Portugal aposta tudo no Europeu de todos os riscos
O pontapé de saída na mais vigiada competição desportiva realizada na Europa será dado esta noite por França e Roménia no Stade de France. A selecção nacional assume o objectivo de vencer a prova.
O mais democrático Campeonato da Europa de futebol de sempre será, com quase toda a certeza, aquele em que os aspectos extra-desportivos terão mais relevância desde que a UEFA, em 1960, organizou a primeira competição destinada exclusivamente a selecções do Velho Continente. Com um número recorde de países em competição – 24 das 54 federações reconhecidas pela UEFA vão marcar presença em França –, o Euro 2016 arranca esta noite no Stade de France sob a ameaça do terrorismo, de catástrofes naturais e com um clima social conturbado – são várias as greves previstas –, mas os responsáveis pela organização francesa, apesar de pedirem prudência, garantem que estão preparados.
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O mais democrático Campeonato da Europa de futebol de sempre será, com quase toda a certeza, aquele em que os aspectos extra-desportivos terão mais relevância desde que a UEFA, em 1960, organizou a primeira competição destinada exclusivamente a selecções do Velho Continente. Com um número recorde de países em competição – 24 das 54 federações reconhecidas pela UEFA vão marcar presença em França –, o Euro 2016 arranca esta noite no Stade de France sob a ameaça do terrorismo, de catástrofes naturais e com um clima social conturbado – são várias as greves previstas –, mas os responsáveis pela organização francesa, apesar de pedirem prudência, garantem que estão preparados.
Para milhões de adeptos espalhados pelos quatro cantos do Mundo, o França-Roménia de hoje será o arranque de uma apetecida maratona de mais de meia centena de jogos, mas para a UEFA e para a organização do Euro 2016, o duelo entre franceses e romenos em Saint-Denis marcará o início de um mês repleto de angústias. Após um mal-sucedido teste realizado há três semanas no Stade de France na final da Taça de França – foram várias as falhas de segurança –, os perto de 80 mil adeptos que vão assistir ao jogo de abertura do Euro 2016 serão as primeiras cobaias de um inédito controlo de entradas em estádios de futebol que, apesar de avisado, promete causar muitas dores de cabeça aos cerca de 2,5 milhões de adeptos que deverão assistir aos jogos nos 10 palcos distribuídos de Norte a Sul de França.
Hooliganismo: uma ameaça a juntar ao terrorismo
Embora o pontapé de saída do Euro 2016 apenas esteja marcado para hoje, ontem era já visível em redor de todo o Stade de France o sistema de “barreiras duplas” através do qual as forças de segurança pretendem implementar um controlo de entradas mais eficaz sem provocar um aumento do tempo de espera por parte dos adeptos para entrarem no estádio. Esse objectivo parece, no entanto, pouco realista e Michel Rongier, segurança de uma das empresas privadas que terão a responsabilidade de zelar pela bem-estar dos adeptos, admitia ao PÚBLICO que “uma hora é o tempo de espera expectável” para que se consiga ultrapassar todos os controlos de entrada no Stade de France durante um jogo no Euro 2016. Apesar de receoso – “é impossível prever o comportamento de um lunático” –, Rongier diz estar convicto de que a França, “apesar de todos os riscos”, vai “vencer esta batalha”. “Não podemos desistir, nem podemos deixar de viver. O Euro vai ser um sucesso e essa será a maior derrota dos terroristas.”
Portugal ambicioso
Embora os aspectos extra-desportivos acabem por condicionar a preparação para os jogos das 24 equipas nacionais – os locais de estágios serão autênticos bunkers ao longo da prova –, todas as selecções já se encontraram em território francês. A última equipa comitiva a aterrar em França foi a portuguesa e Fernando Santos não esconde que o objectivo é permanecer no centro de estágio em Marcoussis, pequena vila no Sul de Paris, até dia 11 de Julho, o dia seguinte à final do Euro 2016. Com um currículo de respeito nas últimas quatro participações no torneio - atingiu uma final (2004) e duas meias-finais (2000 e 2012) -, Portugal partiu para a competição com muita ambição no discurso, algo pouco habitual na principal selecção portuguesa. Depois de o seleccionador nacional lançar o mote ao dizer que Portugal “é candidato” a vencer o Euro, todos os jogadores, com palavras mais ou menos politicamente correctas, afinaram pelo mesmo discurso e embora seja consensual que a anfitriã França, a detentora do título Espanha e a Alemanha partem com favoritismo, Portugal tem trunfos para que a 10 de Julho Cristiano Ronaldo levante na tribuna de honra do Stade de France o troféu.
Apesar de Fernando Santos ter pedido “calminha” após a goleada da passada quarta-feira contra a Estónia, o robusto triunfo por 7-0 na véspera da partida para França deixou claro que o seleccionador nacional tem à sua disposição um grupo com muitas opções de qualidade. Se a 23 de Maio, altura em que arrancou a preparação portuguesa na Cidade do Futebol, parecia claro que havia um “onze-tipo”, duas semanas depois as opções iniciais de Fernando Santos para o primeiro jogo de Portugal, contra a Islândia, já não parecem tão óbvias. Os três jogos de preparação da selecção nacional foram muito bem aproveitados por jogadores como Raphael Guerreiro, Danilo e Ricardo Quaresma, colocando boas dores de cabeça ao seleccionador nacional e a previsível titularidade de Eliseu, William Carvalho e Nani em sério risco.
Para que as legítimas ambições nacionais se concretizem será necessário, no entanto, ultrapassar todos os obstáculos que surgirão pela frente de Cristiano Ronaldo e companhia, sendo que o mais temido parece ser a França. Trinta e dois anos depois de vencerem o Euro 84, onde afastaram Portugal nas meias-finais, e 18 anos após ganharem pela primeira vez um Campeonato do Mundo, os gauleses voltam a vestir o papel de anfitriões. As controversas ausências de jogadores como Benzema (motivos disciplinares) ou Ben Arfa (opção de Didier Deschamps) e as várias baixas no sector defensivo por lesão podem, porém, ser um forte aliado para a concorrência. Já sem o peso (e a força) da máquina do Barcelona, a Espanha parece menos consistente do que em anos anteriores e terá sob sido o peso do fracasso de há dois anos no Mundial do Brasil, onde não passou da fase de grupos. Com mais ou menos estrelas, a Alemanha é sempre a Alemanha e é preciso não esquecer a Inglaterra. Com menos “vedetas” e mais “jogadores” do que em competições anteriores, os ingleses terão que ser levados muito a sério.
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