Críticas a Barroso sobem de tom: Hollande ataca, Duarte Marques defende

“Com este ataque a Durão Barroso, provavelmente Hollande não quis ficar atrás de Marine Le Pen”, diz o social-democrata Duarte Marques, para quem “era o que mais faltava: Portugal ou um português receber lições de moral de França ou de Hollande”.

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A decisão de Durão Barroso fez estalar a polémica dentro e fora de Portugal Nuno Ferreira Santos

As críticas à decisão de Durão Barroso, ex-presidente da Comissão Europeia (CE), de aceitar o convite para chairman do Goldman Sachs (GS) não baixaram de tom. Pelo contrário. Desta vez, foi o Presidente da República francês, François Hollande, que definiu como "moralmente inaceitável" a transferência, apesar de já ter sido cumprido e ultrapassado o período de “nojo” de 18 meses a que os membros da CE estão sujeitos.

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As críticas à decisão de Durão Barroso, ex-presidente da Comissão Europeia (CE), de aceitar o convite para chairman do Goldman Sachs (GS) não baixaram de tom. Pelo contrário. Desta vez, foi o Presidente da República francês, François Hollande, que definiu como "moralmente inaceitável" a transferência, apesar de já ter sido cumprido e ultrapassado o período de “nojo” de 18 meses a que os membros da CE estão sujeitos.

"Juridicamente é possível, mas moralmente é inaceitável", considerou, recordando que Barroso foi presidente da CE durante o período em que se deu a crise do mercado imobiliário subprime, na qual o maior banco de investimento do mundo, o GS, foi "uma das entidades principais". O presidente francês, que estará de visita a Portugal a partir de 19 de Julho, falava numa entrevista televisiva transmitida no âmbito das comemorações do dia nacional de França.

Apesar de o tema se ter mantido, ao longo da semana, nas mais importantes publicações internacionais – do Libération ao Wall Street Journal – foi a declaração de Hollande que tirou o PSD do sério. O deputado Duarte Marques reagiu violentamente. Num texto enviado ao PÚBLICO escreve: “Era o que mais faltava: Portugal ou um português receber lições de moral de França ou de Hollande. Sobretudo sabendo nós que os governantes franceses são, na Europa, os que menos restrições têm na passagem do sector público para o privado e vice-versa.” E acrescenta: “Com este ataque a Durão Barroso, provavelmente Hollande não quis ficar atrás de Marine Le Pen. Em vez de combater a Frente Nacional, o presidente francês faz de 'eco' do discurso da líder da xenofobia francesa.” 

Um dos primeiros a defender Barroso foi Passos Coelho: "Não vejo nenhuma questão que possa deixar um conflito de interesses ou qualquer outra matéria que constituísse um impedimento dessa natureza”, disse o líder do PSD. Também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou que Barroso atingiu "o topo da vida empresarial" e que gostava "de ver portugueses reconhecidos em lugar cimeiros". O primeiro-ministro, António Costa, não comentou.

Críticas de vários lados

Mas o novo emprego de Barroso, que iniciará funções em Setembro, continua a gerar polémica. O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Marc Ayrault, exortou-o a renunciar. "Deve fazê-lo, é uma questão de ética, de moral", disse à emissora Europe 1. O comissário europeu dos Assuntos Económicos e Financeiros, Pierre Moscovici também garantiu, em entrevista à estação de rádio francesa Europe 1, que não iria para a Goldman Sachs no final do mandato.

Matthias Fekl, secretário de Estado francês do Comércio Externo, lembrou, no Twitter, o comunicado dos deputados socialistas, dizendo que a contratação “é indecente, indigna e vergonhosa” e que “a delegação socialista francesa no Parlamento Europeu vai realizar todos os esforços” para torná-la impossível.

O presidente da CE, Jean-Claude Juncker, tem-se recusado a comentar uma decisão criticada desde a esquerda à direita radical e xenófoba.

“Não se trata de um banal conflito de interesses”, mas de “um facto que se arrisca a tornar ainda mais impopular a construção europeia e a desacreditar as nossas instituições”, disse o eurodeputado Mario Borghezio, da Liga do Norte, de Itália. A eurodeputada francesa Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, já dissera: “Não é uma surpresa para quem sabe que a União Europeia está ao serviço da alta finança, e não do povo.”

Sven Giegold, eurodeputado alemão dos Verdes, fala em “miserável promiscuidade entre a política e os negócios”.

A provedora da Justiça Europeia, a irlandesa Emily O’Reilly, pediu o reforço das regras para os comissários que saem: “Cumprir tecnicamente as regras não isenta os ex-funcionários de um dever de comportamento íntegro”. Citada pelo site Intelligo News, diz que o caso levanta a questão de saber “se as normas existentes são suficientes para tutelarem os interesses públicos”. Entende que mesmo que a decisão de Barroso causa dano a todos os funcionários que trabalham com “honestidade e dedicação”.

O ministro de Estado e dos Assuntos Europeus francês, o socialista Harlem Désir, considerou o novo emprego de Barroso “escandaloso”. “É um erro da parte do senhor Barroso, é o pior serviço que um ex-presidente da CE podia prestar ao projecto europeu num momento da história em que este precisava de ser apoiado e fortalecido.” Também o socialista e ministro das Finanças francês, Michel Sapin, defendeu que, “se Durão Barroso amasse a Europa, não faria isto, sobretudo agora”. E ainda acrescentou: “Mas isto não me surpreende, vindo do senhor Barroso.”