Volvo Ocean Race 2017-18: A nova rota à volta do mundo

Lisboa será uma breve escala de um sprint náutico desde Alicante. A nova rota inclui escalas na Cidade do Cabo, Hong Kong, Cantão, Auckland, Newport, Cardiff, Gotemburgo e Haia.

Foto

São 45.000 milhas de percurso através de quatro oceanos, com escalas em 11 cidades em cinco continentes. A nova rota da Volvo Ocean Race 2017-2018 – maior de qualquer uma das 12 edições prévias desde que a regata nasceu em 1973 como Whitbread Race - quer recuperar o espírito original do evento, reservando mais milhas de navegação nos temíveis mares austrais – 12.500 milhas da rota total (contra apenas 4.500 milhas na última edição).

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

São 45.000 milhas de percurso através de quatro oceanos, com escalas em 11 cidades em cinco continentes. A nova rota da Volvo Ocean Race 2017-2018 – maior de qualquer uma das 12 edições prévias desde que a regata nasceu em 1973 como Whitbread Race - quer recuperar o espírito original do evento, reservando mais milhas de navegação nos temíveis mares austrais – 12.500 milhas da rota total (contra apenas 4.500 milhas na última edição).

“Mais acção, mais velocidade, mais milhas nos mares austrais e mais escalas num período de tempo mais curto (8 meses em vez de 9). É uma evolução na direcção certa e uma mudança que irá levar a regata mais próxima das suas raízes e herança, e ao mesmo tempo incrementando o forte valor comercial e oportunidade de negócios para os parceiros”, afirmou Mark Turner, o novo CEO da Volvo Ocean Race.

De facto, a etapa entre a Cidade do Cabo, África do Sul, até Hong Kong, China, passando pelo mar da Tasmânia, entre a Austrália e a Nova Zelândia, até alcançar Hong Kong soma 11.900 milhas e é a maior novidade na rota, além do percurso não pontuável entre Hong Kong e Cantão – uma das quatro premium Tier 1 cities na China –, onde será realizada a única regata costeira do evento numa escala completa com todas as atracções habituais.

De Hong Kong a Auckland, Nova Zelândia, serão mais 6.000 milhas, e a partir de Auckland a frota volta a navegar nos mares austrais por mais 7.500 milhas até Itajaí, Santa Catarina, Brasil. Seguem-se Newport, EUA, Cardiff, Inglaterra, Gotemburgo, Suécia e finalmente Haia, Holanda.

Richard Mason, director de operações da regata, comentou que na última edição do evento 2,4 milhões de visitantes e mais de 70.000 convidados corporativos foram registados nas diversas escalas. “Estamos determinados a trazer mais emoção aos velejadores com uma rota prolongada nos mares austrais e mais excitação ao público nas Race Villages em todas as escalas”, disse Manson, um velejador veterano de cinco edição da Volvo Ocean Race.

Lisboa numa breve escala

Lisboa – que nas edições de 2011-12 e 2014-15 – sediou uma das importantes e decisivas etapas oceânicas entre a América do Norte e a Europa – passa agora a acolher apenas uma breve escala de 72 horas da frota após a largada em Alicante, Espanha, sede do evento. Um sprint náutico de 700 milhas, de Alicante e Lisboa, considerado como primeira etapa pelos organizadores será um prelúdio para a importante etapa rumo à Cidade do Cabo, África do Sul.

Em forma de compensação pela perda de protagonismo de Lisboa na rota, os organizadores do evento juntamente com a Administração do Porto de Lisboa (APL) e a Câmara Municipal de Lisboa (CML) avançaram com a instalação de um estaleiro (Boatyard) na doca de Pedrouços onde os veleiros serão completamente reequipados entre Outubro 2016 e Fevereiro 2017.

“Lisboa irá receber o estaleiro onde os barcos serão actualizados e será um porto onde deverão decorrer uma série de testes de velas e treinos de mar para as tripulações dada a sua proximidade ao Atlântico. Em Outubro, a frota irá realizar uma etapa 0, navegando em conjunto desde Lisboa até Alicante, onde será dada a largada oficial. Daí a frota regressa a Lisboa num sprint náutico que será a primeira etapa da rota.”, detalhou Mark Turner, sem admitir a evidência de que Lisboa será mais um porto de apoio às pré-actividades do evento.

Quanto ao período de instalação do estaleiro (Boatyard) em Lisboa, Turner diz que a cidade é um local ideal para tornar-se uma base de apoio a longo prazo, mas nada está definido ainda. “Espero que possamos acordar uma série de actividades relacionadas e manter Lisboa conectada ao evento, de forma a apoiar a estratégia de desenvolvimento marítimo desta grande cidade”, adiantou Turner.

Uma espécie de estaleiro

Nick Bice, director de operações do Boatyard, explicou que os veleiros V70 da frota (não se sabe ainda quantos) deverão passar pelo estaleiro em Lisboa durante cinco meses - a partir de Outubro 2016 e até Fevereiro 2017 - com um veleiro a entrar nas instalações a cada 3 semanas para as devidas manutenção e up grade, trabalho que se estenderá por 12 semanas, numa espécie de linha de montagem, abrangendo quatro áreas-chave – casco, mastro, velas, sistema de quilha, electrónica e equipamentos de convés e naturalmente equipamentos de segurança e comunicação.

Será dada assim uma segunda vida a estes veleiros que já completaram uma volta ao mundo na edição passada, somando mais de 70.000 milhas navegadas, e ao final desta edição 2017-18 terão percorrido 140.000 milhas.

Mais que isto Nick Bice acredita que a doca de Pedrouços também oferece todas as facilidades para os treinos prévios das equipas, com a presença do Boatyard (uma imensa tenda de plástico ladeada por oito contentores que servem de oficinas, armazém de peças sobressalentes etc.), da velaria, da marina e de uma grua para retirada dos barcos da água.

Com vinte técnicos da equipa do evento a trabalharem no Boatyard, Nick Bice adianta que serão contratados temporariamente mais 10 trabalhadores portugueses (entre construtores navais, especialistas náuticos e trabalhadores comuns). A Marinha Portuguesa também irá disponibilizar a base naval do Alfeite para alguns serviços mais especializados e a utilização de uma grua mais potente.

O programa de trabalho em Julho 2017 será a instalação dos novos mastros e a partir daí as tripulações estarão focalizadas na participação na Fastnet Race em Agosto 2017, antes do período de reunião da frota em Setembro e os treinos de mar em Outubro em Lisboa, de onde a frota seguirá em conjunto para Alicante para a largada oficial.

Entidades organizadoras locais tergiversam

Contactada pelo PÚBLICO, a Administração do Porto de Lisboa respondeu às questões de forma vaga, preferindo adotar um tom ufanista sobre o assunto – “A APL apoia e incentiva os eventos náuticos que contribuem para dar cor e vida ao estuário do Tejo e que fomentam a prática desportiva e enaltecem a náutica de recreio [A Volvo Ocean Race é um evento oceânico de alta competição e não náutica de recreio - nota da autora] como é o caso da Volvo Ocean Race que se realizou na doca de Pedrouços em 2012 e 2015”, reza o documento enviado pelo Chefe de Divisão de Desporto e Náutica, Nuno Sanches de Almeida, mas sem assinatura, nem indicação da autoria das respostas.

A APL diz ter feito um robusto esforço financeiro – não especificado – na requalificação da doca de Pedrouços, para reabilitar e requalificar toda a área, permitindo criar e potenciar diversas sinergias, como é o caso dos pólos de reparação náutica (detalhes que também não foram especificados).

Para possibilitar a instalação da Boatyard da VOR na doca de Pedrouços, a APL afirma que procedeu a obras de requalificação externa de dois armazéns e a uma intervenção no interior do armazém jusante de forma a permitir a respectiva utilização para estaleiro de manutenção das embarcações. Adicionalmente, estimam-se outros custos operacionais directos, nomeadamente em dragagens, limpeza, segurança entre outros. Mais uma vez, a informação dada não apresenta valor específico do investimento ou a extensão das áreas de intervenção.

A APL disse ainda assumir a ambição de disponibilizar à cidade um cluster náutico com elevado potencial de exploração turística, com condições únicas de acessibilidade marítima e de navegabilidade, em redor de uma marina de excelência, com características únicas em Portugal, altamente equipada e com óptimas condições para embarcações de maiores dimensões. Só não menciona detalhes concretos de como e quando serão concretizadas estas ambições.

Já a Câmara Municipal de Lisboa, organizadora da escala em Lisboa juntamente com a empresa Urban Winds (que disse não ter qualquer papel na decisão de instalar o estaleiro na doca de Pedrouços), nem sequer respondeu às questões enviadas pelo PÚBLICO a 30 de Maio. Fica-se assim sem se saber o que será feito ao orçamento original do evento em Lisboa que nas edições anteriores da Volvo Ocean Race em 2011-2012 e 2014-2015 decorreu durante mais de duas semanas, após a travessia atlântica, e que desta vez contará apenas com 72 horas de escala da frota na cidade.

A APL informou, entretanto, que dados de 2015, indicaram a presença de 210 mil pessoas na Race Village em 2015, com um impacto estimado de aproximadamente 25 milhões de euros na cidade e, de acordo com um estudo elaborado pelo INDEG/ISCTE para a CML, um impacto de cerca de 5,8 milhões de euros ao nível dos media. Resta saber qual foi o orçamento na altura e qual será o orçamento agora que o evento diminuiu imenso em proporção na capital portuguesa.