Família da repórter de guerra Marie Colvin processa governo da Síria
Quatro anos após a morte da jornalista norte-americana, a sua família acusa o governo sírio de ter feito um ataque deliberado para silenciar a jornalista.
A veterana jornalista de guerra, Marie Colvin, conhecida pela sua coragem e determinação em cenários de guerra e também pela pala negra no olho esquerdo que usava com orgulho, morreu há quatro anos em Homs, na Síria. Este sábado deu entrada num tribunal de Washington, nos EUA, um processo que acusa o regime de Bashar al-Assad de morte por negligência. A família de Marie Colvin, que trabalhava para o jornal britânico Sunday Times, defende que o governo sírio quis deliberadamente matar a repórter para a silenciar.
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A veterana jornalista de guerra, Marie Colvin, conhecida pela sua coragem e determinação em cenários de guerra e também pela pala negra no olho esquerdo que usava com orgulho, morreu há quatro anos em Homs, na Síria. Este sábado deu entrada num tribunal de Washington, nos EUA, um processo que acusa o regime de Bashar al-Assad de morte por negligência. A família de Marie Colvin, que trabalhava para o jornal britânico Sunday Times, defende que o governo sírio quis deliberadamente matar a repórter para a silenciar.
Marie Colvin era uma jornalista norte-americana com 30 anos de experiência que vivia em Londres mas, sobretudo, trabalhava em cenários de guerra por todo o mundo. Foi num destes lugares, mais precisamente no Sri Lanka, que em 2001 perdeu a visão do olho esquerdo na sequência de ferimentos provocados por estilhaços quando fazia a cobertura da guerra civil. Acreditava, e essas palavras correram mundo, que tinha de cobrir as guerras “para ninguém poder dizer ‘eu não sabia’”.
Foi num desses cenários que perdeu a vida. Em Fevereiro de 2012 morreu na sequência de um bombardeamento do exército sírio contra um edifício usado por jornalistas na cidade de Homs, ao lado de um hospital. Com ela morreu também o fotojornalista francês Rémi Ochlik, de 28 anos, e outros dois jornalistas estrangeiros ficaram feridos. Pouco antes deste ataque, Marie Colvin tinha feito um relato em directo da Síria para a BBC, Channel Four e CNN, tal como lembra este domingo a BBC. “Vi um bebé morrer hoje”, contou ao mundo mostrando fotografias da criança de dois anos atingida por um sniper. À CNN, a repórter acrescentava: “É uma completa e total mentira dizer que eles só estão a ir atrás dos terroristas… O exército sírio está simplesmente a bombardear uma cidade com civis com frio e fome.”
Um dia depois da morte da jornalista o regime sírio veio publicamente rejeitar qualquer responsabilidade na morte dos dois jornalistas ocidentais na cidade rebelde de Homs, adiantando que eles “se infiltraram” naquele território “à sua própria responsabilidade”. A resposta veio do ministro sírio dos Negócios Estrangeiros que é agora o destinatário da acção que deu entrada na justiça.
Segundo a Reuters, o processo refere que os militares sírios atingiram deliberadamente o estúdio improvisado de Baba Amr onde os jornalistas viviam e trabalhavam. A acção judicial alega ainda que o ataque fazia parte de um plano orquestrado ao mais alto nível do Governo sírio e que tinha como objectivo silenciar os media locais e internacionais. Como prova será apresentado uma cópia de um fax de 2011 que terá sido enviado pelo departamento nacional de segurança sírio que dá instruções aos militares para lançar ataques contra todos os que “mancham a imagem” da Síria nos media e organizações internacionais.
Na acção, a família defende ainda que o telefone por satélite usado pela jornalista foi rastreado pelos serviços sírios que desta maneira conseguiram localizar o estúdio que tinham como alvo. O fotógrafo Paul Conroy, que acompanhava a jornalista neste trabalho, também testemunha que o ataque a este alvo preciso não aconteceu por acaso e que foi resultado de uma bem-sucedida operação militar. Durante os últimos anos, a família da repórter, apoiada por várias organizações, tem vindo a recolher os documentos e provas para o processo. Segundo concluíram, o ataque terá sido aprovado ou ordenado pelo irmão do Presidente, Maher al-Assad.
“Este caso serve para continuarmos o trabalho de Marie”, disse Cathleen Colvin, irmã da repórter, citada pela Reuters. “Queremos verdade e justiça não só para ela mas para milhares de sírios inocentes torturados e mortos na ditadura de Assad”, acrescentou numa declaração divulgada pelo grupo de direitos humanos norte-americano Center for Justice and Accountability (CJA) que apresentou a acção pela família, também representada por uma sobrinha da jornalista, Justine Araya-Colvin.
A organização não-governamental Repórteres sem Fronteiras já fez saber que apoia esta acção judicial e que segunda-feira vai apresentar estes dados ao juiz que está responsável pela investigação de homicídio e tentativa de homicídio lançada em 2012, em França, por causa do mesmo ataque que matou o fotojornalista Rémi Ochlik e feriu a jornalista Edith Bouvier.
Marie Colvin morreu com 56 anos a 22 de Fevereiro de 2012, em Homs. “Ela queria mais uma história”, disse, na altura, a mãe da repórter. Mais de duas dezenas de jornalistas morreram nesse ano na Síria a tentar contar as suas histórias.