Há uma biblioteca de orgasmos reais que está à espera dos teus
Marca de erotismo Bijoux Indiscrets criou uma biblioteca online com sons de orgasmos reais que aceita doações. É uma forma de dar voz à diversidade do prazer feminino e mostrar que a realidade está muito longe dos filmes pornográficos
É uma biblioteca, como tantas outras. Mas de orgasmos reais, como nenhuma. Neste site, lançado pela empresa de produtos eróticos Bijoux Indiscrets, as mulheres são convidadas a gravar e partilhar, de forma anónima, o som do seu clímax. Para dar voz à diversidade do prazer feminino e mostrar que os gemidos e gritos característicos dos filmes pornográficos são, grande parte das vezes, mera ficção e que não devem por isso condicionar a vida sexual de ninguém.
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É uma biblioteca, como tantas outras. Mas de orgasmos reais, como nenhuma. Neste site, lançado pela empresa de produtos eróticos Bijoux Indiscrets, as mulheres são convidadas a gravar e partilhar, de forma anónima, o som do seu clímax. Para dar voz à diversidade do prazer feminino e mostrar que os gemidos e gritos característicos dos filmes pornográficos são, grande parte das vezes, mera ficção e que não devem por isso condicionar a vida sexual de ninguém.
A base desta biblioteca de sons de orgasmos foi o relatório “Ficção vs. Realidade no sexo”, encomendado pela marca espanhola a uma empresa de estudos de mercado. Tudo porque, ao longo dos dez anos de existência da Bijoux Indiscrets, as criadoras foram-se apercebendo de uma grande falta de informação em relação à sexualidade, que terá atingido o seu auge com o lançamento do discreto vibrador em forma de diamante, o Twenty One. “Muita gente perguntava: O que é isto? Como fuciona? E, o eventual, mas onde é que se mete?”, conta ao P3 Elsa Viegas, portuguesa que lidera a empresa ao lado de Marta Aguiar.
O estudo abordaria, então, os “mitos e crenças à volta da sexualidade e do prazer”, explica a empresária de 39 anos. Foram conduzidos quase 1500 questionários online a homens e mulheres, entre os 18 e os 55 anos de idade, de várias partes de Espanha. E as conclusões foram sintomáticas: mais de metade consideravam que os filmes pornográficos e românticos davam uma visão ficcionada do sexo; 52 % das mulheres e 21% dos homens já tinham fingido um orgasmo; e quase metade delas e um terço deles consideravam que gemer ou gritar era um indicador de bom sexo. Os resultados completos, que dão pano para mangas, estão aqui (em pdf).
“Tendo em conta a informação que se encontra nos filmes pornográficos, as pessoas criam um personagem fictício: é assim que devo soar, é assim que devo ser”, comenta Elsa, para quem o dado mais preocupante foi o facto de tantos inquiridos já terem fingido um orgasmo (“Mas para quê fingir? Deviam estar a desfrutar”). “Pressupõe-se”, diz, “que se deve gritar, que só assim há prazer. Que se há prazer, tem de haver ruído e o orgasmo. Há uma pressão para chegar ao fim sem entender o percurso”.
"Não há dois orgasmos iguais"
Numa tentativa de derrubar todas estas crenças, a Bijoux Indiscrets aliou-se à agência Proximity Madrid para lançar então esta biblioteca de orgasmos, para já disponível em espanhol e inglês, brevemente também em francês. “Vamos mostrar que o som real tem tantos ruídos e expressões como pessoas. Não há duas pessoas iguais, tal como não há dois orgasmos iguais.”
O público-alvo, tal como o da própria marca, são as mulheres (“mas os homens também são bem-vindos”) que podem então fazer “upload” da gravação de uma “petite mort” de forma totalmente anónima. Por cada orgasmo é também criada uma representação gráfica, artística q.b., que Elsa gostava um dia de reunir numa exposição e, talvez, assim detectar diferenças geográficas e culturais. Até agora já foram doados 250 áudios, sendo que os 30 iniciais pertenciam a pessoas próximas da marca e os primeiros 100 foram ouvidos mais de 110 mil vezes. Mas, dizemos nós, os números não devem ficar por aqui: o vídeo de apresentação (à esquerda, com, obviamente, uns quantos sons “nsfw”), por exemplo, conta com mais de 230 mil visualizações. E a "hashtag" #OrgasmosReales também anda por aí.
“Ultrapassou qualquer previsão”, considera Elsa, até porque o processo de submissão pressupõe algum “esforço”, entre gravar, fazer “upload”, colocar "tags", escrever o título, para além de atingir o próprio orgasmo. Missão cumprida? Sim. “Conseguimos pôr as pessoas a falar deste tema e a ver de que realmente não há uma, há imensas formas de prazer." Navegar pelo site e carregar no “play” mostra-o — é quase como espreitar pela fechadura de um quarto com a porta entreaberta. Para além de etiquetas bem directas à maneira, há títulos para todos os gostos: “two in a row”, “say my name!”, “fun threesome”, “lesbian lovemaking simultaneous crescendo”, “the big bang”, “cerdita viciosa”.