LeBron James pôs fim à longa espera de Cleveland
Cavaliers são campeões da NBA pela primeira vez e acabam com 52 anos sem grandes títulos desportivos da cidade.
“Cobarde”, “traidor” e “desleal”. Estes foram apenas alguns dos epítetos dirigidos a LeBron James, quando em 2010 trocou os Cleveland Cavaliers pelos Miami Heat. Os adeptos dos “Cavs” despromoveram-no de ídolo a traidor, queimaram as suas camisolas com o número 23 e o dono da equipa até escreveu uma carta aberta em que falava do “nosso antigo herói”. Quase seis anos depois, e dois após o regresso a casa, LeBron James volta a ser o “rei” dos Cavaliers, campeões da NBA pela primeira vez, e da cidade de Cleveland, que há 52 anos não via uma equipa sua ganhar um grande título desportivo.
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“Cobarde”, “traidor” e “desleal”. Estes foram apenas alguns dos epítetos dirigidos a LeBron James, quando em 2010 trocou os Cleveland Cavaliers pelos Miami Heat. Os adeptos dos “Cavs” despromoveram-no de ídolo a traidor, queimaram as suas camisolas com o número 23 e o dono da equipa até escreveu uma carta aberta em que falava do “nosso antigo herói”. Quase seis anos depois, e dois após o regresso a casa, LeBron James volta a ser o “rei” dos Cavaliers, campeões da NBA pela primeira vez, e da cidade de Cleveland, que há 52 anos não via uma equipa sua ganhar um grande título desportivo.
O feito de LeBron James e companhia ganha ainda maior dimensão porque era altamente improvável serem eles os campeões. Não só defrontavam os Golden State Warriors, que venceram a época regular com um recorde de 73 vitórias em 82 jogos, como ao fim de quatro jogos da final perdiam por 3-1, uma desvantagem nunca antes recuperada. Só que, apesar de tudo, o desporto (e a NBA em particular) continua a ter uma dose de imprevisibilidade capaz de desorientar até o mais imaginativo dos guionistas. E eis que os Cavaliers venceram os últimos três jogos da final, dois dos quais em Oakland, casa dos Warriors.
O episódio final foi o triunfo dos Cavaliers por 93-89 no domingo à noite (madrugada em Portugal), com Kyrie Irving a marcar um “triplo” a 53 segundos do fim e LeBron James a apontar o lance livre que fixou o resultado final. Para se perceber melhor a dimensão do feito, pode-se acrescentar que nas 32 ocasiões anteriores em que uma equipa esteve a perder a final por 3-1, o melhor que tinha conseguido era obrigar a um sétimo jogo (duas vezes).
“Há dois anos, quando voltei, estabeleci como objectivo dar o campeonato a esta cidade. Dei tudo o que tinha. O meu coração, o meu sangue, o meu suor, as minhas lágrimas. Contra todas as probabilidades, conseguimos”, descreveu LeBron James, que chorou assim que terminou o encontro em que registou 27 pontos, 11 ressaltos e 11 assistências. “Não sei por que o homem lá de cima me deu o caminho mais difícil, mas o homem lá de cima não nos põe em situações que não conseguimos resolver. Mantive a atitude positiva. E em vez de dizer ‘porquê eu?’, pensei que era isto que Ele queria que eu fizesse. Cleveland, isto é para ti”, acrescentou o jogador, que é apelidado como “rei” ou “o escolhido”.
LeBron foi considerado o melhor jogador (MVP) da final, repetindo o que já acontecera nos títulos conquistados em Miami (2012 e 2013). Esta distinção coloca-o ao lado de Shaquille O'Neal, Tim Duncan e Magic Johnson na lista dos jogadores que foram três vezes o MVP da final — melhor só Michael Jordan (seis vezes MVP).
“O que se passa na minha cabeça é que estou pronto para voltar para Cleveland. Mal posso esperar para sair do avião, segurar o troféu e ver os nossos adeptos no terminal”, disse ainda LeBron, que jogou a sua sexta final seguida e terminou esta série como o melhor em todas as estatísticas (média de 29,7 pontos, 11,3 ressaltos e 8,7 passes).
Além do “triplo” de Irving a 53 segundos do fim, quando o jogo estava empatado 89-89, há outro lance desta final que perdurará na memória: um “contra” de LeBron a Andre Iguodala. “É fácil ver o talento dele, a forma como ele controla o jogo. Mas a principal razão por que ele merece [ser o MVP] é que tem um grande coração... E às grandes pessoas acontecem grandes coisas”, resumiu Tyronn Lue, que em Janeiro foi promovido de adjunto a técnico principal para orientar uma equipa dividida e que “nem em sonhos” imaginava que iria ser campeão. “Fico feliz por um rapaz de uma cidade pequena ter feito algo positivo”, disse Lue.
Este título põe fim à longa espera dos Cavaliers (venceram pela primeira vez e tornaram-se a 19.ª equipa a conquistar um título na NBA) e também ao jejum de Cleveland. Desde 1964, quando os Browns venceram a liga de futebol americano, que a cidade não via uma equipa sua conquistar um grande título. Em contrapartida à festa de Cleveland, vive-se a desilusão nos Golden State Warriors, que estiveram perto de ser bicampeões mas caíram perto do fim. Stephen Curry jogou a final, após recuperar de uma lesão, mas não conseguiu regressar à sua melhor forma. No sétimo jogo, ficou-se pelos 17 pontos e a sua equipa ressentiu-se. “Isto dói”, reagiu Curry, mostrando-se no entanto orgulhoso pelo trabalho feito pela sua equipa. “Ainda temos muitas oportunidades para lutar pelo campeonato”, afirmou, olhando já para as próximas temporadas.
Agora, contudo, é tempo de festa no Ohio. “Estou ansioso por chegar a Cleveland com este troféu de campeão. Penso que o desfile nas ruas da cidade vai ser uma das maiores festas, ou melhor, a maior festa da história de Cleveland”, disse um eufórico LeBron James, que mereceu rasgados elogios dos companheiros de equipa. “Vi Beethoven tocar uma das suas sinfonias. Ele mostrou porque é o melhor jogador do planeta, apesar do que dizem os seus detractores”, disse Irving, outras das figuras deste campeonato. “Conquistar um título após regressar a Cleveland, e depois de tudo o que ele passou, é formidável. Ele é o nosso líder”, acrescentou o extremo Kevin Love.
E LeBron não escondeu que há um travo de vingança neste título. “As pessoas não acreditavam em nós, não acreditavam em mim”, disse o jogador de 31 anos. “Admito que é a cereja em cima do bolo mostrar que tenho palavra e que este título é o resultado de muito trabalho. Este título é para os que não acreditavam em mim”, afirmou LeBron, de novo o “rei” incontestado de Cleveland. O dono dos Cavaliers, Dan Gilbert, já pode voltar a considerá-lo um “herói”. Tanto que no fim do jogo disse que LeBron deveria candidatar-se à Presidência dos EUA...