Greg Foat e as vertigens de Duchamp

O pianista americano sonorizou filmes experimentais dos anos 1920, com correcção e bom gosto, mas sem especial brilho.

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O programa incluiu os quatro Lichtspiel de Walther Ruttman DR

A segunda noite forte do programa Stereo aproximou-se mais daquilo a que o Curtas Vila do Conde nos habituou ao longo dos anos: uma “encomenda” específica de sonorização de imagens pré-existentes. Coube ao pianista de jazz americano Greg Foat criar música para um programa de curtas experimentais e abstractas realizadas entre 1921 e 1930, entre as quais os quatro Lichtspiel de Walther Ruttmann e o Anémic Cinéma de Marcel Duchamp.

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A segunda noite forte do programa Stereo aproximou-se mais daquilo a que o Curtas Vila do Conde nos habituou ao longo dos anos: uma “encomenda” específica de sonorização de imagens pré-existentes. Coube ao pianista de jazz americano Greg Foat criar música para um programa de curtas experimentais e abstractas realizadas entre 1921 e 1930, entre as quais os quatro Lichtspiel de Walther Ruttmann e o Anémic Cinéma de Marcel Duchamp.

De certo modo, foi precisamente nesta última curta, segunda do programa, e no seu movimento perpétuo circular que se definiu à perfeição o que se passou em Visual Music: a música construía pequenos redemoinhos melódicos transportados pelo piano de Foat, em modo pós-bop clássico, criando um marulhar sonoro que ia e vinha como o refluxo à beira-mar da praia, ilustrando com elegância mas sem afogar os sempre lúdicos efeitos ópticos e bons mots de Duchamp. Às espirais em moto contínuo de Duchamp, precursoras ora do genérico de Saul Bass para o Vertigo de Hitchcock ora do logótipo da etiqueta britânica de rock progressivo Vertigo, sucedeu-se a placidez fluvial de H2O do americano Ralph Steiner, naquele que terá sido o momento musicalmente mais inspirado da noite, e que encontrou espelho no último filme do programa, Mechanical Principles, igualmente assinado por aquele cineasta.

Os quatro exercícios geométricos de Ruttmann, rodados entre 1921 e 1925, levaram o sexteto para uma dimensão abstracta mais próxima do free jazzfazendo corresponder a cada um dos quatro Lichtspiel um instrumento dominante, permitindo a todos os músicos terem o seu momento nos holofotes. Mas este lado mais “experimentalista” revelou igualmente as limitações de uma proposta mais interessada em responder ao “caderno de encargos” do que em propor leituras diferentes: apesar do evidente talento dos músicos e da inspiração melódica que os melhores momentos manifestaram, em nenhum momento Visual Music surpreendeu verdadeiramente, propondo aquilo que se esperaria que um sexteto jazz fizesse para este tipo de filmes. Foi uma “prova de avaliação” cumprida com correcção e inteligência, mas sem especial brilho.

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