Como parar o tempo
Com os Birds Are Indie ficamos adultos, mas vendo a vida passar com o vagar dos verões eternos da adolescência. Que bem sabe.
Isto foi tudo muito bem pensado. O disco dos Birds Are Indie foi editado na Primavera e até tem uma canção intitulada Springtime. Mas a edição em vinil chegou agora, quando a Primavera deu lugar ao Verão - e o Verão, um certo tipo de Verão, é realmente o tempo certo para esta música.
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Isto foi tudo muito bem pensado. O disco dos Birds Are Indie foi editado na Primavera e até tem uma canção intitulada Springtime. Mas a edição em vinil chegou agora, quando a Primavera deu lugar ao Verão - e o Verão, um certo tipo de Verão, é realmente o tempo certo para esta música.
Atravessa as canções do trio conimbricense uma desarmante simplicidade (não confundir, nunca confundir, com simplismo), tal como simples são as histórias que as habitam: o amor que se quer para sempre; o aperto no peito quando parece que não o é afinal; o querer partir e desejar tanto ficar; o bom que é viver quando a vida sorri - e se aquele momento especial pudesse ser para sempre, não seria isso perfeito?
Ricardo Jerónimo e Joana Corker, os fundadores, e Henrique Toscano, o amigo de longa data que se lhes juntou com a viagem em andamento, têm tom de cantautor de guitarra acústica em punho e a leveza luminosa do indie vestido em impecável padrão twee. Enquanto o slide percorre os trastes da guitarra, as vozes de Ricardo e Joana trocam versos e órgãos de brincar saltitam sobre a melodia. Ouviremos solos de kazoo, xilofones e pandeiretas e versos como “we are partners in crime /and our only enemy is time” (logo a início, em Partners in crime) ou “I hope you never go away / It’s love, I hope” (quase no fim, em That’s love, I hope).
Ouvimos canções que têm capacidade de se imporem pela discrição. Atravessamo-las sem a menor preocupação com as coisas do mundo, protegidos de tragédias e cinismos. Mas, quando começa a rodar pela segunda vez o terceiro álbum do trio, já temos connosco o refrão e a dança dolente de Partners in crime, já ouvimos fogo e sangue country a atravessar On your own, já temos a certeza que o “let’s pretend the world has stopped” que chega no final de I’m leaving this town é o único título que o álbum podia ter. Nele ficamos, adultos, mas vendo a vida passar com o vagar dos verões eternos da adolescência. Que bem sabe.