Economista do Banco Mundial diz que Brasil precisa de “golpe de credibilidade”
Augusto de la Torre, economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina, defende acordo político para equilibrar as contas e descida dos juros no Brasil.
O Brasil necessita de um “golpe de credibilidade favorável” que passa por um acordo político “que não parece fácil”, para enfrentar os problemas económicos, disse à Lusa um responsável do Banco Mundial.
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O Brasil necessita de um “golpe de credibilidade favorável” que passa por um acordo político “que não parece fácil”, para enfrentar os problemas económicos, disse à Lusa um responsável do Banco Mundial.
“No Brasil, julgo que os economistas coincidem que a forma de enfrentar estes problemas a nível macroeconómico requer um acordo político que viabilize uma correcção orçamental”, disse em declarações por telefone à Lusa Augusto de la Torre, economista-chefe (chief-economist) da instituição financeira para a América Latina e Caraíbas, e um dos participantes na conferência sobre desigualdade salarial que hoje decorre em Lisboa, organizada pela Nova School of Business and Economics (Nova SBE) da Universidade Nova, Banco Mundial e Banco de Portugal.
Antigo presidente do Banco Central do Equador e ex-economista do Fundo Monetário Internacional (FMI), sendo o representante desta instituição na Venezuela entre 1991 e 1992, De la Torre considerou que o Brasil necessita de “um golpe de credibilidade favorável”, apesar de admitir que “o tema político complica a situação porque a questão económica tem de ser feita em conexão com um diálogo político, que não é fácil”.
O quadro do Banco Mundial assinalou a necessidade de uma correcção orçamental “que não seja muito contractiva e não agrave demasiado a recessão”, e que o Banco Central brasileiro garanta condições para baixar a taxa de juro, para que os investidores “comecem a apostar com mais optimismo no futuro do Brasil”.
Após assinalar a necessidade em separar os elementos económicos e políticos da crise brasileira “porque são de natureza distinta”, recordou que no primeiro segmento os problemas começaram com a queda dos preços dos ‘commodities’ (produtos minerais e agrícolas) e a desaceleração da actividade económica da China.
“As dificuldades políticas agravam a situação porque geram incerteza, e uma reação dos investidores designada ‘wait and see’, preferem não investir até que a situação política se clarifique”, assinala.
“É um golpe adicional que aumenta as dificuldades económicas, porque na ausência de investimento privado será mais difícil introduzir as necessárias correcções orçamentais”.
A ausência de investimento privado, de “reactivação da economia”, de aumento das exportações para os mercados internacionais, podem implicar um agravamento da contracção económica por intermédio dos ajustes orçamentais, como sugeriu.
O economista do Banco Mundial detecta no Brasil uma “estreita margem de manobra”, onde a um “enorme défice orçamental que está perto dos 10% do PIB” se associam as “pressões inflacionárias”, apesar da contracção económica que atinge cerca de 3,5% ao ano.
Neste contexto, detecta uma “relação perversa” entre a política monetária e orçamental, pelo facto de a situação do défice implicar “que o Banco Central não possa ser tão independente na sua política monetária como gostaria”.
Um fenómeno conjunto de inflação e estagnação económica, perante o qual o Banco central “não tem margem” para reduzir a taxa de juro, que poderia ajudar a melhorar a economia. “Porque se o fizer de uma forma um pouco agressiva, a inflação poderá continuar a subir e já está relativamente alta apesar da recessão”, assevera.
“Mas há outro problema muito próprio do Brasil, uma parte da dívida do sector público está indexada à taxa de juro de curtíssimo prazo, que no Brasil se conhece por ‘Selic’, e é uma taxa de juro que pode variar todas as noites”, precisa ainda.
“Quando o Banco Central se vê forçado a manter a taxa de juro alto, ou aumentá-la, para evitar o fenómeno da inflação, cada aumento por pequeno que seja da taxa de juro no Brasil torna a dívida mais cara. E agrava o problema orçamental”, concluiu.