A arte do poster fixou-se nas paredes de Xabregas

A galeria de arte ao ar livre expõe, a partir desta quinta-feira, 25 posters assinados por nomes inesperados como José Luís Peixoto, Valter Hugo Mãe, The Legendary Tigerman e Wasted Rita.

Fotogaleria

Quem percorre as ruas do bairro de Xabregas, em Lisboa, de olhos postos no alto, dá conta da nova vida que brota de edifícios outrora abandonados da zona industrial. São 25 posters criados por um conjunto multidisciplinar de artistas que inclui os escritores José Luís Peixoto e Valter Hugo Mãe, o músico The Legendary Tigerman e a artista Wasted Rita, e que podem ser vistos a partir desta quinta-feira e até 7 de Julho.

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Quem percorre as ruas do bairro de Xabregas, em Lisboa, de olhos postos no alto, dá conta da nova vida que brota de edifícios outrora abandonados da zona industrial. São 25 posters criados por um conjunto multidisciplinar de artistas que inclui os escritores José Luís Peixoto e Valter Hugo Mãe, o músico The Legendary Tigerman e a artista Wasted Rita, e que podem ser vistos a partir desta quinta-feira e até 7 de Julho.

A mostra pública Poster, criada pela Departamento, surgiu para encurtar a discrepância entre os criativos e os locais do bairro. “O poster pretende servir como ponte e trazer as pessoas a esta zona”, explica Bruno Pereira, director da Departamento. A iniciativa surge, também, para resgatar o formato de comunicação de 1,80x1,20cm, que está constantemente presente no nosso quotidiano.

A “galeria pública a céu aberto” teve a curadoria dos próprios artistas, que apresentaram propostas à organização. A única exigência foi o desafio fora do formato que retirou arquitectos, fotógrafos, escritores e ilustradores da sua zona de conforto. “A mais-valia aqui é que conseguimos ver a peça isolada sem vê-la numa galeria branca”, afirma Bruno Pereira. Houve ainda uma open call que resultou na selecção de cinco trabalhos, dos quase 50 que foram enviados pelo público.

Morrer nas paredes

Cada artista jogou com a palavra e com a imagem para comunicar com a população local, sem deixar a identidade das suas criações para segundo plano. A obra de Wasted Rita obedece ao seu registo sarcástico e “contraria a ideia de que no poster é a imagem que é predominante, usando somente texto”, diz Joana Subtil, guia da visita para a imprensa da manhã desta quinta-feira.

A fotografia de Eduardo Sena, “artista contemporâneo com uma visão industrial e urbana”, também está presente e foi cedida pelo Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado. Já o músico The Legendary Tigerman mostra que também há lugar para a polaroid na parede.

O arquitecto Pedro Campos Costa aventurou-se da maquete para a parede e “passou dois dias a ver o que poderia criar aqui”, conta Bruno Pereira. O seu poster encaixa perfeitamente numa janela de um edifício acabado de vender por 30 milhões de euros e cria suspense sobre o que poderá vir a nascer ali.

Bruno Pereira apercebe-se, durante o percurso, de que um dos posters da open call, da autoria de Nicolae Negura, foi roubado. “Faz parte, vamos substituí-lo, como a outros que possam desaparecer”, assegura o responsável.

O escritor José Luís Peixoto, por sua vez, criou um poster que fala com o observador, “aludindo à efemeridade da vida e do próprio poster”, diz outra guia da visita, Ana Cruz. Já Valter Hugo Mãe invoca, através da palavra, a “reconversão do espaço” e o escritor e ilustrador Afonso Cruz usa a parede para criticar a “influência da tecnologia na rotina e nas relações humanas”.

Mas a interdisciplinaridade proposta por Poster reflecte-se também, no trabalho do ateliê And-Ré em colaboração com o escritor Gonçalo M. Tavares, cuja obra é inspiração para vários artistas, e “define a parede como modeladora da expressão urbana”.

Além de dispersas pelas paredes do bairro, as obras da mostra estão concentradas num só espaço de um armazém da Rua Pereira Henriques, "para quem não quiser percorrer as ruas ou gostar de ver mais de perto", diz Bruno Pereira. Aí poderão também ser encontrados os trabalhos resultantes do workshop Mini Poster, que recebeu crianças e jovens entre os 11 e 25 anos de quatro instituições de cariz social da zona.

Os posters agora criados poderão ser adquiridos posteriormente na loja online da mostra, mas Bruno refere que “nem todos estarão disponíveis, porque há artistas que querem que os posters morram nestas paredes”. É o caso da colaboração entre And-Ré e Gonçalo M.Tavares.

Esta sexta-feira, a Poster realiza uma conferência com Pedro Costa Campos, Paulo José Silva e David Rosado e também haverá visitas guiadas sexta, sábado e domingo. 

Texto editado por Inês Nadais