Donald Trump revoga credenciais dos jornalistas do The Washington Post

Candidato à presidência não gostou de um título e decidiu bloquear o acesso à sua campanha aos repórteres de um dos mais influentes jornais dos Estados Unidos.

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Donald Trump não quer os jornalistas do The Washington Post nas suas acções de campanha AFP/TIMOTHY A. CLARY

O presumível nomeado do Partido Republicano Donald Trump revogou todas as credenciais distribuídas a jornalistas do The Washington Post para cobrir a sua campanha, e baniu-os de participar nos eventos oficiais da sua candidatura, numa decisão inusitada que foi justificada com o seu “descontentamento” com as notícias sobre si publicadas pelo diário da capital norte-americana, um dos títulos mais respeitados e influentes dos Estados Unidos.

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O presumível nomeado do Partido Republicano Donald Trump revogou todas as credenciais distribuídas a jornalistas do The Washington Post para cobrir a sua campanha, e baniu-os de participar nos eventos oficiais da sua candidatura, numa decisão inusitada que foi justificada com o seu “descontentamento” com as notícias sobre si publicadas pelo diário da capital norte-americana, um dos títulos mais respeitados e influentes dos Estados Unidos.

A decisão foi comunicada pelo próprio, através do Facebook. “Atendendo à cobertura jornalística incrivelmente imprecisa e incorrecta de uma campanha que está a bater todos os recordes, decidimos revogar as credenciais do falso e desonesto Washington Post”, escreveu o candidato, que antes tinha descrito os títulos das notícias sobre as suas declarações relativas ao ataque à discoteca Pulse, de Orlando, como “uma tristeza”.

“Não sou nenhum fã do Presidente Obama, mas para que vejam como o Washington Post é falso e desonesto, olhem o que eles escreveram no título: ‘Donald Trump sugere envolvimento entre o Presidente Obama e o tiroteio de Orlando'. Que tristeza!”, considerou. A notícia do Washintgon Post citava as declarações do magnata do imobiliário convertido em concorrente à presidência dos EUA à cadeia Fox News, horas depois do atentado. “Somos liderados por um homem que ou não é duro ou não é esperto, ou que então tem outra coisa em mente. E o que pode ser o que ele tem em mente? As pessoas não conseguem acreditar que o Presidente Obama age da forma como age, sem sequer mencionar as palavras 'terrorismo radical islâmico'. Passa-se alguma coisa. É inconcebível. Passa-se alguma coisa”, afirmou Trump.

O título original da notícia foi alterado pouco depois da primeira publicação, e passou a dizer “Donald Trump tenta associar o Presidente Obama ao tiroteio de Orlando” – a alteração, que foi feita por iniciativa dos editores do jornal, procurava “reflectir com maior exactidão as palavras de Trump”, explicou a vice-presidente de Comunicações do Washington Post, Kristine Coratti Kelly, numa entrevista à rádio pública NPR. Kelly esclareceu ainda que a campanha do magnata não apresentou qualquer queixa ao jornal.

O editor executivo do The Washington Post, Martin Baron, reagiu num comunicado, exprimindo o seu “orgulho” no trabalho jornalístico dos diversos profissionais que acompanham a campanha de Donald Trump e garantindo que o jornal continuará a cumprir o seu papel de escrutínio do candidato à presidência. “A decisão de Donald Trump corresponde a um repúdio do papel de uma imprensa livre e independente. Quando a cobertura não é aquela que o candidato deseja, as credenciais são retiradas. Mas nem assim o Washington Post deixará de escrever sobre a candidatura de Donald Trump”, sublinhou.

Os embates entre Donald Trump e os media norte-americanos são constantes: o choque com o The Washington Post é apenas mais um episódio de um já longo folhetim, em que outras organizações como a Univision, Huffington Post, Politico, Daily Beast, Des Moines Register ou New Hampshire Union Leador foram antes alvo do mesmo tipo de retaliação. Em poucos meses, a sua campanha foi acusada de enganar ou insultar jornalistas e até de exercer violência física sobre repórteres, para impedir o seu acesso ao candidato ou para travar a publicação de notícias sobre ele.

Os jornalistas do vetusto diário de Washington – responsável pela publicação do célebre escândalo Watergate que levou à demissão do Presidente Richard Nixon – já estavam na mira do candidato há vários meses. Trump queixava-se do alegado “desequilíbrio” e parcialidade da cobertura jornalística da sua campanha, e classificava alguns dos repórteres do jornal como “chatos”, “torpes e vis”. Em particular, o magnata ficou furioso com as notícias assinadas por David Farenthold e que mostravam que não tinha entregue os donativos prometidos a grupos de veteranos do Exército americano depois um evento de recolha de fundos em Janeiro. Quando as primeiras notícias foram publicadas, a campanha reagiu contra o jornalista, mas depois acabou por convocar a imprensa para mostrar o cheque no valor de um milhão de dólares que assinou e endossou aos antigos soldados americanos.

As queixas não abrangem apenas a redacção mas também o proprietário do jornal, Jeff Bezos, que Trump acusa de manipulação e instrumentalização do Washington Post com o objectivo de beneficiar o seu outro grande negócio, que é a Amazon. No mesmo comunicado em que anuncia a retirada das credenciais dos jornalistas do diário, a campanha esclarece que “não se sente compelida a trabalhar com uma publicação que coloca os cliques acima da integridade jornalística. Isso é coisa que eles não têm, e por isso escrevem falsidades. Donald Trump não se importa que uma notícia seja negativa desde que seja honesta”.