O pesadelo tricolor de um fanático
Um outro olhar sobre os Europeus de futebol.
Cartões de sócio, lugares cativos, equipamentos, fatos-de-treino, ténis, cachecóis, bandeiras, galhardetes, chapéus, gorros, cartazes, cadernetas, autocolantes, pinturas faciais, tatuagens, crachás, isqueiros, cinzeiros, porta-chaves, carteiras, relógios, garrafas de uísque, de cerveja, canecas, ornatos e berloques vários – em metal, cerâmica, vidro, madeira, pedra: vale tudo.
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Cartões de sócio, lugares cativos, equipamentos, fatos-de-treino, ténis, cachecóis, bandeiras, galhardetes, chapéus, gorros, cartazes, cadernetas, autocolantes, pinturas faciais, tatuagens, crachás, isqueiros, cinzeiros, porta-chaves, carteiras, relógios, garrafas de uísque, de cerveja, canecas, ornatos e berloques vários – em metal, cerâmica, vidro, madeira, pedra: vale tudo.
Um fanático enfeitado é fácil de identificar. Havendo tempo, espaço de manobra e sagacidade, é um tipo de adepto que se consegue evitar sem problema. Surgindo em grupos barulhentos, a entoar cânticos arrepiantes (de bons num estádio cheio; de maus no meio da rua a uma segunda-feira), mais nos ajudam a chispar.
Há, contudo, tipos de fanáticos menos evidentes: o polido senhor que se desunha em insultos ao árbitro; a respeitável senhora que lança estridentes piropos aos jogadores; o optimista à beira de um ataque de nervos (muito comum); o pessimista irritante; o treinador de bancada; o atleta de bancada; o sabichão cujas curiosidades já ninguém suporta; e por aí fora.
Interessa-me um tipo de fanático em particular: o negacionista. Uma curiosa subespécie que, segundo as estatísticas oficiais, vive num delírio sem trégua – mas que se recusa a reconhecer o sistema que tolhe o olhar ao resto do mundo, que impede os adeptos de estabelecer contacto com a verdade e escreve a História oficial. Uma subespécie da qual admito fazer parte.
Exemplo de um ignoto facto é o penálti marcado contra a selecção nas meias-finais do Euro 2000. É claríssimo que Abel Xavier não toca com a mão na bola. Mantenho-o, 16 anos depois. Abel Xavier ainda tentou contornar o sistema por dentro, dizendo, sem se aventurar numa afronta directa, que foi a bola que tocou na mão. No fundo, ambos sabemos que foi no peito e que a final de Roterdão era para ser ganha por nós, os portugueses, e não pelos franceses.
É disto que estou a falar. Não era penálti. Não era. Tal como aquele lance com o Ricardo Carvalho em 2006. Lembram-se com certeza: foi contra a França. Nem lhe toca. Zidane aproveita a oferta e afasta-nos. Em 1984, também perdemos com os franceses. Em 1998, ganharam os franceses o Mundial porque não nos deixaram sequer competir. Era nosso!
Com a França de novo no caminho, ouço um silvo desde que a selecção por lá aterrou. Não sei se é da minha cabeça, se toda a gente o ouve. Se é do conflito de realidades, se a História se submete finalmente à minha vontade.