O Intendente está em festa e convidou uma caravana com teatro

Até 17 de Julho, o bairro lisboeta acolhe um festival com performances, instalações, feiras, ateliers e aulas abertas. O objectivo é dinamizar o local envolvendo a população e trazer visitantes.

Foto
Miguel Manso

A trupe do Teatro Mais Pequeno do Mundo empurra a caravana até ao do Largo do Intendente, em Lisboa. Os esforços dos intérpretes são logo notados na Rua dos Anjos, antes do largo, onde se situa a feira Intendente em Festa com artigos vintage e em segunda mão. Também "Penélope", a caravana, é um veículo com uma segunda vida. Comprada a um elemento da GNR, estava abandonada e o grupo de teatro restaurou-a. “Ainda me lembro, tinha alcatifa castanha por dentro e tudo. Ao longo dos tempos, temos vindo a transformá-la”, afirma Graeme Pulleyn, o director artístico do Teatro Mais Pequeno do Mundo. No final do percurso, em frente ao Sport Clube Intendente, a trupe bate palmas. Só falta decorar a caravana para apresentarem sete peças de 10 a 15 minutos, no festival Bairro Intendente em Festa.

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A trupe do Teatro Mais Pequeno do Mundo empurra a caravana até ao do Largo do Intendente, em Lisboa. Os esforços dos intérpretes são logo notados na Rua dos Anjos, antes do largo, onde se situa a feira Intendente em Festa com artigos vintage e em segunda mão. Também "Penélope", a caravana, é um veículo com uma segunda vida. Comprada a um elemento da GNR, estava abandonada e o grupo de teatro restaurou-a. “Ainda me lembro, tinha alcatifa castanha por dentro e tudo. Ao longo dos tempos, temos vindo a transformá-la”, afirma Graeme Pulleyn, o director artístico do Teatro Mais Pequeno do Mundo. No final do percurso, em frente ao Sport Clube Intendente, a trupe bate palmas. Só falta decorar a caravana para apresentarem sete peças de 10 a 15 minutos, no festival Bairro Intendente em Festa.

Tudo começou em 2011, na Feira de São Mateus, em Viseu. A caravana esteve presente com 12 artistas-criadores nos 40 dias da feira. “O objectivo é irmos a largos, feiras, praças, aldeias, escolas, festas e arraiais. Queremos estar dentro destes espaços animados ao lado dos carrosséis, como se fossemos uma espécie de casulo”, explica Graeme Pulleyn. Se o tema era livre no primeiro ano, nos restantes foram estabelecendo uma linha comum aos espectáculos concebidos e apresentados por cada artista do colectivo. Ao Largo do Intendente trouxeram o tema Microglobo: Shakespeare numa caravana, criado em 2014.

Rafaela Santos está deitada dentro da caravana. O vestido que veste é longo, mas o espaço da caravana apenas dá para 15 pessoas, no máximo. A actriz reconta Hamlet a partir da visão de Ofélia, que renasce do túmulo por 15 minutos. As restantes seis peças passam por Macbeth, Sonho de uma Noite de Verão ou Tempestade. A ideia de partida do Microglobo é uma reinterpretação histórica. Os actores são descendentes do dramaturgo inglês, que celebrizou o teatro Globo, em Londres. "Imaginamos que, na altura, Shakespeare tinha uma espécie de microglobo com o qual ia para as feiras e os sítios antes de transformar os textos em grandes peças", explica Graeme Pulleyn.

Para Marta Silva, directora geral do Intedente em Festa, trazer a caravana até ao bairro era um sonho antigo, se bem que a ideia era outra. “O primeiro ponto de partida era construir o projecto de raiz no bairro do Intendente, que depois ficasse cá e que envolvesse as pessoas e actores de cá”, revela. Este é um projecto que Marta Silva diz estar relacionado com o Bairro do Intendente em Festa. “Os projectos no festival abrangem pessoas de fora e daqui. Trabalhamos o mapeamento de habitantes e dinâmicas do bairro”, desenvolve. O festival começou há cinco anos, com o intuito de mostrar como o Intendente tinha ficado depois das obras. Na altura, a SOU – Movimento e Arte era a única entidade local, juntamente com a Câmara de Lisboa. Três anos depois, outros projectos, como o Largo Residências, surgiram e fazia sentido continuar a festa no Intendente. 

“O Intendente começava a ficar no mapa da cidade”, destaca Marta. Por isso, um conjunto de entidades locais, uma vez por ano, faz esta intervenção no bairro para que surja uma “lufada de ar fresco”. Juntamente com Inês Valdez e Margarida Barata, Marta Silva faz o desenho da programação e apresenta-a à EGEAC (Empresa Municipal de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural), que acaba por ser a parceira técnica, financeira e de produção.Todo o festival é gratuito e pretende “quebrar paredes” na vida do bairro. Um desses espectáculos foi Companhia Limitada - Estação Terminal, já estreado no Teatro Nacional D. Maria II. “A ideia foi fazer uma viagem interior e exterior e pensar a questão da solidão urbana”. Para isso, o espectáculo fez um percurso desde os espaços das entidades locais, como o Largo Residências ou a SOU Associação, ao gabinete da presidente de Junta de Freguesia de Arroios.

Até dia 17, o Intendente continua em festa. Na sexta-feira (15), o dia é dedicado à música com SlowStudio, em que professores e alunos de instrumentos da SOU mostram o trabalho de um ano lectivo. Aldina Duarte e Pedro Gonçalves sobem também ao palco do largo pelas 22h. No sábado (16), o destaque vai para a Arroiada, com um grupo urbano de música formado por trabalhadores de limpeza da freguesia. “A ideia é chamar a atenção para as pessoas mais invisíveis, mas que fazem o trabalho mais duro da cidade”, sublinha Marta Silva. No domingo (17), a festa termina na “rua mais internacional da cidade”, segundo o programa, a Rua do Benformoso, com a Mela Benformoso, uma feira em que os comerciantes saem à rua, passeios e um desfile de moda.

Enquanto isso, o Teatro Mais Pequeno do Mundo vai tentar levar "Penélope", a caravana, num roteiro “pela coluna vertebral” de Portugal, de Melgaço a Faro, no próximo ano. “Cada vez vivemos num mundo mais frio e dentro da caravana há uma proximidade”, diz Graeme Pulleyn. Foi o que tentaram levar ao Largo do Intendente.