Corbyn já conseguiu uma vitória na corrida pela liderança dos trabalhistas

Já há mais dois nomes no boletim de voto: Angela Eagle e Owen Smith. O partido está tão dividido que é puro veneno o que lhe corre nas veias, diz o Daily Mirror.

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Jeremy Corbyn confia na recondução no cargo Paul Hackett/Reuters

Jeremy Corbyn conseguiu uma vitória crucial na guerra pela liderança do Partido Trabalhista britânico, que lhe foi contestada. O comité nacional do partido decidiu que o seu nome constará automaticamente no boletim de voto, sem necessitar de obter o apoio de 51 deputados para se tornar candidato.

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Jeremy Corbyn conseguiu uma vitória crucial na guerra pela liderança do Partido Trabalhista britânico, que lhe foi contestada. O comité nacional do partido decidiu que o seu nome constará automaticamente no boletim de voto, sem necessitar de obter o apoio de 51 deputados para se tornar candidato.

"Estou contente", disse Corbyn depois da reunião de seis horas do comité nacional, que é o espelho do estado em que está o partido - dividido ao meio -, com metade dos seus cerca de 30 membros a pertencer à ala centrista da formação e a outra metade a fazer parte da corrente "corbynista" (esquerda tradicional).

Sem esta cláusula, Corbyn teria dificuldade para obter o apoio de 51 deputados (20% da bancada parlamentar , como é exigido pelos estatutos a quem quer concorrer à liderança).

Eleito em Setembro do ano passado com 60% dos votos dos militantes, Corbyn começou a enfrentar o motim do Labour — que estava latente — logo a seguir ao referendo de 23 de Junho, em que os britânicos aprovaram o "Brexit". Corbyn foi confrontado com uma moção de desconfiança à sua liderança por parte da bancada trabalhista, que foi aprovada por maioria; dois terços do seu governo sombra demitiram-se logo de seguida.

"Vou fazer campanha com mos temas que interessam", disse Jeremy Corbyn, que disse estar confiante na recondução no cargo — serão novamente os militantes, não apenas os deputados, a escolher o líder.

Os trabalhistas escolhem, portanto, um líder pela segunda vez no espaço de um ano — em Setembro do ano passado porque Ed Milliband se demitiu, depois da derrota nas legislativas de Maio que deram a maioria absoluta aos conservadores de David Cameron —, o que é o resultado da profunda divisão interna e da guerra entre duas facções que querem impor a sua identidade a todo o partido.

Owen Smith é um novo candidato

É sobretudo dessa incapacidade para unir as diferentes facções que se queixam os dois deputados que já se candidatam à liderança, Angela Eagle e Owen Smith. Nem um nem outro representam uma mudança política profunda em relação a Corbyn, ambos propõem um estilo diferente de liderança, capaz de unir o partido de forma a voltar a ter possibilidades de uma vitória eleitoral e de um regresso ao governo.

"Fico de coração partido por ter de dizer isto, mas não vejo que seja possível ele [Corbyn] manter-se na liderança", disse Smith, que avançou esta quarta-feira. "Mas vou fazer o que for conveniente [na campanha] e combaterei Jeremy Corbyn, exactamente como ele fará em relação a mim", disse à BBC. Eagle, que avançou na segunda-feira, disse no discurso de candidatura que considerava Corbyn um bom homem mas um mau líder.

A nova liderança será conhecida em Setembro, mês para que está marcado um congresso do partido. Adivinha-se uma campanha e um congresso azedos, escrevia esta quarta-feira o tablóide de esquerda Daily Mirror: "O veneno nas veias do labour é tão tóxico que ninguém antevê um processo harmonioso".