Atacante de Nice fez dois ensaios com o camião no Passeio dos Ingleses
Nas preparações para o ataque que matou 84 pessoas, Mohamed Lahouaiej Bouhlel estudou o itinerário e conduziu pela marginal da cidade, revelaram imagens de videovigilância.
O homem que matou mais de 80 pessoas em Nice, ao conduzir um camião frigorífico contra a multidão reunida no Passeio dos Ingleses para assistir ao fogo-de-artifício comemorativo do Dia da Bastilha, esteve a estudar o itinerário, e chegou a fazer ensaios de preparação do ataque na terça e na quarta-feira, revelaram este domingo os jornais franceses. Além disso, também terá comprado uma pistola de calibre 7.65 e encomendado outro armamento, sugerem mensagens recuperadas do seu telefone pelos investigadores.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O homem que matou mais de 80 pessoas em Nice, ao conduzir um camião frigorífico contra a multidão reunida no Passeio dos Ingleses para assistir ao fogo-de-artifício comemorativo do Dia da Bastilha, esteve a estudar o itinerário, e chegou a fazer ensaios de preparação do ataque na terça e na quarta-feira, revelaram este domingo os jornais franceses. Além disso, também terá comprado uma pistola de calibre 7.65 e encomendado outro armamento, sugerem mensagens recuperadas do seu telefone pelos investigadores.
De acordo com a rádio Europe 1, imagens de videovigilância analisadas pela polícia revelaram que Mohamed Lahouaiej Bouhlel dirigiu o mesmo camião pela estrada marginal de Nice, várias vezes, nos dois dias anteriores ao ataque, presumivelmente para avaliar o melhor local e a melhor forma para executar o seu plano. Na noite de quinta-feira, o motorista de 31 anos acelerou contra a multidão, matando 84 pessoas, das quais dez eram crianças, e ferindo mais de 200. Nos hospitais da cidade permanecem internadas 85 pessoas: 25 estão na unidade de cuidados intensivos e 18 entre a vida e a morte.
Os investigadores também já determinaram que pouco tempo antes do ataque, Mohamed Lahouaiej Bouhlel vendeu o carro e levantou todo o dinheiro que tinha na conta bancária, disse o canal iTele. A agência France Press cita fontes ligadas ao inquérito, segundo as quais entre as últimas mensagens enviadas do seu telemóvel estava uma em que se felicitava por ter comprado uma pistola e inquiria sobre o fornecimento de outras armas que teria encomendado. Os investigadores não adiantaram quem foi o destinatário da mensagem. Além dos SMS, foi recuperada uma fotografia selfie tirada ao volante do camião frigorífico na véspera do ataque, e que terá sido enviada para vários números.
No sábado, o atentado de Nice foi reivindicado pelo Estado Islâmico, que descreveu o condutor do camião como “um soldado” e a sua acção como uma resposta aos apelos para atingir os países que fazem parte da coligação que combate o grupo extremista na Síria e no Iraque.
Segundo o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, o retrato que está a ser coligido pela polícia mostra um homem que se terá radicalizado “muito rapidamente”. A AFP diz que nas entrevistas já realizadas, os seus conhecidos mencionam muito mais a sua apetência pela musculação do que qualquer prática religiosa ou fervor ideológico. “Não fazia as orações, não respeitava o jejum, bebia álcool e creio que se drogava”, contou o pai, contactado pela agência francesa na Tunísia.
Depois de identificar Mohamed Lahouaiej Bouhlel, um imigrante de origem tunisina e nacionalidade francesa, como o autor do ataque, as autoridades admitiram que se tratava de um desconhecido para os serviços de informação e vigilância que lidam com a ameaça terrorista. Bouhlel tinha várias passagens pela polícia e pela justiça no seu cadastro, entre 2010 e 2016, por crimes de roubo, vandalismo e ameaças à integridade física.
Este domingo, as autoridades francesas detiveram mais duas pessoas – um homem e uma mulher – consideradas de “interesse” para o inquérito pela sua associação ao autor do ataque. Ouvida pelos investigadores na sexta-feira, a ex-mulher de Mohamed Lahouaiej Bouhlel, que apresentou uma queixa por violência doméstica contra ele, foi libertada esta manhã: não é suspeita e apenas foi inquirida para fornecer informações sobre o condutor. Sob a custódia da polícia permanecem ainda outras quatro pessoas, nenhuma das quais foi ainda formalmente acusada.
As autoridades terminaram a recolha de provas no local do crime, e reabriram esta manhã o trecho do Passeio dos Ingleses que estava vedado ao público desde a noite de quinta-feira. Muitas pessoas aproveitaram a oportunidade para deixar ramos de flores e outros tributos às vítimas do ataque, no asfalto onde ainda estavam as marcas da tragédia, ou junto das esplanadas que voltaram a funcionar.
O ministro do Interior fez um apelo aos jovens franceses para que considerem a possibilidade de se alistarem como voluntários e reservistas junto dos serviços de segurança. “Queria pedir a todos os patriotas que se juntem à nossa reserva operacional”, disse Cazeneuve, acrescentando que essa força conta actualmente com 12 mil voluntários com idades entre os 17 e os 30 anos.