Sem surpresas, Elton John foi o verdadeiro Sir das marés
Na primeira noite de Marés Vivas, a praia do Cabedelo encheu para ver Elton John a revisitar mais de 50 anos de carreira em duas horas de concerto. O público chegou a custo, mas fez-se fila para DAMA
A pontualidade, já se sabe, diz-se britânica. E às 21h, como combinado, o nome maior do cartaz desta edição do festival Meo Marés Vivas, Elton John, entrava em palco ao som de The bitch is back (1974). O britânico, de 69 anos, surge com a habitual postura reguila, adornada com a casaca negra com apliques vermelhos e brilhantes, sapatos vermelhos a condizer.
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A pontualidade, já se sabe, diz-se britânica. E às 21h, como combinado, o nome maior do cartaz desta edição do festival Meo Marés Vivas, Elton John, entrava em palco ao som de The bitch is back (1974). O britânico, de 69 anos, surge com a habitual postura reguila, adornada com a casaca negra com apliques vermelhos e brilhantes, sapatos vermelhos a condizer.
Perante uma plateia equilibrada entre graúdos e miúdos (muitos à espera de D.A.M.A.), Elton John saúda as quase 30 mil pessoas que o esperam. "Boa noite, Porto. É a primeira vez que aqui estou. Obrigado por terem comprado o bilhete. Esperamos que gostem." Entre o público está David, que o esperava desde as 15h. "Este é o meu primeiro festival. Sou fã dele desde bastante pequeno, porque a minha irmã me mostrou algumas músicas", conta o jovem de 19 anos ao PÚBLICO.
Revisitando ao longo de duas horas boa parte dos seus grandes êxitos, com destaque para os álbuns da década de 70, o britânico não teve apenas a voz impecável do costume. É a empatia que estabelece com o público desde o primeiro minuto que o faz vibrar agora ao som de Bennie and the jets, lançada também na década de 70. Aliás, seis dos 22 temas apresentados são do álbum Goodbye Yellow Brick Road, lançado em 1973.
Seis anos depois da sua última passagem por Portugal, o britânico regressa para promover o novo disco, Wonderful Crazy Night. Looking up e A good heart fazem parte desse repertório e acalmam a plateia, pouco familiarizada com os temas.
Mas, com Rocket man, Elton John devolve o entusiasmo ao público, na forma como domina as teclas do seu piano. Acompanhado por um grupo de cinco músicos, com destaque para o baterista Nigel Olsson (muito aplaudido no final), que o acompanha há quatro décadas, o britânico levanta-se para envergar uma bandeira nacional, porque convém não esquecer que os portugueses são os "champions" da Europa. Isso ninguém lhes pode tirar, assim como o momento de Your song, ansiada pela audiência, que respondeu num uníssono forte à letra: não, o público do Marés Vivas não se importa que expresse por palavras o quão maravilhosa é a vida.
Elton John foi-se aproximando do público, erguendo os braços em silêncio, e aceitando a energia que dali emanava. E, num festival à beira-mar plantado, o pôr-do-sol ganha ainda mais encanto. Sobretudo ao som de Don't let the sun go down on me, que, pela resposta do público, pareceu o tema mais aguardado da noite. Corpos balançados, coros acertados e o aplauso mais prolongado do concerto. All the girls love Alice, mais uma da velha guarda, põe os festivaleiros a dançar, agora muito mais entusiasmados com o rock'n roll. E é por aí que Elton John segue com I'm still standing, Your sister can't twist (but she can rock'n roll) e Saturday night's alright for fighting.
Pouco antes das 23h, a "maravilhosa multidão" do Cabedelo esperava pelo regresso de Elton e da banda, que entretanto tinham saído sem se despedir. O sentar ao piano denunciava o tema que faltava. Candle in the wind faz erguer as luzes de centenas de telefones, quais velas, que fazem deste um momento intimista partilhado por milhares de pessoas. Mas o concerto não podia terminar assim, numa onda de melancolia. Regresso ao rock'n roll com Crocodile rock que arranca muitos "lá-lá-lá-lá" à assistência que se preparava para a despedida. Uma vénia ao público e um "thank you, Porto" são como um "até já" aos portugueses, já que Elton John regressa em Dezembro para um espectáculo no Meo Arena, em Lisboa.
O concerto nem sempre teve a energia e a emoção que se esperariam de uma "wonderful crazy night", mas a experiência de Elton John soube como fazer duas horas de música passarem num ápice. À saída, rostos felizes salientavam "a qualidade do som" do espectáculo.
Foram-se abrindo clareiras no meio da multidão, agora mais jovem, que esperava por DAMA. Era o caso de Catarina e de Inês, de 17 anos, na fila da frente desde as cinco da tarde para ver o trio. O fenómeno juvenil acabou também por captar a atenção dos mais velhos e encerrou o primeiro dia de Marés Vivas.
Dia que começou com um sol abrasador e com os barcelenses Killimanjaro e Glockenwise (por causa deles, muitos dizem que Barcelos é a cidade do rock português) a abrirem as hostilidades. Um programa sem atrasos que começou às 17h30, ainda com poucos a assistir. Era como se estivessem a fazer um espectáculo para os amigos que matavam o tempo enquanto esperavam pelos concertos do palco principal.
Às 19h, o cantor e compositor irlandês Foy Vance inaugurava o palco principal arrancando os primeiros aplausos de uma plateia ainda tímida. Em meia hora de concerto, foi com Purple rain, de Prince, que se ouviu aquele que seria o primeiro uníssono do dia. Em conversa com o público, Foy Vance admitia que todos, incluindo ele, estavam ali por um motivo: "Ver Sir Elton John". Seguiu-se Kelis, que trouxe o R&B e a soul de Trick me e Milkshake ao Cabedelo, então já a ficar composto, à espera das 21h. No final da noite, o rap do projecto OUPA, sob o olhar atento da madrinha Capicua, entretinha quem se dirigia para a saída e ali parava para conhecer os jovens que andam há mais de um ano a diluir as barreiras entre o Bairro do Cerco do Porto e a cidade.
Cerca de 30 mil pessoas passaram pelo primeiro dia de festival, quem sabe numa despedida das marés da praia do Cabedelo. A realização do evento na margem do rio Douro continua em causa porque foram conhecidos planos de urbanização para aquele recinto. Já este ano, a Câmara de Vila Nova de Gaia e a organização do festival (PEV – Entertainment) tentaram mudar o local do festival para um novo terreno junto à Reserva do Estuário do Douro, decisão fortemente contestada por associações e grupos ambientalistas. Em causa estava a realização do festival num espaço contíguo à área de preservação de avifauna, integrada na Rede Nacional de Áreas Protegidas.