Tindersticks, perdidos na música e entre as imagens

O grupo de Stuart Staples não desiludiu o público do Curtas Vila do Conde, mas The Waiting Room nunca descolou verdadeiramente.

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É inegável, é mesmo comovente, que Stuart Staples, disposto ao centro de um semi-círculo composto pelos seus colegas dos Tindersticks, se deixa genuinamente habitar pelas canções que vai cantando. Ou seja: ele está ali, mas não está, está perdido na música que vai sendo ilustrada, como se estivesse ali a vivê-las à nossa frente, como se fosse quase doloroso cantá-las, como se estivessem a expressar o que lhe vai na alma enquanto as entoa. E essa dimensão de quem ainda se consegue perder na música que cria foi sentida pelo público que acorreu na noite de quarta-feira ao Curtas Vila do Conde para assistir ao “cine-concerto” criado pelo quinteto britânico à volta do seu álbum de 2016, The Waiting Room. Público que, aliás, já estava rendido à partida, como se percebeu pelas fotos de telemóvel e pelos aplausos ameaçados pelas movimentações de palco durante o intro Follow Me, e como se confirmou com a aclamação unânime antes dos encores. Não é uma surpresa, os nocturnos melancólicos e discretos de Stuart Staples y sus muchachos sempre tiveram uma forte legião de admiradores por cá.

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É inegável, é mesmo comovente, que Stuart Staples, disposto ao centro de um semi-círculo composto pelos seus colegas dos Tindersticks, se deixa genuinamente habitar pelas canções que vai cantando. Ou seja: ele está ali, mas não está, está perdido na música que vai sendo ilustrada, como se estivesse ali a vivê-las à nossa frente, como se fosse quase doloroso cantá-las, como se estivessem a expressar o que lhe vai na alma enquanto as entoa. E essa dimensão de quem ainda se consegue perder na música que cria foi sentida pelo público que acorreu na noite de quarta-feira ao Curtas Vila do Conde para assistir ao “cine-concerto” criado pelo quinteto britânico à volta do seu álbum de 2016, The Waiting Room. Público que, aliás, já estava rendido à partida, como se percebeu pelas fotos de telemóvel e pelos aplausos ameaçados pelas movimentações de palco durante o intro Follow Me, e como se confirmou com a aclamação unânime antes dos encores. Não é uma surpresa, os nocturnos melancólicos e discretos de Stuart Staples y sus muchachos sempre tiveram uma forte legião de admiradores por cá.

Musicalmente, o grupo continua a navegar nas mesmas águas de boémia madrugadora existencial, de longas noites em branco melancólicas e resguardadas, de autênticas bandas-sonoras à procura de imagens em tom menor e subterrâneo. Daí a curiosidade de ver como resultaria em palco a “inversão” do processo habitual de escrever música para imagens – coisa que os Tindersticks fizeram já bastantes vezes. Para The Waiting Room, o grupo pediu a uma série de realizadores que criassem imagens para estas canções, num projecto parcialmente comissariado pelo festival de curtas de Clermont-Ferrand e que tem dado origem a uma série de cine-concertos pela Europa, interpretando ao vivo as canções enquanto os filmes são projectados no fundo do palco. Foi essa a produção que Staples, David Boulter, Neil Fraser, Earl Harvin e Dan McKinna trouxeram a Vila do Conde, no âmbito do programa de filmes-concerto Stereo.

Na prática, contudo, os 75 minutos desta actuação “extra” dos Tindersticks (complementando uma outra que teve lugar às 22h30 e esgotou praticamente assim que foi anunciada) foram destinados maioritariamente aos já “convertidos”. Sim, Staples esteve “perdido na música” frente a uma banda bem oleada e que sabia o seu papel; sim, houve alguns belíssimos momentos em que as imagens e os sons se enriqueceram mutuamente – casos do notável exercício de exposições múltiplas de Rosie Pedlow e Joe King para Hey Lucinda ou do ballet de maquinaria pesada da dupla brasileira Gabraz/Sara, Não Tem Nome, em We are dreamers!. Mas a rigidez do formato, com a banda a limitar-se a acompanhar os filmes na sequência exacta em que surgem no disco, sem surpresas, deixou um sabor a pouco que os demasiado curtos encores (com óptimas versões de Sometimes it hurts e My oblivion) não compensaram.

O que costuma diferenciar uma actuação ao vivo do seu equivalente em estúdio é a dimensão de espontaneidade – e foi precisamente isso que faltou. Como se The Waiting Room fosse apenas mais um concerto em vez de uma ocasião especial. Mesmo que Stuart Staples estivesse perdido nas canções que escreveu, o concerto perdeu-se por entre as imagens.