O futuro (incerto) da CPLP
A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) faz 20 anos, mas está longe de demonstrar a pujança que a idade faria pressupor. Pelo contrário, esta organização internacional está em franco declínio e precisa urgentemente de nova injecção de energia e de ideias para se revitalizar. Apesar do natural optimismo de Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros (pág 10), basta ler os depoimentos de jovens dos vários países (págs 6 a 9) para se perceber a decepção e o distanciamento com que a esmagadora maioria encara o presente e o futuro de uma comunidade cuja existência parece dizer cada vez menos aos milhões de cidadãos que dela fazem parte. Em vez de política, a mensagem destes jovens situa-se na exigência de políticas de cooperação capazes de ajudar a atenuar as assimetrias entre os vários estádios de desenvolvimento social e económico dos países, única via para dar corpo ao sentimento de solidariedade que é urgente solidificar e sem o qual será praticamente impossível manter a dignidade e a influência da CPLP.
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A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) faz 20 anos, mas está longe de demonstrar a pujança que a idade faria pressupor. Pelo contrário, esta organização internacional está em franco declínio e precisa urgentemente de nova injecção de energia e de ideias para se revitalizar. Apesar do natural optimismo de Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros (pág 10), basta ler os depoimentos de jovens dos vários países (págs 6 a 9) para se perceber a decepção e o distanciamento com que a esmagadora maioria encara o presente e o futuro de uma comunidade cuja existência parece dizer cada vez menos aos milhões de cidadãos que dela fazem parte. Em vez de política, a mensagem destes jovens situa-se na exigência de políticas de cooperação capazes de ajudar a atenuar as assimetrias entre os vários estádios de desenvolvimento social e económico dos países, única via para dar corpo ao sentimento de solidariedade que é urgente solidificar e sem o qual será praticamente impossível manter a dignidade e a influência da CPLP.
Não vai ser fácil corresponder à urgência deste apelo. Desde logo pela “grande heterogeneidade ideológica e de dimensão” que já tornou “difícil encontrar um denominador comum” entre os vários países, como bem sublinhou Francisco Seixas da Costa, ex-embaixador de Portugal em Brasília e ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus. Depois porque “os países tendem a organizar as suas políticas externas na base das suas prioridades”, sendo que as de Portugal não coincidem com as de Angola, nem as do Brasil com as de Moçambique e por aí adiante, na observação oportuna do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Martins da Cruz. Finalmente, a heterogeneidade dos níveis de desenvolvimento, as consequências da globalização e a crise que atingiu vários países, entre os quais Portugal, fragilizam a capacidade de intervenção e impõem estratégias nacionais mais egoístas.
Dito isto, a sobrevivência da CPLP depende de um golpe de asa e talvez a chave da questão não esteja tanto em promover fugas para a frente abrindo portas a novos membros, sobretudo quando não partilham os valores democráticos e a defesa dos direitos humanos. Há, no entanto, uma nova realidade por onde pode passar uma parte importante do futuro desta organização de falantes da língua portuguesa: as comunidades lusófonas em países fora da CPLP. Porque são alguns milhões, porque já há dinâmicas comuns no terreno, sobretudo em casos como a França e os EUA, e porque vêm ganhando peso económico, social e político. Veremos se lhes atribuem o papel devido.