Nuno Dala: "Libertação é um gesto do regime para descomprimir o ambiente"

Nuno Dala, que esteve em greve de fome mais de um mês, disse ao PÚBLICO que activistas planeiam fazer passeio simbólico

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Nuno Dala esteve em greve de fome durante mais de um mês DR

Ainda estava dentro do Hospital Prisão São Paulo, em Luanda, a assinar os últimos papéis para a saída com termo de identidade e residência, mas o activista Nuno Dala disse ao PÚBLICO que, quando sairem da prisão, a maioria dos activistas planeia fazer um passeio simbólico pelas ruas até à Praça da Independência.

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Ainda estava dentro do Hospital Prisão São Paulo, em Luanda, a assinar os últimos papéis para a saída com termo de identidade e residência, mas o activista Nuno Dala disse ao PÚBLICO que, quando sairem da prisão, a maioria dos activistas planeia fazer um passeio simbólico pelas ruas até à Praça da Independência.

O Tribunal Supremo decidiu esta quarta-feira que os 17 activistas angolanos que foram presos há um ano por estarem a discutir política seriam libertados da prisão. Aguardarão a decisão do Tribunal Supremo sobre o recurso interposto pela defesa com termo de identidade e residência. A liberdade resulta de um pedido de habeas corpus. Na prisão de São Paulo estão 12 activistas. Laurinda Gouveia e Rosa Conde, as duas únicas mulheres do grupo, estão na prisão de Viana. Domingos da Cruz, Sedrick de Carvalho e Osvaldo Caholo estão em Caquila. 

A liberdade ainda não é total, sublinhou o professor universitário que esteve em greve de fome mais de um mêse há que aguardar a decisão sobre o recurso. Mas o momento não deixa de ser de celebração. "A nossa libertação acaba por ser um gesto do regime para descomprimir o ambiente pesado que se vive em Angola e evitar o pior", disse por telefone. "Não foi tanto porque o regime é independente mas porque percebeu que esta aventura de nos manter presos estava a levar o regime para o precipício - tem muitas implicações a nível nacional e internacional. Para evitarem esse desfecho fizeram esta jogada." O regime terá percebido que a prisão dos activistas, aliado a outros acontecimentos, estava "a contrariar a imagem" de que é "um estado de direito". 

Nuno Dala não contava com esta decisão. "Sinto-me feliz porque voltarei ao convívio com a minha família, com a minha filha, esposa", disse. A sua filha tinha três semanas quando foi preso. E sente-se feliz pelo "nosso trabalho feito internamente e externamente". "Ainda que a libertação seja nos termos actuais, o nosso trabalho acabou por surtir efeito". Afirmou ainda que, "pessoalmente", acha que José Eduardo dos Santos, há 37 anos no poder, "ainda tem a possibilidade de sair pela porta da frente e evitar que a forma desastrosa como tem gerido o país não resulte num becos sem saída, colocando-o numa posição humilhante como aconteceu com outros".  

Porque esta libertação "não é uma liberdade efectiva", Dala diz que se vai "pautar pela prudência" e fazer um esforço para "compensar o tempo distante com a família". "A cadeia não me fez desistir dos meus ideais".