Falta de enfermeiros está a obrigar hospitais a encerrar camas

Aviso é da bastonária dos enfermeiros. Secretário de Estado da Saúde diz que é preciso distribuir melhor estes profissionais.

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Até agora, a Ordem dos Enfermeiros contabilizou 11 camas sem doentes Enric Vives-Rubio (arquivo)

A bastonária dos enfermeiros, Ana Rita Cavaco, diz que a falta destes profissionais está a obrigar os hospitais a encerrar camas.

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A bastonária dos enfermeiros, Ana Rita Cavaco, diz que a falta destes profissionais está a obrigar os hospitais a encerrar camas.

Até agora, a Ordem dos Enfermeiros contabilizou 11 camas sem doentes, duas em Lisboa, no serviço do Hospital de S. José onde nasceu o bebé da mãe em morte cerebral, e as restantes no serviço de Ortopedia do Hospital de Santo António, no Porto. Mas Ana Rita Cavaco diz que os hospitais da Guarda, Guimarães e Faro enfrentam problemas idênticos, razão pela qual poderão vir a seguir o exemplo dos outros dois — tal como outros serviços do Santo António.

Segundo a bastonária, trata-se de uma situação inédita. Um porta-voz do Hospital de Santo António diz que foram encerradas sete camas, e não nove, "devido à situação atípica de dez baixas médicas de enfermeiros" no serviço de Ortopedia, "sete motivadas por gravidez e duas por doença". O procedimento para a contratação de substitutos que permitam reabrir as camas fechadas na passada sexta-feira deverá estar concluído "nos próximos dias". O mesmo porta-voz não se pronuncia sobre a eventualidade de outros serviços da unidade de saúde virem a ter de recorrer à mesma medida.

Em causa, explica a bastonária, está um despacho do Ministério da Saúde com cerca de mês e meio que retira às administrações hospitalares autonomia para contratar enfermeiros de substituição quando algum destes profissionais entra em baixa prolongada. A autorização de contratação está agora dependente do aval do Ministério da Saúde, ao qual o mesmo diploma dá um prazo de 72 horas para permitir ou não a substituição. O problema, observa Ana Rita Cavaco, é que “há hospitais à espera dessa autorização há um mês”. Já a assessora de imprensa do centro hospitalar em que se insere o Hospital de S. José não confirma nem desmente as afirmações da bastonária. Limita-se a referir que a unidade de saúde tem em curso uma "reorganização dos serviços" para "manter a qualidade e segurança dos cuidados prestados", apesar dos "constrangimentos que são do conhecimento geral".

As revelações da bastonária foram feitas à margem da apresentação do relatório de Primavera do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, de acordo com o qual as desigualdades entre os portugueses no acesso a este tipo de cuidados aumentaram entre 2005 e 2014. Também presente no encontro, o secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado, desvalorizou o problema: “O fecho de camas não é um mal em si mesmo: precisamos mais de serviços de saúde de proximidade. Não tenho a certeza de que as faltas de enfermeiros sejam extremas ou dramáticas. O que tem de ser feito é uma melhor distribuição” destes profissionais, reagiu o governante. O que pode passar, na perspectiva de Manuel Delgado, por "racionalizar" o número de utentes atribuídos a cada profissional, uma vez que "há hospitais que têm mais e outros que têm menos enfermeiros por doente".

"O secretário de Estado não pode redistribuir o que não tem", observa Ana Rita Cavaco, acrescentando ainda que são cada vez mais frequentes as baixas médicas entre os enfermeiros por esgotamento e também por gravidez. "Com as condições de trabalho que existem actualmente, se eu estivesse grávida faria o mesmo", refere a bastonária. Pelas contas da Ordem, o Serviço Nacional de Saúde tem um défice de 20 a 25 mil enfermeiros.