Apelar à emigração ou não apelar, eis a questão
O primeiro-ministro recusa ser comparado com o anterior, negando ter apelado à emigração de professores de português.
António Costa não gostou de ser comparado a Passos Coelho no que ao apelo à emigração de portugueses diz respeito. Depois de as palavras do primeiro-ministro terem sido comparadas, durante o fim-de-semana, a declarações de Passos Coelho sobre emigração de professores, Costa escreveu na rede social Twitter para encerrar o assunto.
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António Costa não gostou de ser comparado a Passos Coelho no que ao apelo à emigração de portugueses diz respeito. Depois de as palavras do primeiro-ministro terem sido comparadas, durante o fim-de-semana, a declarações de Passos Coelho sobre emigração de professores, Costa escreveu na rede social Twitter para encerrar o assunto.
No tweet da conta oficial do chefe do Governo, Costa diz: "A estrada da Beira e a beira da estrada não são a mesma coisa, pois não? Pois... Eu também não apelei à emigração". Associado ao texto está a transcrição da conversa com os jornalistas em Paris, de onde saiu a frase que levantou polémica, sobretudo nas redes sociais, mas também em alguma meios de comunicação social.
Em causa estava uma declaração do primeiro-ministro que na viagem que fez a Paris, para a comemoração do 10 de Junho, disse: "É uma oportunidade de trabalho para muitos professores de português que, por via das alterações demográficas, não têm trabalho em Portugal e podem encontrar trabalho aqui, em França".
A frase foi associada a outra, dita por Passos Coelho no auge da crise. "Haverá muita gente em Portugal que (...) querendo manter-se, sobretudo como professores, pode olhar para todo o mercadora língua portuguesa e encontrar aí uma alternativa", disse na altura o primeiro-ministro o que foi criticado, por muitos socialistas, como uma tentativa de apelar à emigração. Cinco anos depois, os papéis invertem-se.
Para Catarina Martins, declarações de Costa foram infelizes
A porta-voz do Bloco de Esquerda Catarina admitiu que as polémicas declarações foram infelizes: “Quando se utiliza um argumento que não é certo, nunca é uma escolha feliz”, disse aos jornalistas, à margem de uma audição pública sobre assédio moral no trabalho, em Lisboa.
Os jornalistas insistiram: podem ser comparadas às que o antigo primeiro-ministro fez em 2011? “O senhor primeiro-ministro veio hoje [terça-feira] dizer que não era essa a sua intenção. Agora, repito, a nós preocupa-nos que se continue a laborar num erro sobre a proporção entre alunos e professores no nosso país, porque de facto diminuiu-se muito o número de professores face à diminuição do número de alunos. Isso é um problema para a escola, para a escola pública que é urgente corrigir”, alertou Catarina Martins.
Apesar da explicação já dada por António Costa, a bloquista não escondeu que as declarações lhe fizeram lembrar memórias que preferia não recordar – as declarações de Passos Coelho em 2011: “Manter-se o uso do argumento demográfico faz uma similitude que nós preferíamos que não acontecesse.” E até aproveitou para deixar um conselho a António Costa: “Espero bem que o senhor primeiro-ministro vá consultar os números sobre redução do número de alunos e do número de professores”, disse, rematando que Portugal “tem professores a menos” e precisa “de mais professores para um ensino com mais qualidade”.
Para a bloquista, o “maior erro” das declarações de Costa “é tentar juntar a um problema demográfico o problema do crescente desemprego de professores”. Isso é, frisou, “um argumento que não colhe com a realidade”. Porquê? “Nos últimos anos, o número de alunos em Portugal desceu 6% e o número de professores em Portugal desceu 20%. O desemprego dos professores não é uma questão demográfica, mas sim resultado de uma escolha política”, disse, acrescentando que os bloquistas ficam preocupados que “o primeiro-ministro utilize um argumento que é falso”.