“Grande país só há um: Portugal”, diz Marcelo onde antes existiu a "Bidonville”
Presidente e primeiro-ministro garantem empenho aos emigrantes lesados do BES, mas estes prometem continuar a manifestar-se e apelam ao boicote de envio de remessas para Portugal.
Em pleno campeonato europeu de futebol em França, a frase do Presidente da República no segundo dia das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades na zona de Paris podia parecer uma metáfora futebolística, mas não era: “Sendo a França um grande país, porque é um grande país, verdadeiramente grande país só há um: é Portugal. Os melhores somos nós. A França é excepcional, mas nós somos muito melhores, mas muito melhores”.
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Em pleno campeonato europeu de futebol em França, a frase do Presidente da República no segundo dia das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades na zona de Paris podia parecer uma metáfora futebolística, mas não era: “Sendo a França um grande país, porque é um grande país, verdadeiramente grande país só há um: é Portugal. Os melhores somos nós. A França é excepcional, mas nós somos muito melhores, mas muito melhores”.
Foi em Champigny-sur-Marne, município vizinho de Paris, que, a partir da década de 60, os emigrantes portugueses construíram um bairro de lata a que chamaram “Bidonville”. Neste sábado, aquele chão - limpo desde 1972, quando o bairro foi abaixo -, foi palco para os chefes de Estado e de Governo de Portugal condecorarem três franceses e outros tantos portugueses que se destacaram na integração da comunidade lusa em França.
A começar pelo antigo maire comunista Louis Talamoni, que arriscou a sua reeleição na década de 60 pela sua acção em prol da melhoria das condições de vida naquele bairro de lata. Talamoni foi homenageado a título póstumo: o seu filho recebeu a comenda da Ordem do Mérito e o seu rosto foi eternizado em pedra por cima de uma pilha de livros sobrepostos que representam as milhares de histórias dos portugueses que ali viveram.
Perante centenas de emigrantes e lusodescendentes residentes em Champigny e Creteil – onde antes inaugurara a primeira rotunda com o nome de um português vivo, o empresário Armando Lopes -, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou a “odisseia” da vaga de emigração “a salto” do tempo da ditadura e de como esta ignorava essa realidade “mas equilibrava as finanças com as suas remessas”. E de como a democracia foi “lentamente” invertendo esse sentimento.
“Hoje não há distinção entre direita e esquerda em Portugal no reconhecimento e homenagem dos portugueses espalhados pelo mundo”, afirmou Marcelo, falando também em nome de António Costa, a seu lado: “Nós comprometemo-nos, na diversidade dos nossos pontos de vista, a trabalhar por um Portugal mais fraterno e mais justo”. Mas, ao segundo dia de programa conjunto, Marcelo não resistiu a uma piada ao primeiro-ministro. “Nós completamo-nos: eu sou hiperactivo, ele é hiper-optimista”. Era a versão actualizada do “optimismo irritante” com que o brindou há umas semanas, e que foi entendida como uma indirecta à confiança de Costa no cumprimento das metas orçamentais.
Aos emigrantes, o Presidente afirmou o seu empenho e o do Governo face aos “novos problemas” das comunidades, em especial a de França: o ensino da língua portuguesa, o reforço da participação política para que esta “se dê mais vezes e mais intensamente” e os “problemas financeiros e económicos daqueles que apostaram em instituições portuguesas e cujas poupanças desapareceram”. Uma referência aos emigrantes lesados do BES que ali se manifestavam, tal como na véspera tinham feito em Paris.
Antes, já António Costa se tinha dirigido a eles: “Perante o quadro de um banco que faliu, mas antes enganou milhares de portugueses, não podemos virar a cara e temos de fazer justiça à justiça que é devida”, disse. Mas remetendo a resolução do problema para outras instâncias: “Não compete ao Governo nem ao Presidente da República substituírem-se à justiça, mas sei que o Presidente da República acompanha o Governo na preocupação de criar os mecanismos de diálogo, de negociação, de arbitragem que permitam a todos os que foram lesados verem os seus direitos tão satisfeitos quanto possível”.
Nessa altura, Costa recebeu uma salva de palmas e palavras de agradecimento. Mas já no fim da cerimónia, quando Marcelo “puxou” o primeiro-ministro para o meio da multidão onde estavam os manifestantes, os ânimos exaltaram-se.
“Justiça, justiça”, “ajudem-nos, por favor”, gritavam os manifestantes aos ouvidos do Presidente e do primeiro-ministro, numa altura em que a mole humana avançava à força de empurrões, sem que a segurança a conseguisse controlar. Houve mesmo um momento em que um dos lesados, mais exaltado, gritava e gesticulava tão perto de Costa que se chegou a temer violência.
Não aconteceu, mas ficou a promessa de que os protestos vão continuar. Helena Batista, vice-presidente da Associação Movimento dos Emigrantes Lesados Portugueses (AMELP), afirmou ao PÚBLICO que serão distribuídos, este fim-de-semana, oito mil panfletos a apelar aos emigrantes para não enviarem as suas poupanças para Portugal. “Isto que estão a fazer hoje em Champigny é uma grande homenagem, mas muitas pessoas que estão aqui têm hoje as suas poupanças de uma vida confiscadas por uma entidade financeira portuguesa”, frisa, afirmando que estes lesados “preferem passar mais uns anos a protestar”.