O Reino Desunido
Como português, meio-inglês e europeu fico triste que uma pequena maioria (52%) de cidadãos do Reino Unido tenha decidido sair da União Europeia. Mas fico ainda mais triste ao pensar na enorme minoria (48%) que preferia que o Reino Unido ficasse na União Europeia e agora vai ter de vê-la sair.
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Como português, meio-inglês e europeu fico triste que uma pequena maioria (52%) de cidadãos do Reino Unido tenha decidido sair da União Europeia. Mas fico ainda mais triste ao pensar na enorme minoria (48%) que preferia que o Reino Unido ficasse na União Europeia e agora vai ter de vê-la sair.
É preciso ser-se claro. Os 48% são os mais bem educados, mais cosmopolitas, mais jovens, mais liberais – e obviamente os mais privilegiados.
Nesses 48% estão também as maiorzinhas maiorias de escoceses (62%), londrinos e mancunianos (60%) e irlandeses do Norte (56%).
Nos 52% que ganharam estão os ingleses, escoceses, galeses e irlandeses do Norte que são os menos simpáticos - incluindo os mais repugnantes - cidadãos deste Reino cada vez mais desunido.
Que bom seria que Londres e Manchester se tornassem cidades independentes que pudessem permanecer na União Europeia. Já se pode começar a celebrar uma Escócia independente dentro da União Europeia. E seria bem feito que a Irlanda do Norte se desligasse de uma vez por todos do chamado Reino Unido.
Talvez se pudesse arranjar um novo estado soberano – O Reino Unido da Inglaterra e do País de Gales – com capital em Birmingham, passando para Swansea nos meses quentes do Verão – que abarcasse todos os ingleses e galeses que quiseram sair da União Europeia. Poderia proibir a imigração para sempre, incluindo pessoas com menos de 40 anos, quem tivesse continuado a estudar depois do 16° aniversário ou não gostasse de fumar.
Que pena essa gentinha não poder viver juntinha numa Inglaterra muito Winterfell e Mundial de Futebol de 1966, devidamente comemorada nas calças de fato de treino elevadas a trajo nacional.
Os 48% que queriam ficar arrumavam-se todos em Londres, Manchester e nas áreas mais agradáveis do Sul da Inglaterra, onde grande parte já vive. As áreas menos lindas do Sul – onde votaram mais para sair do que para ficar – seriam doadas com alívio e sinceridade a quem quisesse viver independentemente sem quaisquer contactos com estrangeiros de qualquer espécie.
Que pena não se poderem aproveitar os resultados deste referendo para redistribuir as populações do Reino Unido de maneira a juntar pessoas que partilham a mesma mentalidade insular e inglesinha e impedir que fossem incomodadas por alienígenas...