Donald Trump revoga credenciais dos jornalistas do The Washington Post
Candidato à presidência não gostou de um título e decidiu bloquear o acesso à sua campanha aos repórteres de um dos mais influentes jornais dos Estados Unidos.
O presumível nomeado do Partido Republicano Donald Trump revogou todas as credenciais distribuídas a jornalistas do The Washington Post para cobrir a sua campanha, e baniu-os de participar nos eventos oficiais da sua candidatura, numa decisão inusitada que foi justificada com o seu “descontentamento” com as notícias sobre si publicadas pelo diário da capital norte-americana, um dos títulos mais respeitados e influentes dos Estados Unidos.
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O presumível nomeado do Partido Republicano Donald Trump revogou todas as credenciais distribuídas a jornalistas do The Washington Post para cobrir a sua campanha, e baniu-os de participar nos eventos oficiais da sua candidatura, numa decisão inusitada que foi justificada com o seu “descontentamento” com as notícias sobre si publicadas pelo diário da capital norte-americana, um dos títulos mais respeitados e influentes dos Estados Unidos.
A decisão foi comunicada pelo próprio, através do Facebook. “Atendendo à cobertura jornalística incrivelmente imprecisa e incorrecta de uma campanha que está a bater todos os recordes, decidimos revogar as credenciais do falso e desonesto Washington Post”, escreveu o candidato, que antes tinha descrito os títulos das notícias sobre as suas declarações relativas ao ataque à discoteca Pulse, de Orlando, como “uma tristeza”.
“Não sou nenhum fã do Presidente Obama, mas para que vejam como o Washington Post é falso e desonesto, olhem o que eles escreveram no título: ‘Donald Trump sugere envolvimento entre o Presidente Obama e o tiroteio de Orlando'. Que tristeza!”, considerou. A notícia do Washintgon Post citava as declarações do magnata do imobiliário convertido em concorrente à presidência dos EUA à cadeia Fox News, horas depois do atentado. “Somos liderados por um homem que ou não é duro ou não é esperto, ou que então tem outra coisa em mente. E o que pode ser o que ele tem em mente? As pessoas não conseguem acreditar que o Presidente Obama age da forma como age, sem sequer mencionar as palavras 'terrorismo radical islâmico'. Passa-se alguma coisa. É inconcebível. Passa-se alguma coisa”, afirmou Trump.
O título original da notícia foi alterado pouco depois da primeira publicação, e passou a dizer “Donald Trump tenta associar o Presidente Obama ao tiroteio de Orlando” – a alteração, que foi feita por iniciativa dos editores do jornal, procurava “reflectir com maior exactidão as palavras de Trump”, explicou a vice-presidente de Comunicações do Washington Post, Kristine Coratti Kelly, numa entrevista à rádio pública NPR. Kelly esclareceu ainda que a campanha do magnata não apresentou qualquer queixa ao jornal.
O editor executivo do The Washington Post, Martin Baron, reagiu num comunicado, exprimindo o seu “orgulho” no trabalho jornalístico dos diversos profissionais que acompanham a campanha de Donald Trump e garantindo que o jornal continuará a cumprir o seu papel de escrutínio do candidato à presidência. “A decisão de Donald Trump corresponde a um repúdio do papel de uma imprensa livre e independente. Quando a cobertura não é aquela que o candidato deseja, as credenciais são retiradas. Mas nem assim o Washington Post deixará de escrever sobre a candidatura de Donald Trump”, sublinhou.
Os embates entre Donald Trump e os media norte-americanos são constantes: o choque com o The Washington Post é apenas mais um episódio de um já longo folhetim, em que outras organizações como a Univision, Huffington Post, Politico, Daily Beast, Des Moines Register ou New Hampshire Union Leador foram antes alvo do mesmo tipo de retaliação. Em poucos meses, a sua campanha foi acusada de enganar ou insultar jornalistas e até de exercer violência física sobre repórteres, para impedir o seu acesso ao candidato ou para travar a publicação de notícias sobre ele.
Os jornalistas do vetusto diário de Washington – responsável pela publicação do célebre escândalo Watergate que levou à demissão do Presidente Richard Nixon – já estavam na mira do candidato há vários meses. Trump queixava-se do alegado “desequilíbrio” e parcialidade da cobertura jornalística da sua campanha, e classificava alguns dos repórteres do jornal como “chatos”, “torpes e vis”. Em particular, o magnata ficou furioso com as notícias assinadas por David Farenthold e que mostravam que não tinha entregue os donativos prometidos a grupos de veteranos do Exército americano depois um evento de recolha de fundos em Janeiro. Quando as primeiras notícias foram publicadas, a campanha reagiu contra o jornalista, mas depois acabou por convocar a imprensa para mostrar o cheque no valor de um milhão de dólares que assinou e endossou aos antigos soldados americanos.
As queixas não abrangem apenas a redacção mas também o proprietário do jornal, Jeff Bezos, que Trump acusa de manipulação e instrumentalização do Washington Post com o objectivo de beneficiar o seu outro grande negócio, que é a Amazon. No mesmo comunicado em que anuncia a retirada das credenciais dos jornalistas do diário, a campanha esclarece que “não se sente compelida a trabalhar com uma publicação que coloca os cliques acima da integridade jornalística. Isso é coisa que eles não têm, e por isso escrevem falsidades. Donald Trump não se importa que uma notícia seja negativa desde que seja honesta”.
Based on the incredibly inaccurate coverage and reporting of the record setting Trump campaign, we are hereby: https://t.co/THKJwjNkaz
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) June 13, 2016