que se previa ainda em Abril para 2017 agora já não existe.

Depois de um crescimento de 2,2% em 2015, a economia britânica deverá crescer 1,7%, em vez dos 1,9% esperados em Abril. Em relação ao próximo ano, o corte nas previsões é bem mais pronunciado, prevendo-se que a economia cresça 1,3%, quando anteriormente se apontava para uma aceleração até aos 2,2%. A saída do Reino Unido da UE, diz, veio acentuar “fortemente a incerteza económica, política e institucional”.

As projecções foram feitas num cenário “benigno” em que haverá uma “diminuição progressiva da incerteza, com um acordo entre a UE e o Reino Unido sem um grande aumento das barreiras alfandegárias, sem perturbações maiores nos mercados financeiros e consequências políticas limitadas”. Mas, avisa o FMI, não é de excluir um agravamento da situação, algo que considera, aliás, uma forte possibilidade.

Fora da Europa, o impacto do “Brexit” é mais mitigado, seja para os Estados Unidos ou a China, considera o FMI. O crescimento dos Estados Unidos foi revisto em baixa para este ano, passando dos 2,4% referidos em Abril para 2,2%. Para o ano seguinte a previsão mantém-se igual, com uma aceleração para 2,5%. O crescimento da China deverá ser de 6,6% este ano (menos 0,1 face a Abril) e de 6,2% no próximo.