Na moda masculina de Paris, os Samurais não têm género para Hugo Costa

O jovem designer estreou-se sexta-feira na semana de moda masculina com o Portugal Fashion – numa altura em que a indústria revê o seu calendário e elege a moda sem género definido. Em torno da moda, as conversas iam sempre parar ao "Brexit".

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Os Samurais sem género de Hugo Costa vieram de um showroom em Londres para Paris no dia em que o Reino Unido votou a sua saída da União Europeia. Em plena semana de moda masculina na principal capital europeia da moda, a colecção para a Primavera de 2017 do jovem designer português dialogou com o nervosismo de uma indústria em mudança.

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Os Samurais sem género de Hugo Costa vieram de um showroom em Londres para Paris no dia em que o Reino Unido votou a sua saída da União Europeia. Em plena semana de moda masculina na principal capital europeia da moda, a colecção para a Primavera de 2017 do jovem designer português dialogou com o nervosismo de uma indústria em mudança.

Inspirado no bushido, o código de conduta dos samurais, guerreiros do Japão feudal, Hugo Costa criou uma colecção com túnicas compridas, calças largas com cintos a marcar a cintura ou casacos bomber com caracteres japoneses nas costas. Peças maioritariamente em algodão e cores neutras, como branco e preto, alguns brilhos, mas unissexo.

O criador de São João da Madeira evoluiu do streetwear para a moda sem género. “Não me identifico como um designer de moda masculina. Identifico-me como designer de moda”, diz ao PÚBLICO Hugo Costa, na sala quente da Maison de Métallos, onde decorreu o desfile, ao final da tarde de sexta-feira.

“Temos de nos focar num mercado cada vez mais global”, atesta. “Como eu e outros jovens designers começamos a assumir isto, é natural que as marcas internacionais e as que se apresentam na semana de moda de homem comecem a perceber que chega de separação de géneros e de estações.”

A indústria de moda está em transformação neste campo. A britânica Burberry anunciou a junção da apresentação das peças para homem e para mulher num único desfile, bem como a sua venda imediata. Outras marcas seguiram o exemplo, saindo das semanas de moda exclusivamente masculinas, que acontecem em Janeiro e em Junho, e optando por desfiles conjuntos, mais tarde, nas semanas de moda femininas, durante os meses de Setembro e Março.

“Os desfiles de género misto poderão ser o fim das semanas de moda masculina como as conhecemos nos últimos dois anos em Londres, Nova Iorque, Milão e Paris”, comenta a crítica de moda do New York Times Vanessa Friedman ao jornal especializado Business of Fashion. Mas “as marcas que vendem apenas roupa masculina vão continuar a precisar de uma plataforma ou semana de homem”, avalia. Hugo Costa realça que o mercado masculino tem uma margem de crescimento superior ao feminino e que a solução pode passar antes por “uma semana de moda mista” – que faria ainda mais sentido tendo em conta a força da moda unissexo.

“Existe uma sede de renovação, condicionada também pelas marcas de moda rápida. É preciso ser reactivo e enviar constantemente projectos para o mercado. Temos de aproveitar e estar atentos”, diz o criador.

O impacto do “Brexit” na moda
Sexta-feira foi também dia de apresentação em desfile da maison Margiela, liderada pelo britânico John Galliano, ou do luxo masculino da Givenchy em Paris, e o principal tema entre desfiles, e nas ruas, foi o “Brexit”. A indústria de moda é uma das principais indústrias de exportação do Reino Unido e a desvalorização da libra face a outras moedas terá consequências para as marcas de moda.

“Vai passar a haver restrições em termos alfandegários, vamos ter de fazer listagens mais complexas de descrições de peças mas se as lojas quiserem comprar, acredito que vão comprar na mesma”, prevê o designer português sobre o impacto do “Brexit” no seu negócio, embora admita que não tem Londres como mercado mas apenas como “ferramenta de comunicação”. A desvalorização da libra face ao euro é “a questão maior” e que terá implicações para todos os sectores, admite.

Hugo Costa, que tem a Ásia como um dos principais mercados, terá a sua colecção Samurai em showroom em Paris nos próximos dias e vê a capital francesa como a grande “peça fundamental em termos de comunicação”. “A Semana de Moda de Paris nunca deixará de ser a Semana de Moda de Paris, independentemente do formato e das alterações ao calendário.”

O PÚBLICO viajou a convite do Portugal Fashion