PSOE resistiu e PP formará governo
“Pedro Sánchez ganha várias batalhas perdendo”. Perde votos mas salva o PSOE da ameaça do Podemos.
Houve um efeito "Brexit" nas eleições espanholas? Muitos jornalistas o admitem para justificar a surpresa do resultado. Segundo Enric Juliana, director-adjunto do La Vanguardia, "a vaga de inquietação que percorre a Europa influiu no voto espanhol", tal como no eleitorado conservador "funcionou o medo em relação ao Podemos". Terá também pesado o temor de "terceiras eleições": além de exasperarem os cidadãos, os tempos de risco não são compatíveis com a ausência de governo meses a fio. Mas ainda não há estudos que fundamentem tais opiniões.
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Houve um efeito "Brexit" nas eleições espanholas? Muitos jornalistas o admitem para justificar a surpresa do resultado. Segundo Enric Juliana, director-adjunto do La Vanguardia, "a vaga de inquietação que percorre a Europa influiu no voto espanhol", tal como no eleitorado conservador "funcionou o medo em relação ao Podemos". Terá também pesado o temor de "terceiras eleições": além de exasperarem os cidadãos, os tempos de risco não são compatíveis com a ausência de governo meses a fio. Mas ainda não há estudos que fundamentem tais opiniões.
Há outras conclusões mais relevantes. A estratégia de polarização, imposta pelo Partido Popular (PP) e pelo Podemos, só funcionou num sentido: em benefício de Mariano Rajoy. Não saiu das urnas a "maioria de esquerda" prevista por alguns analistas. Mais importante: falhou a estratégia do "sorpasso", lançada pelo Podemos contra o PSOE, para o marginalizar e entregar a Pablo Iglesias a hegemonia da esquerda. Tal como fracassou a opção eleitoralista da aliança Podemos-Esquerda Unida, imposta por Iglesias contra parte dos dirigentes do partido.
Os partidos
"Pedro Sánchez ganha várias batalhas perdendo", escreve o El País. O PSOE perdeu votos e deputados, no pior resultado desde a Transição, mas salvou o estatuto de líder da esquerda e da oposição. E talvez Pedro Sánchez "salve a cabeça" que muitos esperavam ver rolar na noite de domingo, já que evitou o "sorpasso" e a sua rival Susana Diáz perdeu na Andaluzia contra o PP — também pela primeira vez.
Desde 2014 que a dinâmica política tem soprado a favor das novas forças emergentes, organizadas sob a forma de movimentos. Os socialistas resistiram, para surpresa de muitos, ao rolo compressor do Podemos. "A grande vantagem do PSOE em relação ao Podemos é ser um partido propriamente dito, que em teoria deveria ser coeso, enquanto o outro é um conjunto de confluências", escreveu há semanas o politólogo Fernando Vallespín. Demonstrou, tal como o PP, a importância da sua tradição e da sua implantação local.
As eleições mostraram ainda que persistem traços bipartidários do sistema desfeito em Dezembro de 2015. "O quadripartidarismo consolida-se, embora sob um modelo 1+2+1", escreve no El País o jornalista Francisco Camas Garcia. "O PP lidera com mais distância em relação aos outros e potencia o bipartidarismo, que não retrocede e começa a conviver com superioridade perante os novos partidos." O retrocesso do Cidadãos, aparentemente devido ao regresso de eleitores ao PP, é um forte sinal. Se o Podemos parece mais sólido, vai enfrentar um desafio nos próximos tempos: se não mostrar capacidade de mudar a política espanhola decepcionará as aspirações e miragens dos seus eleitores. Uma vez mais será preciso esperar, pelos acontecimentos e por novos inquéritos. A ideia que fica é a de que o novo terreno político espanhol é muito escorregadio.
Pactos e governo
Só aparentemente estas eleições produziram um novo impasse. Forçarão os políticos a formar uma maioria governamental. O cenário ideal do PP seria uma "grande coligação" com o PSOE e com o Cidadãos, agora com a justificação da nova tormenta europeia. Para os socialistas é uma solução inviável, que deixaria o monopólio da oposição ao Podemos numa fase crítica. Outra coisa é encontrar um modo de viabilizar um governo do PP, sem perder a face.
O PSOE, com menos 52 mandatos que o PP, deve ir para a oposição mas também facilitar a formação de um governo "quanto antes", declarou Guillermo Fernández Vara, presidente socialista da Extremadura. Sánchez disse aparentemente o contrário mas trata-se de um momento retórico e de prudência num tema que se arrisca a dividir o PSOE. De resto, a Espanha tem experiência em negociar coligações com partidos regionais, neste caso entre o PP, o Cidadãos, o Partido Nacionalista Basco e mais alguém que possa, por exemplo, abster-se.
Para alterar a posição perante o PP, a direcção socialista necessita de alguma dramatização, como a ameaça de "terceiras eleições". De resto, no mesmo cenário de crise europeia, numa sociedade que exige reformas e que tem problemas como o da Catalunha, PP e PSOE serão obrigados a negociar entre si.
Estas eleições tiveram uma repercussão europeia. O diário digital El Confidencial abria ontem a sua homepage com este título: "A Europa celebra em Espanha a primeira derrota do populismo a seguir ao ‘Brexit’."