A sonsa viperina

Uma estupenda alta comédia de enganos que Whit Stillman fez sua a partir de Jane Austen.

Foto

É sintomático que tenha sido preciso a “bênção” de Jane Austen para um filme de Whit Stillman (que até foi Herói Independente do IndieLisboa em 2015) chegar a estrear em Portugal. E é sintomático porque Amor e Amizade, adaptando uma obra menor da escritora britânica que só viu publicação póstuma (um romance epistolar cuja heroína é uma arrivista manipuladora e calculista que esmifra parentes e admiradores), é uma espécie de “distilação” do “estilo Stillman”, onde o respeito zeloso e quase fora de moda pelas regras da alta comédia cria um peculiar efeito contraditório. Por um lado, reforça a inserção confortável de Amor e Amizade numa tradição muito específica do filme de época de prestígio, mas nesse mesmo movimento desconstrói essa tradição, sublinhando como as regras foram feitas para ser subvertidas. E a sua heroína, a altaneira e intriguista Lady Susan a que Kate Beckinsale dá perfeita entoação de sonsa viperina, não é outra coisa que não uma subversiva, que pega na etiqueta da alta sociedade britânica para as distorcer e virar a seu favor. É uma comédia de enganos como há muito não víamos, divertidíssima e muito séria sem deixar de ser leve como o ar.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

É sintomático que tenha sido preciso a “bênção” de Jane Austen para um filme de Whit Stillman (que até foi Herói Independente do IndieLisboa em 2015) chegar a estrear em Portugal. E é sintomático porque Amor e Amizade, adaptando uma obra menor da escritora britânica que só viu publicação póstuma (um romance epistolar cuja heroína é uma arrivista manipuladora e calculista que esmifra parentes e admiradores), é uma espécie de “distilação” do “estilo Stillman”, onde o respeito zeloso e quase fora de moda pelas regras da alta comédia cria um peculiar efeito contraditório. Por um lado, reforça a inserção confortável de Amor e Amizade numa tradição muito específica do filme de época de prestígio, mas nesse mesmo movimento desconstrói essa tradição, sublinhando como as regras foram feitas para ser subvertidas. E a sua heroína, a altaneira e intriguista Lady Susan a que Kate Beckinsale dá perfeita entoação de sonsa viperina, não é outra coisa que não uma subversiva, que pega na etiqueta da alta sociedade britânica para as distorcer e virar a seu favor. É uma comédia de enganos como há muito não víamos, divertidíssima e muito séria sem deixar de ser leve como o ar.