FMI diz que é improvável que Portugal absorva o actual desemprego no médio prazo
Fazer regressar os trabalhadores menos qualificados ao mercado de trabalho é uma das tarefas mais difíceis para Portugal nos próximos anos, avisa o FMI
Com as actuais taxas de crescimento e aplicando a mesmas políticas que foram seguidas até agora, Portugal tem poucas hipóteses de conseguir trazer, no médio prazo, a sua taxa de desemprego para os mesmos valores do passado, num cenário em que se revela particularmente difícil recuperar a mão-de-obra menos qualificada para o mercado de trabalho.
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Com as actuais taxas de crescimento e aplicando a mesmas políticas que foram seguidas até agora, Portugal tem poucas hipóteses de conseguir trazer, no médio prazo, a sua taxa de desemprego para os mesmos valores do passado, num cenário em que se revela particularmente difícil recuperar a mão-de-obra menos qualificada para o mercado de trabalho.
A conclusão é do Fundo Monetário Internacional, que, num livro agora publicado pelo departamento responsável por delinear o programa de ajustamento aplicado em Portugal, avalia aquilo que aconteceu no país desde a chegada da troika de credores e recomenda as políticas que devem ser seguidas nos próximos anos.
Em relação ao emprego, nomeadamente ao desencontro entre a oferta e a procura de postos de trabalho, o documento editado por Dmitry Gershenson, Albert Jaeger e Subir Lall (este último o chefe das missões do Fundo a Portugal) revela, com base em simulações, uma visão bastante sombria em relação ao que pode acontecer durante esta década. “Tendo em conta as actuais projecções de crescimento e as actuais políticas, não é provável que a criação de emprego seja suficiente para absorver o actual excedente no mercado de trabalho no médio prazo”, dizem estes responsáveis do FMI.
São identificados vários motivos para este pessimismo, mas o principal está centrado nos trabalhadores não qualificados. De acordo com o Fundo, Portugal é o país da União Europeia com o maior peso dos trabalhadores não qualificados no total dos empregados. E é precisamente para estes que, na actual conjuntura, é mais difícil encontrar agora um novo posto de trabalho.
Deste modo, se por um lado já é considerado provável que o ritmo de crescimento da economia não seja suficiente para absorver o excesso de oferta, por outro a situação agrava-se porque mesmo que o ritmo de crescimento económico seja mais satisfatório não existe a certeza de que os trabalhadores menos qualificados têm o apoio e os incentivos de que precisam para concretizar a transição para um novo emprego.
Os responsáveis do Fundo fazem, para enfrentar este problema, várias recomendações, que têm já constado de relatórios de avaliação a Portugal divulgados nos últimos anos. “Para apoiar a criação de empregos para os menos qualificados, as muito necessárias reformas estruturais no sector público e financeiro devem ser complementadas por uma política prudente para o salário mínimo, por políticas que aumentem o nível limitado de qualificações de gestão e por um diálogo mais inclusivo e transparente entre os parceiros sociais, que tenha em conta os interesses daqueles que estão fora do mercado de trabalho”, diz o documento.
No livro, que será apresentado por Subir Lall esta quarta-feira na Universidade Nova, o Fundo dedica capítulos a outros desafios que a economia portuguesa enfrenta. Se para manter o equilíbrio interno, a prioridade deve ser a de encontrar empregos para os trabalhadores menos qualificados, para manter o equilíbrio externo o Fundo diz que é essencial realizar reformas estruturais que aumentem a competitividade. Sem elas, defendem os autores do livro, o país arrisca-se a ver o défice externo outra vez crescer à medida que a procura interna começar a acelerar.
O Fundo insiste ainda na importância de as autoridades portuguesas prosseguirem com um ajustamento nas suas contas públicas, para combater o peso que constitui a dívida pública, um problema que é também relevante no sector privado empresarial.