Corbyn entra finalmente em campo no debate do “Brexit”
Líder trabalhista diz estar a defender o melhor que pode a continuação do Reino Unido na União Europeia.
A menos de dez dias do referendo à permanência do Reino Unido na União Europeia, o líder dos trabalhistas, Jeremy Corbyn, entrou finalmente na campanha. Numa altura em que as sondagens mostram um empate técnico, os votos da esquerda são vistos como determinantes.
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A menos de dez dias do referendo à permanência do Reino Unido na União Europeia, o líder dos trabalhistas, Jeremy Corbyn, entrou finalmente na campanha. Numa altura em que as sondagens mostram um empate técnico, os votos da esquerda são vistos como determinantes.
“Estamos a defender o melhor que podemos” a continuação do Reino Unido na UE, disse Corbyn durante um encontro que reuniu o “Governo-sombra” do Labour.
O líder do Partido Trabalhista tem sido a ausência mais presente na campanha do referendo que vai perguntar aos britânicos se querem abandonar o bloco europeu. Corbyn espelha posições de difícil conciliação. O seu percurso político foi feito na ala mais à esquerda do Labour, tradicionalmente mais eurocéptica que o resto do partido, e ele próprio foi um apoiante da saída do Reino Unido no referendo de 1975. Mas como líder do partido que se assume como baluarte do europeísmo — face aos tories cada vez mais divididos — a permanência na UE torna-se uma prioridade.
Corbyn tentou fazer a quadratura do círculo, apostando numa defesa do projecto europeu a partir dos progressos alcançados em matéria de direitos sociais. “Queremos defender as grandes vitórias alcançadas pelos sindicatos em toda a Europa que nos trouxeram melhores condições de trabalho, férias mais longas, menos discriminação e licenças de maternidade e paternidade. Acreditamos que um voto na saída irá pôr em risco, de forma séria e imediata, muitas destas coisas.”
A liderança trabalhista não quis arriscar seguir a mesma estratégia levada a cabo durante a campanha para o referendo sobre a independência da Escócia, em Setembro de 2014. Ed Miliband, o então líder do partido, apareceu ao lado de David Cameron e de outros conservadores a apelar à permanência da Escócia no Reino Unido.
A campanha conhecida como Better Together conseguiu alcançar o seu objectivo, mas os analistas não tardaram em ligar a estratégia de Miliband à desastrosa prestação do Labour nas eleições gerais oito meses mais tarde.
Desta vez, Corbyn sentou-se no banco de trás, deixou a condução da campanha para os conservadores e até teve direito a dez dias de férias em Maio, em plena discussão sobre o futuro do Reino Unido na UE. Entretanto, o debate sobre o referendo transformou-se numa luta fratricida entre os tories, protagonizada por David Cameron e pelo ex-mayor de Londres e presumível candidato à liderança do partido, Boris Johnson.
A postura de Corbyn foi criticada dentro e fora do partido. A revista britânica The Economist — que nunca escondeu as reticências em relação ao líder dos trabalhistas — chegou mesmo a sugerir que Corbyn estaria a “sabotar” a campanha do Remain, tendo em vista a desagregação dos conservadores e uma potencial vitória em eleições antecipadas.
As sondagens apontam para um cenário de grande incerteza — a média dos inquéritos nos últimos dias mostram um empate técnico — e em que cada voto será determinante. Esta terça-feira, a campanha a favor do “Brexit” somou um importante, embora previsível apoio. O Sun, tablóide mais vendido no Reino Unido, declarou o seu apoio à saída do Reino Unido. “Se ficarmos [na UE], o Reino Unido será engolido dentro de poucos anos por este estado federal em permanente crescimento e dominado pela Alemanha”, justificava o jornal, em editorial.
À esquerda também surgem apelos para uma campanha mais forte por parte do Labour. Na revista New Stastesman, o colunista Michael Chessum escrevia que “é tempo de a esquerda acordar para o ‘Brexit’”. “Apenas a esquerda pode travar o tipo de contra-ataque ideológico de que necessitamos nestes últimos dias de campanha”, concluiu o activista.
Com o partido adormecido, têm sido os “pesos-pesados” do Labour a dar a cara. Depois de Tony Blair, foi a vez do também ex-primeiro-ministro Gordon Brown pedir na segunda-feira ao Reino Unido para “liderar, e não abandonar”, a União Europeia. Tal como aconteceu nos últimos dias de campanha para o referendo escocês, o último primeiro-ministro trabalhista voltou a ser chamado para tentar agitar as águas da esquerda.
Na semana passada, Brown já tinha aparecido para fazer a defesa do projecto europeu num discurso que teve lugar em Coventry, nas ruínas da catedral arrasada pelos bombardeamentos da aviação nazi durante a II Guerra Mundial. “Durante mil anos ou mais, as nações da Europa estiveram em guerra. Em cada século, à excepção deste, as nações lutaram pela supremacia; em cada geração, excepto a nossa, as pessoas morriam e hoje estão em paz.”