O ataque de Daca e o terrorismo na Índia
A Índia tem sido flagelada pelo terrorismo, num quadro que tem sido muito desvalorizado pelo Ocidente.
1. O ataque em Daca foi cometido pelos "soldados do Califado em Bengala", grupo liderado por Tamim Chowdhury mais conhecido como Sheikh Abu Ibrahim al-Hanif, um cidadão canadiano de origem bangladechi/bengali, de Windsor, Ontário.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
1. O ataque em Daca foi cometido pelos "soldados do Califado em Bengala", grupo liderado por Tamim Chowdhury mais conhecido como Sheikh Abu Ibrahim al-Hanif, um cidadão canadiano de origem bangladechi/bengali, de Windsor, Ontário.
2. A popularidade do grupo entre a população muçulmana local tem crescido de forma preocupante. Aos poucos, vão sendo vistos como os justiceiros que vão fazer crescer e prosperar o país e a ignorância de uma população pobre e social e economicamente explorada pode concorrer para a expansão e popularidade do grupo.
3. O facto de o grupo ter poupado muçulmanos ao massacre e ter atacado principalmente estrangeiros (executando ainda locais que não soubessem recitar o Corão) revela uma diferença relativamente ao modus operandi típico de grupos e células jihadistas: al-Hanif sabe perfeitamente que se tivesse realizado uma execução indiscriminada reduziria as hipóteses de implantação e consolidação no seu próprio território, perdendo o apoio popular de que poderia vir a gozar. As execuções têm sido, até ao momento, selectivas. Deste modo, procura dar um sinal de que está a lutar em favor dos interesses dos bengalis.
4. Na mais recente edição da revista electrónica do Da’esh (a Dabiq), lançada no passado mês de Abril, al-Hanif deu uma entrevista bastante esclarecedora sobre o seu propósito. Além de ser notória a inspiração passada da Al-Qaeda, define como alvos todos os que rejeitem a autoridade islâmica, os partidos políticos que “apelem à adesão à religião que é a democracia”, os muçulmanos ahmadis, os apóstatas, as ONG, os sufis, os budistas e os hindus.
5. O Bangladesh é atractivo para grupos desta natureza por diversos motivos: é o principal contribuidor para missões de paz da ONU, importando recordar que as missões que visem a protecção de direitos humanos são liminarmente rejeitadas por jihadistas, já que os direitos humanos são um conceito ocidental e não islâmico (poderei falar sobre isso noutra altura) – além de acusarem as missões de paz de gerarem ganância nos soldados bengalis por serem mais elevados que o habitual e de se tratarem de um mecanismo que mantém os militares satisfeitos acabando por proteger o poder político em exercício.
6. Em segundo lugar, a localização privilegiada do Bangladesh coloca-o numa posição vantajosa para se tornar o centro do jihadismo na Ásia central, potenciando a perpetração de ataques terroristas na Índia a partir do Leste (e em que se pretende exercer pressão, também, a partir do Afeganistão e do Paquistão) e favorecendo ainda a expansão da agenda jihadista para o sudeste asiático (logo com consequências catastróficas para a Birmânia).
7. A Índia tem sido flagelada pelo terrorismo, num quadro que tem sido muito desvalorizado pelo Ocidente e que inclui a adesão a grupos jihadistas e outros grupos armados por parte de novas gerações com formação superior e elevados conhecimentos de tecnologias, merecendo preocupação o facto de outras frentes hostis às políticas de Nova Deli manifestarem apreço e solidariedade para com o Da’esh, nomeadamente em Caxemira, sob liderança de Hafiz Saeed Khan.
Especialista em Direito e Segurança internacional, ex-Oficial de Informações do SIED