Lisboa, Londres e Milão têm 28 milhões de euros para se tornarem mais verdes

Projecto Sharing Cities envolve investimentos em várias áreas, com destaque para a mobilidade partilhada, que se apoiará na plataforma portuguesa Mobi.me do CEIIA

Fotogaleria

A Baixa de Lisboa vai tornar-se, nos próximos anos, num pólo de experimentação de várias tecnologias com impacto na mobilidade e na factura energética da cidade. A capital portuguesa juntou-se a Londres e a Milão no projecto Sharing Cities, para o qual o programa europeu Horizonte 2020 dedica 28 milhões de euros, em cinco anos. O objectivo, no final, é atrair 500 milhões de euros em investimentos públicos e privados em áreas como a reabilitação urbana, gestão energética, partilha de dados e mobilidade eléctrica capazes de tornar mais sustentável a vida em todo o território das três cidades.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A Baixa de Lisboa vai tornar-se, nos próximos anos, num pólo de experimentação de várias tecnologias com impacto na mobilidade e na factura energética da cidade. A capital portuguesa juntou-se a Londres e a Milão no projecto Sharing Cities, para o qual o programa europeu Horizonte 2020 dedica 28 milhões de euros, em cinco anos. O objectivo, no final, é atrair 500 milhões de euros em investimentos públicos e privados em áreas como a reabilitação urbana, gestão energética, partilha de dados e mobilidade eléctrica capazes de tornar mais sustentável a vida em todo o território das três cidades.

Para além de cidades, o Sharing Cities envolve ainda três dezenas de instituições académicas e empresas dos países envolvidos, como a Siemens, a Altice ou a portuguesa EDP Distribuição, entre outras. Português também é o parceiro escolhido para coordenar um dos principais pilares desta iniciativa, o da mobilidade. O CEIIA, que há muito deixou de ser apenas um acrónimo para Centro de Excelência e Inovação na Indústria Automóvel, traz para o projecto a plataforma Mobi.me, já usada para gerir a rede portuguesa de carregamentos de veículos eléctricos e serviços de diversos operadores de transporte em regime partilhado, e toda uma experiência com fornecedores de tecnologias e serviços inovadores nesta área.

No sector da mobilidade, as três cidades precisam de soluções urgentes para o excesso de carros e para a poluição que estes geram. Kim Smith, responsável pelo planeamento de transportes do bairro administrativo de Greenwich lembra que Londres, hoje com 8,5 milhões de habitantes, deverá ver esse número subir para os dez milhões nos próximos anos. “A população cresce mais depressa do que a nossa capacidade de construir nova infra-estrutura”, assinala, apontando a dificuldade de pôr em prática novos sistemas de transporte nas zonas mais antigas, onde estes simplesmente nem cabem.

Por isso, a aposta da capital britânica – e de Greenwich, como zona piloto para experimentação de novas soluções – passa, e muito, pela mobilidade partilhada. A ideia aqui é estimular a partilha de veículos. E isso implica mudar a mentalidade das pessoas, explicou ao PÚBLICO Kim Smith, assinalando que os “Car Clubs” – serviços de car-sharing convencional – são já muito populares em Londres. “Em Greenwich temos um clube desde 2005. Temos 70 veículos e quatro ou cinco mil utilizadores. Por cada carro partilhado que entra ao serviço, acrescenta, a cidade livra-se de cinco ou seis viaturas particulares, normalmente segundas viaturas. Em Londres, adianta Kim, se um cidadão fizer menos de dez mil quilómetros por ano, poupa 3500 libras ao recorrer a um carro partilhado.

Em Itália, cerca de 315 mil milaneses terão consciência deste potencial de poupança, pois subscrevem os diversos serviços de car-sharing existentes na cidade que têm na rua 2000 carros, 400 deles eléctricos. Numa cidade onde vivem 1,3 milhões de pessoas, mas onde entram diariamente mais 700 mil, para trabalhar, Valentino Sevino, Director da Agência de Ambiente e Mobilidade do município de Milão, assume que no início ninguém imaginaria que o grau de adesão fosse tão elevado pois em Itália, como em Portugal, o automóvel é um símbolo de status para as gerações mais velhas.

“Em Milão temos uma taxa de motorização muito elevada, de 51 carros por cem habitantes. E em cidades como Paris ou Londres temos um rácio de 25 por cem ou de 35 carros por cem habitantes”, compara. No entanto, algo está a mudar, mesmo quando há boas opções de transporte público, como é o caso. “O serviço de car-sharing e é usado 9500 vezes por dia. O serviço de bike-sharing, com 4400 bicicletas, tem 50 mil utilizações diárias”. Resultado: 13 mil carros desapareceram das estradas de Milão nos últimos anos, diz Valentino Sevino, dando um retrato muito diferente do de Lisboa, onde a empresa Citydrive, em dois anos de operação, tem 40 carros na rua e 5200 utilizadores registados.  

O CEIIA é parceiro de um serviço de partilha de motos eléctricas em Barcelona que pode ser replicado nas cidades do projecto. Graças a uma tecnologia que desenvolveu, as 250 scooters da Cooltra são acompanhadas, à distância, na sede do centro em Matosinhos, onde o seu desempenho (localização, distâncias percorridas, facturação, gasto energético, estado das baterias, perfil de deslocações, etc) é monitorizado através da plataforma Mobi.me; a mesma que monitoriza a rede de carregamento de veículos eléctricos em Portugal e que ajuda a Uber, outra parceira do CEIIA, a verificar o desenvolvimento dos 30 veículos envolvidos no projecto piloto Uber Green, lançado em Março em Lisboa e Porto.

Ligado a redes de veículos eléctricos e “inteligentes”, o que o Mobi.me traz ao projecto é a capacidade de integração de serviços, como se pode ver no ecrã gigante da sala de controlo, do CEIIA. Com os sistemas a comunicarem entre si, o cidadão ganha acesso a toda oferta disponível, que terá de incluir o transporte público colectivo convencional e estas novas opções à medida, a partir do smartphone. Por outro lado, os dados gerados pela plataforma, que já servem para apoio aos decisores, têm o potencial de ajudar a convencer mais pessoas a fazerem escolhas racionais em termos de mobilidade, nota João Caetano, do CEIIA, concordando, como os seus parceiros, que o envolvimento da população nestes projectos é um factor crítico para o sucesso dos mesmos.

A partilha de dados sobre o metabolismo das cidades é mesmo um dos pilares do Sharing Cities. Na Baixa de Lisboa, por exemplo, a 250 vulgares postes de iluminação vão ser acrescentados sensores que os transformarão numa rede de monitorização de parâmetros como a qualidade do ar, ruído e tráfego, o que vai permitir, neste último caso, que os veículos ligados ao Mobi.me sejam informados do sítio mais próximo para estacionar, por exemplo. Mas segundo Francisco Gonçalves, gestor de projectos da Lisboa e-Nova, esta lógica de integração, medição e partilha de dados sobre o desempenho vai ser aplicada também aos projectos de reabilitação urbana com os quais se pretende criar bairros de baixo consumo energético.

Para além das três cidades guia, o consórcio Sharing Cities tem como seguidoras as cidades de Bordéus, em França, Burgas na Bulgária e Varsóvia, na Polónia. Segundo o consórcio liderado por Londres, as cidades de Nova Iorque e Chicago, nos Estados Unidos; Toronto, no Canadá; Perth, na Austrália; e Aparecida, no Brasil, demonstraram interesse em seguir as actividades do programa Sharing Cities e em Portugal, foram já identificadas dez cidades que poderão beneficiar das soluções que vão ser testadas nos próximos cinco anos.