Se a OPA do CaixaBank falhar, "o que vai acontecer ao BPI?"
O CEO do banco espanhol recusa subir o preço da oferta sobre o BPI e admite voltar a negociar com Isabel dos Santos se a OPA tiver sucesso. E defende que se a operação falhar o futuro do BPI não será bom.
Se a Oferta Pública de Aquisição (OPA) não tiver sucesso o futuro BPI pode complicar-se, defendeu esta quarta-feira, em Barcelona, o CEO do CaixaBank, o maior accionista da instituição financeira com 44,81% do capital. Gonzalo Gortazar considera que uma das debilidades do BPI é a sua falta de rentabilidade e garante que o CaixaBank tem condições para ajudar a resolver o problema.
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Se a Oferta Pública de Aquisição (OPA) não tiver sucesso o futuro BPI pode complicar-se, defendeu esta quarta-feira, em Barcelona, o CEO do CaixaBank, o maior accionista da instituição financeira com 44,81% do capital. Gonzalo Gortazar considera que uma das debilidades do BPI é a sua falta de rentabilidade e garante que o CaixaBank tem condições para ajudar a resolver o problema.
“No pior dos cenários a pergunta que deve ser feita não é o que vai o CaixaBank fazer, mas o que vai acontecer ao BPI”, argumentou o presidente do CaixaBank ao ser inquirido sobre o que fará se a oferta de bolsa fracassar. Sem avançar com grandes detalhes, deu a entender que, do seu ponto de vista, nada ocorrerá de positivo.
As explicações surgiram esta quarta-feira num encontro com jornalistas portugueses, em Barcelona, na sede do CaixaBank, que serviu, entre outras matérias, para o banqueiro espanhol enviar recados. Um deles dirigiu-se à Santoro, a holding de Isabel dos Santos, o segundo maior accionista do BPI. Gortazar disse: Se a OPA não tiver sucesso saberá “interpretar a mensagem dos accionistas” do BPI. Apenas 24% do capital se opõem à operação lançada em Abril pelo CaixaBank. E trata-se de um núcleo restrito formado pela empresária angolana (por via da Santoro e do BIC Angola), a quem são imputados cerca de 20,9% do BPI, e pelo grupo português Violas, com 2,7% (um investidor histórico do banco).
No entanto, a operação está condicionada ao cumprimento de duas condições: ao reforço da posição do CaixaBank para mais de 50%; e à desblindagem dos direitos de voto [até aqui, os estatutos do BPI prevêem que um investidor com 44% só possa mobilizar 20% do capital]. E é precisamente para debater este último tema que os accionistas do BPI vão reunir a 22 de Julho, desta vez sem blindagem estatutária. Mas, segundo as novas regras, a proposta de levantamento das restrições aos direitos de voto terá de ser apoiada por mais 66% do capital presente na reunião magna.
"Podemos voltar a negociar o BFA com a Unitel”
“Não existem, neste momento, conversações” com a Santoro, nomeadamente, para que as divisões accionistas sejam ultrapassadas. E para Gortazar esta é uma questão crucial. O diferendo está a impedir o BPI de cumprir as exigências europeias de redução da sua exposição aos grandes riscos de Angola, onde possui 50,1% do Banco de Fomento de Angola (BFA). Um investimento que o banco português tem em parceria com a Unitel, a operadora de telecomunicações controlada por Isabel dos Santos, que possui os restantes 49,9%.
Entretanto, o Banco Central Europeu (BCE) deu até Janeiro de 2017 para o CaixaBank encontrar uma solução para proteger o BPI da exposição aos grandes riscos africanos, no pressuposto de que a OPA se concretiza.
O banqueiro espanhol aproveitou a ocasião para enviar outra mensagem a Isabel dos Santos: “Temos [o CaixaBank] espírito negociador, tal como tivemos no passado" e se a OPA vencer "podemos voltar a negociar o BFA com a Unitel”. E seguiu-se uma evidência: “Em 2012 o BPI tinha um grande banco em Angola. E em 2015 tinha um grande problema em Angola”. Gortazar reconheceu, em todo o caso, que ainda que a OPA tenha sucesso, continuará a ser necessário encontrar uma solução para responder às questões colocadas pelo BCE. Isto, mesmo se a dimensão do balanço do oferente possa contribuir para minorar o impacto da grande exposição do banco português a Angola.
Outro ponto abordado pelo CEO foi o do preço da OPA, de 1,113 de euros por acção, já classificado de insuficiente pela Santoro e pelo grupo Violas, bem como por pequenos investidores do BPI. Contrapartida que Gortazar recusa rever: “Os accionistas têm de decidir se querem desblindar os estatutos e depois se querem vender ou não” as suas acções. E repetiu o que já tinha sido dito: "o preço está fixado e não será revisto. É 16% mais baixo do que o da OPA anterior [lançada pelo CaixaBank em 2014 a 1,329 euros], mas neste período o sector perdeu 35% do seu valor”. E deu um exemplo: “O BCP perdeu 75%”.
Pela voz do seu presidente, o maior accionista do BPI, veio também esclarecer Tiago Violas Ferreira sobre o que pensava da sua proposta de transformação da OPA numa oferta pública de troca (OPT) de títulos da instituição portuguesa por outros do grupo espanhol: “É difícil mudar os termos”, mas "os accionistas do BPI podem vender as suas acções e investir no CaixaBank", cuja maioria do capital está cotado em bolsa.
Alinhado com outros responsáveis do banco espanhol, Gortazar considerou um problema a falta de rentabilidade da operação doméstica do BPI e sublinhou que o CaixaBank pode contribuir para ajudar a "limitar" as dificuldades (que reflectem, entre outras coisas, a crise económica). Ainda assim, o CEO elogiou a gestão Fernando Ulrich e revelou que o intuito é manter alguns dos actuais gestores em funções, se a OPA triunfar.
O banqueiro alega que a simples passagem do BPI para a esfera do CaixaBank, faria subir para BB (+) o rating da instituição portuguesa, que está hoje em BB (-), quase “lixo” e com perspectiva de evolução incerta. A melhoria do rating vai “facilitar o acesso da instituição portuguesa aos mercados de liquidez e permitir dar mais crédito à economia”, assinalou.
Noutra questão, o CEO foi igualmente claro:o BPI vai manter-se autónomo, cotado na Euronext Lisboa e com outros investidores. Mas foi evasivo quando inquirido se o seu objectivo é, a prazo, mudar a marca comercial para CaixaBank. “Para já essa não é a intenção”, mas o tempo dirá. O que se pretende é fazer corresponder o poder de decisão no BPI ao investimento que ali foi feito.
Saída de trabalhadores
Perante a insistência sobre o que pensava da estimativa da administração do BPI de que a oferta do Caixabank tem implícita a saída de cerca de mil trabalhadores, o banqueiro não se comprometeu e preferiu "atirar" as responsabilidades para a administração (não executiva) liderada por Artur Santos Silva. “Tomando por base os custos de reestruturação anunciados pelo oferente [250 milhões] e as sinergias previstas na rubrica de custos com pessoal [45 milhões], este cenário seria compatível com a saída de cerca de mil colaboradores", pode ler-se no comentário que o conselho de administração do BPI fez à OPA. Um corte de 1000 postos de trabalho no banco BPI (consolidado), traduz-se na saída de mais de 10% dos seus trabalhadores.
Antes de dar por concluído o encontro, Gortazar foi confrontado com a politização do diferendo accionista no BPI, com a mediação, a dada altura, do primeiro-ministro António Costa. Esclareceu, então, que o que está em causa é uma operação financeira e pouco interessa saber se foi ou não politizada. Mas considerou a acção política como natural por se tratar do BPI, “um grande banco”, com 11% de quota de mercado.
Ao pedido de comentário à decisão de António Costa de publicar legislação (conhecida por “diploma BPI”), que vai permitir acabar com os limites dos direitos de voto na instituição portuguesa, como pretende o CaixaBank e a maioria da administração do BPI (mas a que se opõe a Santoro), o banqueiro espanhol replicou: “Isso é o que se verá no final da OPA e de acordo com o resultado.”
O desfecho da operação de bolsa está agendado para o quarto trimestre do ano. Depois de ter recebido luz verde de Bruxelas e do BCE, a OPA lançada em Abril sobre o BPI encontra-se a aguardar pelas autorizações de outros supervisores, como o BNA (Angola) e o BNM (Moçambique). Os timings tornam quase impossível ao BPI (que levantou o caderno de encargos) avançar com uma proposta de aquisição do Novo Banco. A jornalista viajou a convite do CaixaBank