A “credibilidade da Comissão Europeia está em jogo”, diz a CIP
António Saraiva critica possibilidade de aplicação de sanções a Portugal e diz que Bruxelas tem de mostrar “discernimento político”.
A Comissão Europeia “não pode tornar-se factor de instabilidade”. Perante uma plateia de empresários, portugueses e estrangeiros, reunidos para discutir o futuro da indústria na Europa, o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, deixou o recado para Bruxelas. Lembrando que a Comissão vai anunciar na próxima semana se Portugal e Espanha vão ser alvo de sanções por terem ultrapassado o limite do défice orçamental em 2015, Saraiva sublinhou que os cidadãos e as empresas “não iriam perceber” que, “depois de todo o esforço que Portugal fez de consolidação orçamental, que foi visível e reconhecido por todos”, Bruxelas agravasse o Procedimento por Défices Excessivos.
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A Comissão Europeia “não pode tornar-se factor de instabilidade”. Perante uma plateia de empresários, portugueses e estrangeiros, reunidos para discutir o futuro da indústria na Europa, o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, deixou o recado para Bruxelas. Lembrando que a Comissão vai anunciar na próxima semana se Portugal e Espanha vão ser alvo de sanções por terem ultrapassado o limite do défice orçamental em 2015, Saraiva sublinhou que os cidadãos e as empresas “não iriam perceber” que, “depois de todo o esforço que Portugal fez de consolidação orçamental, que foi visível e reconhecido por todos”, Bruxelas agravasse o Procedimento por Défices Excessivos.
António Saraiva falava na abertura da conferência “O Futuro da Indústria Portuguesa”, perante o ministro das Finanças, Mário Centeno, que ainda esta semana foi obrigado a emitir um comunicado a garantir que Portugal não vai pedir um segundo resgate, depois do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schauble, ter sugerido, numa conferência em Berlim, que o país poderia precisar de novo programa de assistência se não cumprisse as regras orçamentais.
O que a Europa deveria fazer – e a urgência é ainda maior numa situação inédita e de ruptura como o “Brexit” – “é focar-se na necessidade de crescimento económico, em vez de insistir em mais medidas, que se traduziriam, muito provavelmente, em novos aumentos de impostos”, sublinhou o presidente da CIP. É preciso “bom senso”, diz Saraiva, para quem a “credibilidade da Comissão Europeia está, de facto, em jogo”.
O líder da CIP apelou ao “bom senso” e defendeu que os líderes europeus têm a “oportunidade de demonstrar que existe discernimento político, sentido de justiça e coerência com uma visão de futuro” para a Europa, onde a moeda única “não pode ser gerida apenas com base em regras e estatísticas”.
Caso contrário, a União Europeia continuará a ser sentida como “fonte de constrangimentos à actividade das empresas e dos cidadãos” e não como uma “força indutora de progresso económico e de afirmação dos povos europeus”, salientou o presidente dos industriais.
Na sua intervenção, o ministro das Finanças reconheceu que se vivem “momentos de desafio na Europa” e disse que os líderes têm de saber “dar uma resposta à cidadania europeia” de forma a que se possa “reduzir o risco em que ser europeu possa, só por si, consistir uma sanção”.
Na conferência destinada a debater o futuro da indústria na Europa, mas com os olhos postos em Portugal, o presidente da CIP deixou o aviso ao ministro das Finanças : “Além das exportações, a variável chave do relançamento da economia é o investimento”, mas este não crescerá sem que se recupere a confiança dos investidores através de reformas laborais e fiscais que garantam “estabilidade” e sem que se reforce a capitalização das empresas.
“É prioritário e urgente a capitalização das empresas portuguesas”, disse Saraiva ao ministro das Finanças, Mário Centeno, a quem pediu “celeridade” na acção e a quem voltou a criticar uma “estratégia económica excessivamente concentrada no estímulo ao rendimento disponível das famílias” e no consumo.
Não podemos “castigar” os britânicos
O “Brexit” é um dos temas que tem estado a marcar a discussão na conferência da CIP, com os oradores a mostrarem-se entre o preocupado e o optimista quanto ao futuro da relação entre a União Europeia (UE) e o Reino Unido. Se há apreensão quanto ao processo negocial que se espera que seja iniciado ainda antes do final do ano, por outro há a convicção de que os dois lados vão chegar a um entendimento que garanta o bom relacionamento entre os dois blocos. Ainda que o caminho para lá chegar se adivinhe difícil.
“A Europa não deve pressionar, nem mostrar que quer castigar o Reino Unido”, mas também não deve permitir que os britânicos “escolham só o que lhes agrada”, disse ao PÚBLICO a presidente da BusinessEurope, Emma Marcegaglia. A garantia “das quatro liberdades de circulação [produtos, serviços, capitais e pessoas] é fundamental”, afirmou a empresária italiana que lidera a confederação das empresas europeias. A discussão “será dura”, mas só pode começar depois dos britânicos “clarificarem o que pretendem” da sua nova relação com a Europa.
Quanto é que o “Brexit” nos pode custar? Marcegaglia diz que as análises são muitas e lembra a do BCE, que aponta para uma redução de 0,5% do PIB europeu, mas não tem dúvida que, “no longo prazo, o maior custo será para eles [britânicos]”. No imediato, todos vamos sentir o impacto do “Brexit”, garante a presidente da BusinessEurope, lembrando que o principal impacto, para já, é a incerteza, e que as empresas e os mercados lidam mal com isso.