Jihadista que matou polícia em Paris tinha lista de alvos a abater

Apesar do estado de emergência e da segurança reforçada no país, Abballa matou polícias e ameaçou transformar o Euro num “cemitério”. É muito difícil controlar estas “toupeiras”, disse o ministro do Interior.

Fotogaleria

“O Euro será um cemitério”. Depois de ter morto um polícia na segunda-feira à noite, e enquanto tinha como refém a companheira deste e o filho do casal, Larossi Abballa filmava-se e publicava o vídeo em simultâneo no Facebook Live. O atacante, um francês de 25 anos, prestou fidelidade ao autoproclamado Estado Islâmico. O seu gesto serviu, segundo o próprio, para “responder favoravelmente ao xeque Adnani”, o porta-voz do grupo jihadista que pediu uma onda de ataques durante o Ramadão.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“O Euro será um cemitério”. Depois de ter morto um polícia na segunda-feira à noite, e enquanto tinha como refém a companheira deste e o filho do casal, Larossi Abballa filmava-se e publicava o vídeo em simultâneo no Facebook Live. O atacante, um francês de 25 anos, prestou fidelidade ao autoproclamado Estado Islâmico. O seu gesto serviu, segundo o próprio, para “responder favoravelmente ao xeque Adnani”, o porta-voz do grupo jihadista que pediu uma onda de ataques durante o Ramadão.

Eram 20h30 (menos uma hora em Lisboa) quando Jean-Baptiste S., adjunto do serviço de Segurança Urbana, de 42 anos, se prepara para entrar em casa, em Magnanville, na região de Paris. Escondido atrás do portão, Larossi Abballa ataca-o com uma faca, infligindo vários golpes. O comandante da polícia consegue ainda fugir, avisando os vizinhos para se esconderem e chamarem as autoridades – um gesto considerado heróico pelos colegas, refere o Figaro. Mas Abballa apanha-o e desfere “mais golpes no torso”, que acabam por o matar. Os bombeiros que vieram em seu auxílio já nada puderam fazer.

O assassino segue para casa do polícia, tomando como reféns a companheira deste, Jessica S., de 36 anos, secretária no comissariado de Mantes-la-Jolie (onde Abballa vivia), e o filho de três anos. Passava muito pouco da meia-noite quando a brigada RAID lança um ataque. Abballa é abatido. As forças policiais encontram Jessica com um golpe no pescoço, já sem vida. A criança, de três anos, parecia ilesa, apesar de estar “em estado de choque”, segundo as autoridades.

Testemunhas que tentaram ajudar Jean-Baptiste ouviram claramente o seu assassino afirmar que matou em nome do Estado Islâmico – que logo depois reivindicou o ataque, através da agência Amaq. Nas trocas de palavras com a polícia, Abballa afirmou ser muçulmano praticante, cumpridor do Ramadão e que três semanas antes prestou fidelidade ao comandante dos seguidores do EI, Abou Bakr al-Baghdadi.

A pista terrorista está a ser investigada, mas o Presidente François Hollande declarou já tratar-se de “um acto incontestavelmente terrorista”, e que a França enfrenta uma ameaça “de grande importância”.  

Segundo adiantou o procurador de Paris François Molins numa conferência de imprensa, Abballa sabia que a vítima era polícia e tinha com ele uma “lista de alvos” que incluía rappers, jornalistas e polícias, e que foi encontrada na moradia das vítimas. Estava sob escuta e a ser vigiado no âmbito de uma investigação a uma célula jihadista síria. Mas nada permitiu concluir que estaria a preparar um ataque, admitiu Molins.

Abballa era originário de Mantes-la-Jolie, uma localidade a cerca de 60 quilómetros a oeste da capital. Em 2013 foi condenado a três anos de prisão por ter recrutado e treinado voluntários para a jihad, depois de ter partido para o Paquistão. Tinha também no cadastro vários crimes de delito comum. “Durante o tempo na prisão, foi responsável por actos de proselitismo do islamismo radical”, assinalados pelas autoridades prisionais, adiantou o procurador.

Este ataque acontece em pleno Campeonato Europeu de futebol, e menos de dois dias depois do massacre de Orlando (Estados Unidos), também reivindicado pelo EI, que fez 49 mortos e 53 feridos num bar frequentado por homossexuais. E faz ecoar os atentados de Paris, em Novembro, nos quais morreram 130 pessoas. “É um acto terrorista abjecto”, comentou Bernard Cazeneuve, o ministro francês do Interior, depois de uma reunião de emergência com Hollande. “Mais de uma centena de indivíduos que representam uma ameaça para a segurança dos franceses foram detidos desde o início de 2016”, adiantou o ministro. Mas ataques perpetrados por pessoas com o perfil de Abballa, que se infiltram como toupeiras, são difíceis de antecipar.

O porta-voz do grupo terrorista, Abu Muhammad al-Adnani, incentivou os que seguem as suas causas a cometerem atentados terroristas durante o Ramadão, numa mensagem publicada em Maio: "A mais pequena operação que vocês realizarem no coração da terra deles é mais cara para nós do que a maior operação realizada por nós, e mais eficaz e penalizadora para eles."

Abballa decidiu “responder favoravelmente” ao repto, disse nas filmagens que publicou em directo no Facebook, com o nome de “Mohamed Ali”, e que foram descobertas pelo jornalista David Thomson, segundo o Le Monde. A página já não está acessível, mas Thomson relata na sua conta no Twitter o que viu: “O bebé está atrás dele, no sofá. Depois de ter morto os seus pais, ele diz: ‘Não sei o que vou fazer com ele’”.