Estes óculos deixam que os daltónicos vejam cores que não conheciam
A descoberta surgiu por acidente. As lentes dos óculos ajudam a distinguir o espectro verde e vermelho, melhorando a sua percepção de cores.
Já alguma vez questionou a escolha da cor azul para o Facebook? A realidade é que a escolha de Mark Zuckerberg não foi aleatória. O CEO da rede social mais famosa do mundo é daltónico e por isso quis escolher uma cor que fosse vista por quem, como ele, tem dificuldade em distinguir as cores. O daltonismo de Zuckerberg é mais comum do que se possa pensar.
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Já alguma vez questionou a escolha da cor azul para o Facebook? A realidade é que a escolha de Mark Zuckerberg não foi aleatória. O CEO da rede social mais famosa do mundo é daltónico e por isso quis escolher uma cor que fosse vista por quem, como ele, tem dificuldade em distinguir as cores. O daltonismo de Zuckerberg é mais comum do que se possa pensar.
Existem vários tipos de daltonismo. No caso de Zuckerberg, a dificuldade acontece na distinção do espectro de cores verde e vermelho, a protanopia. A perturbação da percepção visual afecta maioritariamente os homens. Em média, um em cada 12 homens é afectado por esta doença genética. No lado das mulheres, apenas uma em cada 200 tem dificuldade em diferenciar as cores.
Distinguir as cores nos semáforos, perceber se a carne está mal ou bem passada, se o computador continua ou não a carregar através da luz de aviso, ou escolher os vegetais e frutos mais maduros com base na sua cor são rotinas diárias concluídas com facilidade por quem tem uma visão normal, mas são desafios para um considerável grupo de pessoas.
Para contornar estas dificuldades foram desenvolvidas técnicas que ajudam os daltónicos a conseguir distinguir o espectro de cores. Uma delas chega dos EUA. A descoberta aconteceu meia por acidente, quando o cientista Don McPherson estava a trabalhar no desenvolvimento de óculos para cirurgia a laser, que alguns dos cirurgiões utilizavam como óculos de sol.
Quando os experimentou na rua, McPherson notou que as cores ficavam mais intensas, mas desvalorizou a diferença. O caso mudou de figura quando um amigo daltónico experimentou os óculos e descobriu que com eles conseguia distinguir os cones laranja fluorescentes que assinalavam a zona de obras na rua onde estavam.
Foi aí que o agora cientista na EnChroma percebeu que a tecnologia dos óculos permitia absorver os comprimentos de onda de luz que beneficiam os daltónicos. Com uma bolsa de investigação do National Institute of Health e depois de alguns anos de pesquisa co-fundou em 2010 a EnChroma.
No entanto, os óculos funcionam apenas para 80% das variações de daltonismo. Citado pelo canal CNBC, McPherson explica que a empresa está a trabalhar em novas tecnologias para responder a estes 20%, “que são quem mais precisa de expandir a palete de cores”. “Não funciona para toda a gente, mas é muito motivante observar os doentes para os quais os óculos resultam”, acrescenta Michael Le, optometrista.
Até agora a empresa já vendeu cerca de 30 mil exemplares destes óculos por todo o mundo. O preço varia consoante os modelos e pode ir até os 300 dólares, cerca de 263 euros, dependendo se é ou não comprado com receita médica. A empresa está a trabalhar no desenvolvimento de lentes de contacto.
Miguel Neiva, o designer fundador da empresa portuguesa "ColorAdd", a empresa portuguesa responsável pelo sistema internacional de identificação de cores para daltónicos, elogiou a iniciativa, mas sublinha que a solução ainda não responde a todas as necessidades. “São óptimas, excelentes para que todo o processo de resposta às necessidades das pessoas daltónicas vá melhorando, mas ao mesmo tempo são discriminatórias porque não chegam a todos”. “Pode permitir que um daltónico veja uma cor que nunca viu, mas não vai dar as cores todas, porque ao alterar a forma como vê os verdes vai mexer também com o que é vermelho”, explica em conversa com o PÚBLICO. Ainda assim, o fundador da ColorAdd acredita que “é o princípio de uma solução que há-de melhorar”.