Ogma aposta em novos mercados e atinge lucro recorde de 11,6 milhões

Fabricante de Alverca vai inaugurar hangar de pintura de oito milhões e inicia este ano a produção em série de componentes para o novo KC-390

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A Ogma tem hoje 1595 postos de trabalho e gera um volume de negócios de 188 milhões Rui Gaudêncio

Diversificar capacidades e conquistar novos mercados são as grandes apostas estratégicas da Ogma Indústria Aeronáutica de Portugal, que fechou o ano de 2015 com um lucro recorde de 11,6 milhões de euros. A empresa de Alverca não conseguiu evitar o impacto da crise económica que afecta vários países africanos e o mercado português já representa menos de 4% das suas encomendas, mas tem conseguido novos contratos importantes na Europa. Até final do ano, a Ogma inaugura um hangar de pintura onde investiu oito milhões de euros e inicia a produção em série de componentes para o novo KC-390.

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Diversificar capacidades e conquistar novos mercados são as grandes apostas estratégicas da Ogma Indústria Aeronáutica de Portugal, que fechou o ano de 2015 com um lucro recorde de 11,6 milhões de euros. A empresa de Alverca não conseguiu evitar o impacto da crise económica que afecta vários países africanos e o mercado português já representa menos de 4% das suas encomendas, mas tem conseguido novos contratos importantes na Europa. Até final do ano, a Ogma inaugura um hangar de pintura onde investiu oito milhões de euros e inicia a produção em série de componentes para o novo KC-390.

Com 1595 postos de trabalho e um volume de negócios de 188 milhões de euros (cresceu 13% em 2015), a Ogma é a maior indústria portuguesa do sector aeronáutico e o maior empregador do concelho de Vila Franca de Xira. Ocupa uma área de 44 hectares junto à cidade de Alverca e completa, no final deste mês, 98 anos de existência – nasceu a 29 de Junho de 1918 como Parque de Material Aeronáutico, passou dez anos depois a Oficinas Gerais de Material Aeronáutico e adoptou a actual designação em 1994.

“Se queremos manter os nossos actuais empregos e aumentar a empresa, temos de mudar muita coisa para nos adaptarmos ao mercado”, sustenta Rodrigo Rosa, presidente da comissão executiva da Ogma, em declarações ao PÚBLICO. O gestor brasileiro, de 40 anos, sublinha que a política da empresa está, sobretudo, centrada na diversificação, procurando paulatinamente reduzir a sua tradicional dependência da manutenção de aviões militares e dos serviços prestados à Força Aérea Portuguesa (FAP). Nesse sentido, Rodrigo Rosa faz um balanço francamente positivo dos 11 anos de gestão liderada pela Embraer, grupo brasileiro que, em 2005, adquiriu 65% do capital da Ogma – o Estado português mantém os restantes 35%.

Diversificar para sobreviver

Em 2015, a Indústria Aeronáutica de Portugal alcançou o seu melhor resultado de sempre, com lucros de 11,6 milhões de euros (mais 4,8 milhões do que no exercício anterior). O sector de fabrico de componentes já representa 30% dos negócios e é notória a diversificação do trabalho feito na área de manutenção, com o segmento dos aviões comerciais a crescer bastante. “A empresa tem procurado distanciar-se de realidades do passado. Há muitos anos, a Ogma dependia de uma só actividade e a FAP era, quase só ela, responsável por todo o negócio da empresa. Transitar para uma outra realidade é bom e saudável para a Ogma”, diz Rodrigo Rosa, frisando que sair da dependência de uma linha muito assente na manutenção de aviões militares foi outra questão determinante para “equilibrar o negócio”.

“A nossa estratégia tem sido muito no sentido de nos estruturarmos de forma a atacar outros mercados que compensem possíveis dificuldades. E temos tido sucesso noutros mercados onde grandes concorrentes já estavam estabelecidos. Capacitámo-nos para ir para outros mercados”, afiança o presidente da empresa.

Os resultados dessa estratégia reflectiram-se já nos últimos exercícios e o impacto das dificuldades que atravessam alguns países africanos como Angola foi, de certo modo, atenuado. “Se dependêssemos só de um mercado estaríamos mal. Percebemos que teríamos de diversificar para minimizar riscos”, observa Rodrigo Rosa, citando exemplos como o contrato com a Força Aérea Francesa (dez anos de manutenção de aviões) e os contratos recentemente estabelecidos na Suécia e na Holanda.

Motores decisivos

Curiosamente, o maior contributo para a melhoria dos resultados da Ogma até resultou, em certa medida, das dificuldades previstas pela britânica Rolls Royce, o maior cliente da empresa portuguesa na área da reparação de motores, que alertou, em 2014, para uma previsível quebra de encomendas. “O mais diferenciador foi mesmo a linha de negócios de motores. Saímos para o mercado para desenvolver outros negócios que compensassem, mas o volume de negócio da Rolls Royce acabou por ser melhor do que eles estimavam. A nossa iniciativa de ir ao mercado para trazer novos negócios também foi bem-sucedida e contribuiu muito positivamente para este resultado”, salienta.

Já na área do fabrico, a Ogma está envolvida desde início no projecto do KC-390, um novo avião da Embraer que pretende ocupar o espaço do antigo C-130. A empresa portuguesa investiu 34 milhões de euros no projecto e ficou responsável pelo fabrico da fuselagem. Já produziu componentes para dois protótipos e inicia, este ano, o fabrico em série. O processo tem ficado, todavia, aquém das expectativas iniciais e revelou-se mais lento do que previsto. Até ao momento, a encomenda de 28 aeronaves para a Força Aérea Brasileira (FAB) será o único contrato já firmado, mas a FAB também atravessa dificuldades financeiras e reprogramou (atrasou) as entregas.

Ainda este ano, a Ogma vai inaugurar um novo hangar vocacionado para a pintura de aviões, que utiliza as mais modernas tecnologias e equipamento robotizado. Um investimento de oito milhões de euros que Rodrigo Rosa acredita que vai abrir novas perspectivas. “Nos últimos anos, investimos uma média de dez milhões de euros por ano. Agora, passamos a ter também a capacidade de ter um negócio de pintura. Com essa capacidade, precisamos de desenvolver mercado nesta área”, conclui.