Fenómeno pouco fenomenal
Fenómeno “sociológico” – a natureza transsexual das suas personagens – e “tecnológico” – filmado com câmaras de telemóvel – Tangerine é bem pouco fenomenal cinema.
Muito badalado no circuito internacional “independente”, Tangerine vive de alguns elementos propícios a causar sensação.
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Muito badalado no circuito internacional “independente”, Tangerine vive de alguns elementos propícios a causar sensação.
A natureza transsexual das suas personagens (e das actrizes que as interpretam), algo que não é muito comum, e o facto de, modo muito tecnologicamente moderno, ter sido filmado com câmaras de telemóvel. Infelizmente, o seu carácter sensacional não é acompanhado por nenhum interesse substancial – não há nada de “revolucionário” neste emprego dos telemóveis, que são usados sem espírito inventivo (bem longe estamos da verdadeira “revolução” que a leveza das câmara ao ombro trouxe na viragem dos anos 50 para os 60). E porque, fora a eventual relevância sociológica do seu retrato de um submundo, Tangerine se resolve em comediazinha de ciúmes e relações cruzadas, pouco imaginativa mas muito espalhafatosa, para não dizer histérica, indecisa entre adocicar o meio em que se movimenta ou dá-lo com crueza, e que desperdiça até uma das suas eventuais virtudes, a possibilidade de fazer vibrar os cenários reais – os subúrbios de Hollywood – em que foi filmado.
Acaba por ser filmado como uma sitcom, nem muito mais nem muito menos.