Omar Mateen, um homem violento, irascível e "mentalmente perturbado"
Aos 29 anos, Omar Mateen trabalhava como segurança. Chegou a sonhar ser polícia. Em 2013 e 2014, foi investigado pelo FBI por possíveis ligações ao terrorismo. A ex-mulher descreve-o como “mentalmente perturbado”.
Nos últimos dias, o americano de origem afegã Omar Mateen terá levado uma vida aparentemente normal. Trabalhava como segurança e vivia com o filho menor (fruto de um segundo casamento), num modesto T2 na cidade de Fort Pierce, onde também frequentava o centro islâmico. O imã do centro diz que Omar se fazia muitas vezes acompanhar do pai e do filho nas orações, e que as três irmãs trabalhavam como voluntárias na mesquita.
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Nos últimos dias, o americano de origem afegã Omar Mateen terá levado uma vida aparentemente normal. Trabalhava como segurança e vivia com o filho menor (fruto de um segundo casamento), num modesto T2 na cidade de Fort Pierce, onde também frequentava o centro islâmico. O imã do centro diz que Omar se fazia muitas vezes acompanhar do pai e do filho nas orações, e que as três irmãs trabalhavam como voluntárias na mesquita.
“Ele era o mais calado, nunca falava com ninguém”, descreveu o imã Shafiq Rahman. “Vinha rezar e ia embora. Nada fazia prever que ele poderia fazer algo tão violento”, disse ao Washington Post. Na madrugada deste domingo protagonizou aquele que é o ataque a tiro mais mortífero da História dos Estados Unidos, matando 50 pessoas e ferindo 53. Momentos antes do ataque prestou juramento ao Estado Islâmico num telefonema feito para o 112. As ligações ao grupo terrorista não estão provadas, mas o ataque está a ser investigado pelas autoridades como um acto de terrorismo, seja doméstico ou internacional.
Omar Mateen nasceu em Nova Iorque, filho de um imigrante afegão que se mudou com a família para a Florida quando Omar nasceu. O pai, Seddique Mateen, teve entre 2012 e 2015 um canal no Youtube onde tecia comentários sobre a política afegã, expressando por vezes o seu apoio aos taliban. Ao longo de três anos procurou também marcar presença num canal satélite sediado nos EUA, o Payam-e-Afghan. O proprietário do canal diz que Seddique Mateen comprava ocasionalmente tempo de antena para exibir um programa chamado Durand Jirga. São frequentes os comentários políticos de Seddique na sua página de Facebook.
O pai associou o ataque do filho a um crime de ódio, depois de meses antes Omar ter visto dois homens gay beijarem-se em Miami: “Ele viu dois homens a beijarem-se em frente à sua mulher e filho e ficou muito zangado”, relatou o pai à NBC News.
Omar Mateen cresceu na Florida onde concluiu o liceu e passou pelo Indian River State College, onde obteve um diploma em justiça criminal em 2006. Trabalhava como segurança e tinha um fascínio pelas forças policiais, tendo em tempos expressado a amigos e à ex-mulher o desejo de se tornar polícia. Numa série de auto-retratos que publicou no MySpace, vê-se Omar com uma t-shirt da NYPD, a polícia de Nova Iorque.
Violência doméstica e investigações do FBI
Quando Sitora Yusifiy conheceu Omar Mateen pela Internet, achou-o um homem normal: “Preocupava-se com a família, tinha sentido de humor e gostava de se divertir”, relatou numa conferência de imprensa. Este domingo acordou com um telefonema dos pais: “Sitora, acorda. O teu ex-marido esteve envolvido num tiroteio em massa”. Sitora Yusifiy e Omar Mateen casaram-se em 2009. Poucos meses depois, a ex-mulher diz que começou a reparar na instabilidade emocional do marido, na sua bipolaridade: “Começaram os abusos físicos e ele não me deixava falar com a minha família”.
Separaram-se quatro meses depois, com Sitora a acusar o marido de violência doméstica e de a ter feito refém. “A minha família salvou-me. Na noite em que lá foram tiveram de me arrancar dos braços dele, deixei todos os meus bens, fiz queixa na polícia”, contou. Sitora descreve o ex-marido como “profundamente perturbado e traumatizado”. Alguém que facilmente perdia o controlo e tinha um passado de consumo de esteróides: "Envolvia-se em conflitos e discussões frequentes com os pais, mas a maior parte da violência era dirigida a mim, eu era a única pessoa na vida dele”.
Depois de concluído o processo de divórcio, em 2011, Sitora Yusifiy diz nunca mais ter tido contacto com Omar. Enquanto estiveram juntos, nunca se apercebeu de ligação a grupos terroristas. “Ele seguia a religião, era praticante e tinha a sua fé”, diz, mas assegura que nunca viu sinais de radicalismo. Um amigo de Omar Mateen, citado pelo Washignton Post, diz que depois do divórcio este se tornou mais próximo da religião e fez uma peregrinação à Arábia Saudita.
Omar esteve duas vezes no radar do FBI por suspeitas de ligações a terrorismo. Uma primeira sinalização em 2013, quando Omar fez comentários agressivos a colegas que sugeriam afinidade a grupos islâmicos. O FBI terá interrogado Omar por duas vezes, escreve o New York Times, mas depois de uma investigação que incluiu vigilância e entrevistas a testemunhas os agentes encerraram o caso: não conseguiram provar uma ligação a grupos terroristas.
Em 2014, Omar Mateen volta a chamar a atenção do FBI por ligações vagas e “mínimas” a Moner Mohammad Abu Salha, um residente na Florida que viajou até à Síria para se tornar bombista-suicida. Numa conferência de imprensa este domingo, Ronald Hopper, responsável local do FBI, esclareceu que “naquele momento ele não constituía uma ameaça substancial”.
Após as investigações, Omar continuou a trabalhar como segurança e manteve a licença de porte de arma. Poucas semanas antes do massacre na discoteca Pulse, em Orlando, comprou, legalmente, duas armas, incluindo uma espingarda semiautomática.
Os registos públicos da Florida confirmam que Omar possuía uma licença para porte de arma em público e uma licença de segurança, primeiro num centro para jovens delinquentes e desde 2007 numa das maiores empresas de segurança do país (que trabalha também para o governo federal), a G4S.
A empresa diz ter tido conhecimento das investigações levadas a cabo pelo FBI e recusou-se a fazer comentários sobre o desempenho e comportamento de Omar. Daniel Gilroy, um ex-colega de trabalho, revelou ao New York Times que chegou a queixar-se de Omar à empresa: “Ele falava constantemente em matar pessoas”, afirmou. “Ele estava sempre zangado, a suar, zangado com o mundo”. Depois Gilroy diz ter-se incompatibilizado com Omar, que lhe chegava a enviar 20 a 30 mensagens por dia. “Não fiquei chocado com o aconteceu”, conclui o ex-colega. "Eu sabia que isto ia acontecer".