A nova revolução do BE
A influência do poder governativo e mesmo o exercício desse poder é o objectivo assumido pela direcção do Bloco de Esquerda na moção que apresentam à X Convenção do partido, que este fim-de-semana decorre em Lisboa. O próprio título da moção não disfarça o objectivo: “Força da esperança. O Bloco à conquista da maioria”. Longe vai o tempo em que o BE era um partido que se assumia como revolucionário e que não partilhava com os partidos do poder os objectivos de ter “mais capacidade de determinar o que acontece no país”, como Catarina Martins assumiu claramente que agora acontece em entrevista à Lusa.
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A influência do poder governativo e mesmo o exercício desse poder é o objectivo assumido pela direcção do Bloco de Esquerda na moção que apresentam à X Convenção do partido, que este fim-de-semana decorre em Lisboa. O próprio título da moção não disfarça o objectivo: “Força da esperança. O Bloco à conquista da maioria”. Longe vai o tempo em que o BE era um partido que se assumia como revolucionário e que não partilhava com os partidos do poder os objectivos de ter “mais capacidade de determinar o que acontece no país”, como Catarina Martins assumiu claramente que agora acontece em entrevista à Lusa.
A frontalidade com que direcção do BE se assume como partido de poder é a nova no partido que ainda há dois anos se rachou ao meio. E se em Novembro de 2014 era clara a ruptura entre a corrente UDP, liderada por Luís Fazenda, Pedro Filipe Soares e Joana Mortágua, que insistia numa atitude política de contrapoder face à corrente que juntava os herdeiros do PSR de Francisco Louçã e da Política XXI de Miguel Portas, liderados então por Catarina Martins e João Semedo, que evidenciavam já o que veio a ser uma atitude de disponibilidade para procurar influenciar um Governo de esquerda.
Hoje, as duas sensibilidades estão juntas na mesma tarefa de apoiarem parlamentarmente o Governo do PS liderado por António Costa e as duas moções que hoje põem em causa a linha oficial diferenciam-se não tanto em torno do afastamento ou da proximidade do poder, mas sobretudo nas críticas internas ao centralismo das decisões da actual direcção.
A unidade da direcção na firmeza do apoio ao Governo do PS, ainda que advirta, para que não haja dúvidas que o Bloco não aceitará cortes em salários e pensões ou nova carga fiscal sobre esses rendimentos por via directa ou através do agravamento da tributação de bens essenciais e espera que os parceiros deste entendimento não o violem”.
O que é verdadeiramente interessante nesta Convenção do BE é a disponibilidade da direcção para ampliar a sua influência enquanto partido de poder. A forma como assume claramente que quer crescer eleitoralmente para determinar a governação passa pela sinalização das autárquicas como um pólo de implantação social. Aliás, a moção aponta como objectivo que a “prioridade organizativa deve ser dirigida para alargar a capacidade de intervenção social do Bloco e aumentar a ligação aos movimentos sociais e de cidadania”. Isto porque “o Bloco precisa de se transformar rapidamente numa ampla rede de participação democrática e de influência política e social”.
Sem hesitações, o BE assume que quer levar a cabo uma espécie de revolução de novo tipo em que o objecto do confronto é a actual orientação política da União Europeia. Um objectivo em que assume não estar sozinho ao garantir que “é com essa orientação” que “dialoga com outras forças políticas e movimentos sociais, no Partido da Esquerda Europeia como noutros fóruns.” O BE mantém, assim, vertente internacionalista. E ainda que não refira o Podemos nem o Syriza, condena as “instituições europeias que rapidamente organizaram o esmagamento da esquerda na Grécia”, enquanto “ protegem a cada dia regimes protofascistas como o húngaro”.
A facilidade com que o BE deixou o discurso de contrapoder não significa, assim, que os seus objectivos políticos e estratégicos tenham mudado. Pelo contrário. A assunção da vontade de aumentar e conquistar poder tem precisamente esse fim: “As actuais responsabilidades do Bloco incluem a tomada de iniciativa por uma renovação da luta social que contraponha, às elites e às instituições europeias, um novo protagonismo popular capaz de alterar a relação de forças”.
Ou seja, o BE quer alterar a relação de forças para mudar a União Europeia. É com absoluta frontalidade que a moção afirma que “não é hoje credível o projecto de uma redefinição democrática das instituições europeias”. Mais. O documento de orientação estratégica assume que “o combate à austeridade e ao autoritarismo exige a disputa de maiorias sociais em cada país, impondo instrumentos de soberania popular que permitam corresponder à vontade de ruptura com a usura da dívida e a austeridade”. Para, noutro momento da moção, afirmar: “Só é possível salvar o Estado Social, relançar o investimento e criar mais emprego, rejeitando a chantagem da dívida, renegociando-a de forma profunda e assumindo o controlo público da banca.”
Conclusão: o BE pode ter mudado na sua predisposição para disputar e conquistar o poder, mas não mudou o seu objectivo estratégico de luta internacionalista por uma revolução política na Europa, que se concretize numa outra União de povos europeus.