Sanders diz que vai votar em Clinton mas mantém exigências para declarar apoio

O candidato do Partido Democrata ainda não anunciou formalmente a sua desistência, mas foi taxativo na resposta à pergunta "Vai votar em Hillary Clinton em Novembro?"

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Sanders está a tentar influenciar o programa político do Partido Democrata Lucas Jackson/Reuters

Nas eleições para a escolha dos candidatos que vão representar o Partido Democrata e o Partido Republicano na corrida à Casa Branca há sempre um momento a partir do qual se torna desnecessário continuar a lutar contra as evidências: meses antes da convenção de cada partido, que costuma limitar-se a ser apenas uma espécie de cerimónia de coroação, os derrotados anunciam publicamente o seu apoio aos vencedores e toda a gente atira o passado recente para trás das costas.

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Nas eleições para a escolha dos candidatos que vão representar o Partido Democrata e o Partido Republicano na corrida à Casa Branca há sempre um momento a partir do qual se torna desnecessário continuar a lutar contra as evidências: meses antes da convenção de cada partido, que costuma limitar-se a ser apenas uma espécie de cerimónia de coroação, os derrotados anunciam publicamente o seu apoio aos vencedores e toda a gente atira o passado recente para trás das costas.

Foi o que aconteceu a Hillary Clinton em 2008: lutou quase até ao fim mas acabou por admitir a derrota a dois meses e meio da convenção e fez campanha ao lado de Barack Obama. E foi o que aconteceu a Mitt Romney e Mike Huckabee no mesmo ano: saíram da corrida em Fevereiro e Março e declararam o seu apoio a John McCain mais de seis meses antes da convenção.

Mas quem escreveu esta história das eleições primárias nas últimas décadas não contou com o aparecimento em 2015 e 2016 da personagem Bernie Sanders, o senador do estado do Vermont que entrou em cena como um defensor da social-democracia ao estilo nórdico, e que ajudou a desbloquear a palavra "socialismo" da boca de muitos eleitores norte-americanos.

Há semanas que Hillary Clinton garantiu a vitória nas primárias do Partido Democrata, depois de ter conquistado mais delegados que estão amarrados à disciplina de voto (2220 contra os 1831 de Sanders); mais delegados com liberdade de voto (os "superdelegados", 591 contra 48); mais vitórias em primárias e caucus (34 contra 23); e mais votos (quase 16 milhões contra 12 milhões).

Por ter feito uma campanha muito acima do que todos esperavam quando anunciou a sua candidatura, em finais de Abril do ano passado, e por continuar oficialmente na corrida a um mês da convenção do Partido Democrata, muitos eleitores, analistas, jornalistas e curiosos tendem a ver o cenário a preto e branco – ou Sanders é um messias a quem foi roubado o direito divino à nomeação pelo Partido Democrata por causa de um sistema corrupto, ou Sanders é um mau perdedor que não percebe que está na altura de anunciar a sua desistência e apoiar Hillary Clinton.

Nos últimos dias, Bernie Sanders tem dado várias pistas de que percebeu muito bem o que lhe aconteceu nas primárias. E o que lhe aconteceu – para confusão de quem vê o mundo a preto e branco – foi um cinzento muito colorido.

Por um lado, sabe que não tem delegados suficientes para travar a nomeação de Hillary Clinton; por outro, acredita ter delegados suficientes para forçar a sua adversária a fazer importantes concessões, antes de se deixar de meias-palavras e dar-lhe o abraço público por que muitos responsáveis do Partido Democrata aguardam há várias semanas.

O mais perto que esteve de o fazer foi esta sexta-feira, numa ronda de entrevistas pelos canais CNN, CBS e MSNBC, depois de na quarta-feira ter dito que "não parece" provável vir a ser nomeado na convenção, entre 25 e 28 de Julho.

A pergunta foi feita directamente em todos os programas, mas foi no “Morning Joe”, da MSNBC, que Bernie Sanders foi mais taxativo: "Vai votar em Hillary Clinton em Novembro?"

"Sim", disse Sanders, deixando claro que a sua campanha está unicamente concentrada em influenciar o mais que puder o programa político do Partido Democrata, e que já desistiu de tentar convencer centenas de "superdelegados" a desistirem de apoiar Hillary Clinton na convenção – uma estratégia que alimentou até à fase final das primárias, no início do mês, quando já era evidente que não iria conseguir dar a volta ao resultado.

O que tem mantido Sanders na corrida, apesar de já estar completamente fora dela em termos aritméticos, é a determinação em ouvir três coisas de Hillary Clinton antes de desistir oficialmente da corrida: que o salário mínimo deve subir para 15 dólares por hora; que os alunos das universidades públicas não devem pagar propinas; e que o sistema de saúde público deve caminhar no sentido de abranger todos os cidadãos.

Nos últimos tempos a presença de Bernie Sanders na campanha deixou de ser a promessa de revolução política esperada pelos seus mais fervorosos apoiantes – muitos dos quais já começaram a mostrar o seu desagrado nas redes sociais depois de o senador ter dito que vai votar em Clinton –, e passou a ser um braço de ferro interno para que o Partido Democrata se apresente claramente como "o partido da classe média, o partido dos trabalhadores" nas eleições de Novembro.

Até porque Clinton está desejosa de ver o assunto arrumado antes da convenção, para não perder mais tempo com as primárias e passar a concentrar-se em Donald Trump, com a ajuda inestimável de Bernie Sanders e o seu exército de jovens desiludidos com o sistema.

Apesar de ainda não ter abandonado oficialmente a corrida e declarado o apoio a Hillary Clinton, Bernie Sanders já deixou bem claro que não espera ver nenhum dos seus apoiantes a votar em Donald Trump: "Vou fazer tudo o que puder para derrotar Donald Trump. Acho que seria um desastre para este país se fosse eleito Presidente. Não precisamos de um Presidente cujos pilares de campanha são a intolerância, os insultos a mexicanos, latinos, muçulmanos e mulheres. Que não acredita na realidade das alterações climáticas, quando virtualmente todos os cientistas que estudaram esse assunto dizem que é uma crise global. É uma pessoa que não deve ser Presidente."